Cacique Raoni viaja à Europa para defender a Amazônia
13 de maio de 2019
Conhecido internacionalmente, líder kayapó alertará europeus para exploração de terras indígenas por madeireiros e pelo agronegócio. Agenda da viagem de três semanas inclui encontros com Macron e o papa Francisco.
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O líder indígena brasileiro Raoni Metuktire chegou à Paris neste domingo (12/05) para dar início a uma viagem de três semanas pela Europa com o objetivo de denunciar ameaças à Amazônia. A agenda inclui encontros com chefes de Estado, celebridades e o papa Francisco.
Líder da etnia kayapó, o cacique de 87 anos ganhou visibilidade internacional nas últimas décadas em sua luta pela preservação dos povos indígenas e da Amazônia. Ele tentará arrecadar um milhão de euros para proteger O Parque Nacional Indígena do Xingu – reserva onde vivem vários povos indígenas – de madeireiros e do agronegócio. Raoni viaja acompanhado de outros três líderes indígenas que vivem no Xingu.
Na França, Raoni se reunirá com o presidente Emmanuel Macron e seu ministro do Meio Ambiente, François de Rugy. As lideranças indígenas seguem então para Bélgica, Suíça, Luxemburgo, Mônaco e Itália.
A viagem de Raoni ocorre num momento de apreensão para os povos indígenas no Brasil devido a medidas adotadas ou anunciadas pelo governo do presidente Jair Bolsonaro.
Em abril, Bolsonaro afirmou que propôs a seu homólogo americano, Donald Trump, a abertura da exploração da região amazônica em parceria com os Estados Unidos. O presidente criticou também o que chama de "indústria" de demarcação de terras indígenas, que inviabilizaria projetos de desenvolvimento da Amazônia, e afirmou que pretende rever demarcações. O governo também defendeu a possibilidade de ampliar atividades de mineração e agropecuária em terras indígenas.
Os fundos que Raoni pretende arrecadar devem ser usados para sinalizar melhor os limites da reserva do Xingu e comprar drones e equipamentos para vigiar a região e protegê-la contra incêndios, segundo a Foret Vierge, organização que Raoni preside de forma honorária.
Além disso, algumas comunidades no Xingu necessitam de recursos para saúde, educação e conhecimento técnicos para a extração e comercialização de produtos renováveis obtidos na floresta.
"Assim, os indígenas poderiam viver de forma digna na reserva e, ao mesmo tempo, proteger a floresta, em vez de ir a áreas rurais ou urbanas", disse a Foret Vierge em comunicado.
A viagem de Raoni recebeu o apoio de figuras como o cantor Sting, que há 30 anos realizou uma viagem ao lado do cacique por 17 países e o ajudou a ganhar notoriedade internacional na luta pela proteção dos povos do Xingu.
LPF/afp/ots
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Índios acampados em Brasília contam histórias de lutas e dificuldades, mas também de sucesso, como mestrados e pesquisas universitárias sobre problemas de povos indígenas.
Foto: DW/Nádia Pontes
Wasidi Xakriabá, Minas Gerais
Aos 19 anos, Wasidi, da etnia xakriabá, se junta aos membros mais velhos de sua aldeia para protestar em Brasília pela primeira vez. Desde criança, ela ouve sobre a morte do cacique em 1987, a mando de um grileiro de terras que foi preso à época, e da tentativa de assassinato de seu avô. "Nós, os jovens, temos que lutar pelos direitos indígenas", afirma.
Foto: DW/Nádia Pontes
Henrique Xukuru Ororuba, Pernambuco
A palha de coco seca dá formato ao chapéu que os indígenas xukuru chamam de barretina. Essa era uma marca registrada do cacique Xicão, assassinado há 20 anos depois de conflitos com fazendeiros da região de Pesqueira. A terra indígena, que abriga cerca de 12 mil moradores, é demarcada e tem diversas nascentes de água - o que aumenta a cobiça dos invasores.
Foto: DW/Nádia Pontes
Elaine e Marivane, Distrito Federal
As irmãs da etnia guajajara moram na aldeia Tekohaw, a pouco mais de 10 km do Congresso Nacional. Cerca de 30 famílias indígenas aguardam a demarcação da área, num impasse que já dura mais de dez anos. A área onde elas plantam mandioca, milho, produzem farinha, no setor Noroeste, é uma das regiões onde o metro quadrado em Brasília é dos mais caros.
Foto: DW/N. Pontes
Elza Xerente, Tocantins
Veterana no Acampamento Terra Livre, Elza Nāmnadi Xerente participa desde 2006. Na terra indígena onde vive, que abriga Floresta Amazônica e Cerrado, a pulverização aérea de agrotóxico nas fazendas vizinhas é um dos principais problemas. Apesar das dificuldades, ela se orgulha da filha, que está no primeiro ano de faculdade em Pedagogia.
Foto: DW/N. Pontes
Gilmara Munduruku, Pará
Após viajar três dias de ônibus, Gilmara e o filho Miguel, 3 anos, montaram acampamento em Brasília. Ela vem da aldeia Sawré Muybu, às margens do Tapajós. A área indígena já foi reconhecida pela Funai, mas não está oficialmente demarcada. O local também está no mapa de novas hidrelétricas na Amazônia. Em 2016, depois de uma campanha internacional movida pelos munduruku, o governo adiou os planos.
Foto: DW/Nádia Pontes
Vitória Tupinambá, Pará
Desde pequena, Vitória acompanha o pai, cacique, a encontros com lideranças pelo país. Na terra onde vive, a seis horas de barco de Santarém, desmatamento ilegal para roubo de madeira é uma preocupação. Com 17 anos, seu sonho é estudar medicina e combater o preconceito que indígenas sofrem. "Somos todos seres humanos, e cada povo tem sua forma de viver", diz.
Foto: DW/Nádia Pontes
Kotoqi Kamayurá, Mato Grosso
O cacique Kotoqi trouxe a família a Brasília para lutar contra o desmonte da Funai que, segundo ele, está dominada atualmente pelos interesses dos ruralistas. Morador do Xingu, ele diz que é tio de Lulu Kamayurá, criança retirada da aldeia e adotada pela ministra Damares Alves. Kotoqi diz que uma visita à sobrinha está marcada.
Foto: DW/N. Pontes
Adriana Fernandes Carajá, Minas Gerais
Da etnia pataxó, Adriana faz mestrado na Universidade Federal de Minas Gerais e pesquisa a retirada compulsória de crianças guarani kaiowá no Mato Grosso do Sul por decisão judicial. Ela identificou um aumento de casos a partir de 2012. Mães são proibidas de ver os filhos, que perdem a cultura. Dados apontam que 60% das crianças em abrigos no estado são indígenas.
Foto: DW/N. Pontes
Gilza Ferreira de Souza, Paraná
Nascida e crescida na Terra indígena São Jerônimo, Gilza é kaingang e foi a primeira indígena a ser aprovada num mestrado na Universidade Estadual de Londrina. Ela estuda as mulheres awa guarani que vivem em regiões de conflito no oeste do Paraná. Segundo ela, os indígenas tentam retomar as terras tradicionalmente habitadas, atualmente ocupadas por produtores de soja e pecuaristas.