Encontro entre Poroshenko, Putin, Merkel e Hollande busca uma solução para o conflito no leste ucraniano, onde rebeldes separatistas lutam contra forças do governo de Kiev.
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A reunião de cúpula para tentar alcançar a paz no leste da Ucrânia começou no início da noite desta quarta-feira (11/02), em Minsk, com a presença dos líderes da Ucrânia, da Rússia, da Alemanha e da França.
O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, o chefe do Kremlin, Vladimir Putin, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e o chefe de Estado francês, Fançois Hollande, começaram a reunião sem a presença de conselheiros, para realizar consultas informais. Em seguida, os líderes sentaram-se acompanhados dos respectivos ministros do Exterior e dos demais membros das delegações oficiais.
Putin foi o último a chegar ao Palácio da Independência, tendo apertado a mão dos seus interlocutores, incluindo a do presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, anfitrião do encontro. O aperto de mão entre os líderes russo e ucraniano foi particularmente frio, segundo imagens mostradas na televisão.
Pouco antes do início do encontro, Poroshenko reuniu-se com os dois líderes europeus autores da iniciativa de paz, que tenta evitar novo acirramento do conflito que já matou milhares de pessoas.
O líder ucraniano, ao reunir-se com Lukashenko, advertiu que, caso a cúpula fracasse, a situação no leste da Ucrânia será "praticamente irreparável". Antes de se deslocar a Minsk, durante uma reunião do governo, Poroshenko já alertara que Kiev imporá a lei marcial em todo o território nacional "se as ações vergonhosas do agressor conduzirem a uma nova escalada do conflito".
O presidente da Ucrânia acusou os rebeldes de, na terça-feira, terem atacado com mísseis a cidade de Kramatorsk, sede do Estado-Maior das forças governamentais, causando a morte de 16 pessoas, entre civis e militares.
Se as negociações não avançarem, novas sanções da União Europeia (UE) estão previstas, e os Estados Unidos podem decidir fornecer armas aos militares ucranianos.
Na véspera do encontro na capital de Belarus, tanto Washington quanto Moscou afirmaram ter havido uma conversa telefônica entre Putin e o presidente Barack Obama.
De acordo com Washington, Obama "sublinhou a importância de Putin aproveitar a oportunidade das discussões em curso entre Rússia, França, Alemanha e Ucrânia para alcançar uma resolução pacífica". Obama advertiu que, se a Rússia levar adiante seus "atos agressivos" na Ucrânia, os "custos" para Moscou ficariam mais altos.
O Kremlin, por sua vez, disse que os dois líderes concordaram sobre a necessidade de uma solução política para o conflito "interno" ucraniano.
Negociadores da Ucrânia, e representantes dos separatistas do leste do país, da Rússia e da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) reuniram-se durante cerca de duas horas em Minsk nesta terça-feira. O encontro resultou em poucos avanços.
Aumenta número de deslocados na Ucrânia
Enquanto as negociações desta terça tinham curso em Belarus, combates intensos tiveram lugar no leste da Ucrânia. Houve relatos de confrontos em Mariupol, Kramatorsk e Debaltseve. Sete soldados ucranianos, sete separatistas e 23 civis morreram.
Também nesta terça-feira, o ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, apelou a todos os envolvidos para que ajam com contenção enquanto os diplomatas trabalham. "Não seria a primeira vez que um ato de sabotagem política destrói todas as esperanças de um cessar-fogo", disse. "Por isso, espero que nenhuma parte do conflito conduza as coisas a um ponto em que uma explosão da violência coloque [as negociações em] Minsk em questão."
Hollande, que surpreendentemente viajou ao Kremlin com Merkel na semana passada, manifestou "forte desejo" de chegar a um acordo de paz. "Eu e a chanceler atuaremos até o último momento deste encontro [em Minsk], de modo que haja um acordo", disse.
Em meio às negociações sobre o conflito ucraniano, Merkel também viajou aos EUA e ao Canadá na última semana. Em Washington e em Ottawa, ela apelou por uma solução diplomática, questionando a possibilidade de uma solução militar e o fato de os EUA estarem considerando fornecer armas aos militares ucranianos.
Cronologia do conflito na Ucrânia
Um conflito político interno levou Moscou e Ocidente ao período de maior hostilidade em mais de duas décadas. As inquietantes memórias da Guerra Fria retornaram ao noticiário internacional com a crise no leste ucraniano.
Foto: AFP/Getty Images/S. Supinsky
Milhares nas ruas em Kiev
A partir de 21 de novembro de 2013, uma onda de manifestações exigindo a renúncia do presidente Viktor Yanukovytch tomou conta de Kiev. Ao ceder à pressão de Moscou e rejeitar acordo de associação com a União Europeia (UE), Yanukovytch enfrentou a ira da população. Eram os maiores protestos desde a chamada "Revolução Laranja", de 2004. Moscou disse que protestos queriam abalar um governo legítimo
Foto: Getty Images/Afp/Genya Savilov
Repressão gera mais revolta
Yanukovytch se abriu ao diálogo com a oposição. Mesmo assim, a violência policial durante a repressão ao movimento prevaleceu. As unidades "Berkut", conhecidas pela brutalidade, atuaram contra os manifestantes na Praça da Independência e nos bloqueios às sedes do governo em Kiev. Opositores e jornalistas alegavam ser atacados, assediados e perseguidos pelo governo.
Foto: picture-alliance/dpa/Maxim
Banho de sangue em Kiev
Durante quase três meses de manifestações, dezenas de pessoas foram mortas devido à repressão policial. Um dos símbolos dos momentos mais dramáticos na “Maidan", Praça da Independência em Kiev, foi o Hotel Ucrânia, que serviu de hospital, necrotério e base da imprensa. Funcionários contam que, no ápice da violência, corpos se amontoavam no lobby.
Foto: DW/A. Sawitzkiy
A queda de Yanukovytch
No fim de fevereiro, o presidente Yanukovytch fugiu para a Rússia, acusando o Ocidente de alimentar os protestos. Para ele, o acordo alcançado com a oposição não foi cumprido. O pacto definia eleições presidenciais em 25 de maio de 2014 – consideradas por ele ilegítimas - a convocação de um governo de coalizão, a diminuição do poder do presidente e o aumento da influência do Legislativo.
Foto: Reuters
Aumenta tensão militar
Após avanço de militantes com armamento russo no leste da Ucrânia, Kiev acusou Moscou de conduzir uma "guerra". A Rússia começou então, em março de 2014, a tomar bases militares na Crimeia. A Ucrânia preparou a retirada de seus cidadãos da península e disse que autoridades do governo não puderam entrar no território. O Ocidente começava aumentar a pressão sobre Moscou com sanções.
Foto: AFP/Getty Images
Crimeia é anexada
Em referendo realizado em 16 de março de 2014, 96,6% dos eleitores da península ucraniana da Crimeia optaram por integrar a Federação Russa. A participação foi estimada em 82,71%. O Parlamento da Crimeia declarou a independência e pediu a adesão à Rússia. No dia 20 de março, a Duma (câmara baixa do Parlamento russo) ratificou o tratado para incorporação da Crimeia ao país.
Foto: Reuters
República Popular de Donetsk
Em abril de 2014, os separatistas proclamaram a República Popular de Donetsk e ampliaram o domínio sobre o leste do país, ocupando Horlivka. O líder separatista ucraniano Vyacheslav Ponomaryov rejeitou negociações sobre a libertação de sete inspetores da OSCE enquanto vigorassem as sanções da União Europeia contra personalidades públicas russas e ucranianas.
Foto: Reuters
Leste busca anexação à Rússia
Depois de um controverso “referendo”, líderes de Donetsk e Lugansk passaram a buscar a integração ao território russo. No dia 12 de maio, as duas regiões declararam independência. Insurgentes pediram que Moscou anexasse as regiões, mas o governo de Putin se distanciou da ideia. Pró-russos ignoraram acordo para paz e não entregaram armas.
Foto: Reuters
Novo presidente na Ucrânia
Em 25 de maio, o magnata Petro Poroshenko venceu as eleições presidenciais ucranianas já no primeiro turno, com cerca de 55% dos votos. Kiev anunciou intensificação dos combates até “aniquilar" as forças separatistas e recuperar o aeroporto de Donetsk, em um confronto que deixou 40 mortos. A Rússia exigiu cessar-fogo e acusou o país vizinho de usar as Forças Armadas contra a própria população.
Foto: MYKOLA LAZARENKO/AFP/Getty Images
A queda do MH17
Um avião da Malaysia Airlines, que partiu de Amsterdã com destino a Kuala Lumpur, foi alvejado por separatistas pró-Rússia no dia 17 de julho de 2014. No voo MH17 havia 280 passageiros e 15 tripulantes. A maior parte era de nacionalidade holandesa. Dez dias depois, peritos ainda não tinham acesso aos destroços do avião devido aos combates.
Foto: Reuters/Maxim Zmeyev
Kiev pede ajuda aos EUA
Em setembro, o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko (esq.), pediu aos Estados Unidos apoio militar para combater os separatistas pró-russos. Num discurso na Casa Branca, em Washington, ele afirmou que a Rússia é uma ameaça à segurança mundial. "Se eles não forem contidos agora, vão atravessar as fronteiras da Europa e espalhar seu domínio pelo globo", afirmou.
Foto: picture-alliance/TASS/Ukrainian presidential press service
Leste empossa líder pró-Moscou
Em novembro, o chefe interino da chamada República Popular de Donetsk, Alexander Zakharchenko, venceu por ampla maioria as eleições na região rebelde. Lideranças políticas e militares ignoraram que Kiev e grande parte do Ocidente não reconheciam a votação. Kiev acusou a Rússia de estar movimentando tropas e enviando equipamentos às regiões separatistas do Leste.
Foto: Alexander Khudoteply/AFP/Getty Images
Negociações em Minsk
No fim de 2014, o número de deslocados internos chegaram a 460 mil segundo a ONU. Após seis meses de acordos de cessar-fogo violados, i governo da Ucrânia e rebeldes separatistas retomaram negociações de paz em 24 de dezembro de 2014 em Minsk, capital de Belarus. Além do cessar-fogo duradouro, estiveram em pauta a retirada de armas pesadas, a ajuda humanitária e a troca de prisioneiros.
Foto: picture-alliance/dpa
Acumulando fracassos
No início de fevereiro de 2015, confrontos entre as tropas do governo da Ucrânia e separatistas pró-russos intensificaram-se em Donetsk, Lugansk e Debaltseve, na sequência do fracasso das negociações de um cessar-fogo para a região. Debaltseve, sob controle de Kiev, interliga por via ferroviária Donetsk e Lugansk, ocupadas pelos rebeldes.
Foto: Getty Images/AFP/A. Boiko
Novo esforço diplomático
A chanceler federal alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande, fizeram em fevereiro uma viagem surpresa a Kiev e Moscou antes da Conferência de Munique, em um novo esforço diplomático. Eles levaram uma proposta baseada no respeito à integridade territorial da Ucrânia. Novos números do conflito foram divulgados: mais de 5.100 mortos e 900 mil deslocados desde abril de 2014.
Foto: Leon Neal/AFP/Getty Images
Longas negociações levam ao cessar-fogo
Depois de horas de negociação em Minsk, chefes de governo da Ucrânia, Rússia, Alemanha e França, além de líderes separatistas, chegaram a um acordo sobre o cessar-fogo no leste da Ucrânia. Foi definida a retirada das armas pesadas da linha de frente dos combates. A Europa aumentou os esforços para a paz especialmente depois de os EUA avaliarem a possibilidade de enviar armas e munição à Ucrânia.