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Entrevista

Jana Schäfer (gh)11 de maio de 2007

Cacau é a revelação da atual da temporada da Bundesliga. Depois de derrubar o Bayern de Munique com dois gols na 30ª rodada, ele virou estrela e deu ao Stuttgart a esperança de poder ganhar dois títulos este ano.

Cacau derrubou o Bayern e virou ídolo do StuttgartFoto: AP

Oriundo do Nacional Atlético Clube (SP) e há sete anos no futebol alemão, depois de passar pelo clube turco Türk Gücü (Quinta Divisão) e pelo Nürnberg, Cacau deslanchou de vez no Stuttgart e se encontra na lista dos artilheiros do Campeonato Alemão, com 12 gols.

Já classificado para a final da Copa da Alemanha, o Stuttgart ocupa a vice-liderança do Campeonato Alemão (um ponto atrás do líder Schalke) e tem chances de ganhar os dois títulos da temporada. A DW-TV falou com o atacante brasileiro.

DW-TV: Aqui em Stuttgart, durante muito tempo vocês não quiseram discutir sobre o título, mas agora a maioria dos torcedores já acredita que vocês serão campeões. Vocês agora têm de aceitar o papel de favoritos?

Cacau: O de favoritos, não, porque não ocupamos o primeiro lugar na tabela. Não depende de nós quem será campeão. Mas temos de dar tudo para vencer os dois últimos jogos. Seria bonito se ganhássemos o título. Caso não, também não há problema. Jogamos uma ótima temporada. Por isso, acredito que já somos os vencedores da temporada.

E você reza antes de cada jogo?

Sim, isso é verdade. Não só antes de cada jogo, mas todos os dias. Isso também faz parte da minha vida.

Você também reza para que seu time ganhe o jogo?

Já fiz isso, mas, no fim das contas, rezo para que seja feita a vontade de Deus.

Se você reza aqui em Stuttgart para vencer, seu amigo Marcelo Bordon reza pela vitória do Schalke e talvez Diego, pela vitória do Bremen. O que vai acontecer?

Deus fará o melhor disso. Não é decisivo que ganhemos, mas sim que aconteça a vontade divina. É por isso que eu rezo, e penso que o Marcelo também reza assim, e se o Diego ora, ele faz o mesmo. Com Deus sempre somos vencedores, mesmo que não ganhemos em campo.

Foi uma surpresa para você, quando chegou à Alemanha, ver que aqui a Igreja e a fé têm bem menos importância do que no Brasil?

Notei uma diferença muito grande. No começo, pensei que estava num outro mundo, que isso não poderia existir. Comecei jogando na Quinta Divisão, não dominava o idioma e não conhecia a cultura... Foi um tempo muito difícil.

Mas que a fé não tenha tanta importância aqui me deixa triste. Porque Deus é um bom amigo. Perde-se algo quando não se conhece Ele. Mas uma parte das minhas dificuldades foram outras coisas: era o inverno, muito frio, o idioma dificílimo. Foi um tempo muito duro.

Você disse certa vez que ficou perplexo ao encontrar jogadores que não queriam necessariamente subir na profissão, que não tinham vontade de jogar bem e vencer...

É verdade. No Brasil, mesmo que se atue numa equipe pequena, na liga regional ou algo semelhante, faz-se de tudo para sempre melhorar. Não foi essa a sensação que eu tive aqui. Penso que isso é assim porque aqui se vive muito bem, não é necessário dar tudo de si. Muitos jogavam, depois da partida bebiam muito e iam embora... Então me perguntei: onde estão os bons jogadores na Alemanha? Eu não sabia que existem bons jogadores alemães na Alemanha.

Cresci numa família com dois irmãos. Minha mãe trabalhava de faxineira, ganhava alguns trocados. E isso era tudo. Não tínhamos roupas boas... Pode-se dize que éramos a família mais pobre do povoado.

Houve um momento em que você não jogou tão bem no Stuttgart. E houve ofertas de outros clubes, mas você disse que não queria virar mercadoria.

Sim, essa era a minha situação e o clube não me queria mais. Porque houve especulações de que Cacau se transferiria para este ou aquele clube, fui empurrado para cá e para lá. Eu quis dizer algo sobre isso. Porque se você não diz nada, não é mais levado a sério. Faço tudo pelo meu clube. Então eu quero ser tratado como gente, e esse é o caso agora.

Quem é a alma do clube?

Técnico Armin Veh: 'a alma do Stuttgart'Foto: AP

Para mim é o treinador [Armin Veh]. É um treinador muito simples, que nos ajudou a ficar com os pés no chão.

E ele disse que você agora joga mais pela equipe ...

Sim, isso pode ser. Porque agora, com 26 anos, já tenho alguma experiência. Tento jogar também para a equipe. Quando é possível, faço a jogada sozinho. Quando não, olho para ver se um outro jogador está melhor posicionado. Penso que os grandes jogadores também jogam assim, por isso eles chegaram lá em cima. Para mim foi uma questão de tempo até mudar isso. E estou feliz por ter jogado assim nesta temporada.

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