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Esporte

Cacau: "Tenho cidadania alemã, mas sigo sendo brasileiro"

Caroline Eidt15 de fevereiro de 2009

Apesar da dificuldade inicial com o idioma, o jogador Cacau diz ter superado obstáculos de integração. Ele obteve a cidadania alemã após viver nove anos na Alemanha.

Cacau e colegas do Stuttgart comemoram o título alemão em 2007Foto: AP

No início de fevereiro, o atacante Cacau, do Stuttgart, obteve a cidadania alemã, após completar nove anos no país. Ele é mais um entre vários brasileiros que buscam a integração na sociedade alemã.

Na Alemanha vivem mais de 15 milhões de pessoas com histórico de migração, muitas delas provenientes do Brasil. Entretanto, ainda não há um estudo no qual tenha sido analisada a integração da comunidade brasileira na Alemanha.

À Deutsche Welle, Cacau, ou Claudemir Jerônimo Barreto, de 27 anos, disse que a família pesou na sua decisão. "Meus filhos são o principal motivo. Foi por causa deles, pensando que depois eles poderão ter a oportunidade de viver, estudar e construir uma vida aqui, que quis fazer a cidadania."

Mas a nova cidadania não significa uma recusa das origens brasileiras, afirmou o atacante. "Não é porque recebi a cidadania alemã que virei as costas para o meu país, de jeito algum", disse Cacau em entrevista exclusiva.

Deutsche Welle: No início deste mês, você se tornou, oficialmente, cidadão alemão. O que o motivou a buscar a cidadania?

Cacau: Foi importante para dar continuidade ao trabalho que já vinha sendo feito. Estou há nove anos aqui. No começo, não esperava ficar tanto tempo, mas como estão gostando do meu trabalho, isso deixa a gente bem. Estou contribuindo para o time se desenvolver.

Cacau: 'Aprender a cultura, o idioma e respeitar as pessoas, sem trazer o Brasil para dentro da Alemanha'Foto: AP

A família também teve importância nessa decisão. Minha esposa é brasileira e meus filhos nasceram aqui. Na verdade, eles são o principal motivo para que eu quisesse buscar a cidadania. Foi por causa deles, pensando que depois eles poderão ter a oportunidade de viver, estudar e construir uma vida aqui, que quis fazer a cidadania.

Por que você não havia pensado em ficar tanto tempo na Alemanha?

Em junho de 1999, fiz dois meses de testes e passei [no Türk Gücü, clube de Munique que disputava a quinta divisão do Campeonato Alemão]. Em março de 2000 vim definitivamente.

Queria receber uma chance aqui, mas que tudo isso viraria nove anos eu não imaginava, porque para ficar tanto tempo em um país você tem que gostar, contar com o apoio da família e mostrar um bom trabalho, principalmente no futebol, onde as mudanças são rápidas.

Do que você aprendeu a gostar na Alemanha?

Eu gosto da organização, da pontualidade e de como tudo é funcional. Isso em todas as áreas, tanto na saúde quanto na educação, que é uma parte com que eu e a minha esposa temos nos preocupado bastante nos últimos meses, já que minha filha completará três anos e vai para a pré-escola. Tudo isso aqui é superorganizado.

O teste de 33 questões sobre aspectos políticos, sociais, geográficos e históricos da Alemanha o assustou?

Na verdade, fiquei bem preocupado porque quando dei a entrada nos papéis ainda não era necessário fazer a prova. Como não consegui entregar toda a documentação antes de setembro, eu precisei fazê-la.

Fiquei bem bravo, para ser sincero, porque tinha que estudar tudo e todo mundo falava que é muito difícil. Então comecei a me preparar.

Acessei as perguntas na internet e vi que, na verdade, muita coisa a gente já sabe e outras não são difíceis de aprender. Como eu estudei bastante, fiquei tranquilo na hora de fazer a prova. Das 33 perguntas sorteadas tive que acertar, pelo menos, 17.

Não é algo impossível e o exame foi mais fácil do que eu imaginava e do que me falaram. Sabendo alemão e entendendo as perguntas, fica fácil responder (risos).

Durante esses nove anos na Alemanha, você chegou a fazer algum curso para aprender o idioma?

Na verdade não. Aprendi no dia-a-dia. Quando cheguei aqui, havia um rapaz que me ajudava bastante, o Osmar Oliveira [primo de Mauro Correia, treinador de Cacau no Brasil]. A primeira coisa que ele me falou, em 2000, foi: "Você tem que aprender o idioma".

Fiquei com isso na cabeça. Então comprei livros, CDs, fiz exercícios e o que aprendia já punha em prática. Não tinha alguém para me ajudar a traduzir. Eu precisava treinar e como sou um pouquinho perfeccionista queria aprender tudo certo. Não acho legal ficar falando errado.

É importante falar e falar bem para as pessoas te entenderem e te respeitarem. Na época não tinha condições de pagar um curso, então adiei e depois não tive mais tempo.

Depois de tantos anos no país e agora, com a cidadania, você se sente um "verdadeiro alemão"?

Não, não é para tanto (risos). Na verdade eu me adaptei bastante à cultura, ao estilo de vida, mas eu continuo sendo brasileiro. Isso é importante, eu nasci no Brasil! Não é porque recebi a cidadania alemã que virei as costas para o meu país, de jeito algum. Tentei juntar o lado bom dos brasileiros e o dos alemães.

E como você vê a integração de brasileiros na Alemanha?

Tenho contato com vários brasileiros e já presenciei dois extremos: existem aqueles que não querem mais saber do Brasil, passam a se interessar apenas pela Alemanha e se relacionam somente com alemães. Há, ainda, o caso de brasileiros que moram na Alemanha, mas só conversam com brasileiros e não têm interesse em aprender o idioma ou vivenciar a cultura. Eu vejo os dois comportamentos como errados.

Aqui na Alemanha também conheci pessoas que não viraram as costas para o Brasil, tentaram se integrar ao novo país, aprender o idioma, participar da cultura e conviver com os alemães. Na verdade, a maioria das pessoas que conheço é assim.

Esse equilíbrio é importante para a integração. Queira ou não, somos estrangeiros aqui e sempre seremos. A gente tem que trazer um pouco dessa alegria e dessa espontaneidade dos brasileiros para cá. Precisamos aprender a cultura, o idioma e respeitar as pessoas como elas são sem querer trazer o Brasil para dentro da Alemanha.

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