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Estudar na Alemanha

1 de setembro de 2011

Um curso universitário no exterior tem se tornado realidade para cada vez mais brasileiros e a Alemanha é um dos destinos mais procurados.

Sala de aula em uma universidade alemãFoto: picture-alliance/ZB

Cerca de 20 mil universitários brasileiros estudam fora do Brasil atualmente, um crescimento de 14% em relação a 2007 e mais que o dobro em relação a 2000, segundo aponta um relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Ao escolher um país para estudar, a língua é um fator de peso. Segundo a OCDE, países de idioma mais difundido são os destinos mais comuns de estudantes estrangeiros. Entre os idiomas que lideram essa lista estão o inglês, o francês, o alemão e o russo. As nações mais procuradas pelos brasileiros são Estados Unidos, França, Portugal, Espanha e Alemanha.

Apesar do aumento do número de brasileiros que estudam no exterior, o Brasil ainda apresenta um deficit se comparado com outros países. Os brasileiros são apenas 0,8% de um total de 2,7 milhões de estudantes universitários no mundo que estudam fora.

O relatório Wissenschaft Weltoffen 2011, publicado em julho, aponta um crescimento de 17% de calouros brasileiros nas Instituições de Ensino Superior (IES) alemãs em 2009, em comparação ao ano anterior, perdendo apenas para o aumento de estudantes indianos (39%). Em 2010, havia quase 50% mais brasileiros matriculados em IES alemãs em comparação com 2005.

Segundo o Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD, do alemão), em 2010 o número de novas bolsas para doutorado – em parceria com Capes e CNPq, foi recorde: 100 novos bolsistas, além de 120 jovens bolsistas para o semestre de inverno de Língua e Cultura Alemã. Ainda segundo o DAAD, a perspectiva é de um grande salto no número de bolsistas, devido ao recém-lançado programa Ciência sem Fronteiras, do governo brasileiro.

Das 75 mil bolsas que o programa deve conceder até 2014, 10 mil devem ser destinadas a estudos e pesquisas na Alemanha, sendo a maior parte voltada para a graduação e para o doutorado sanduíche. O DAAD está fazendo um levantamento das universidades brasileiras e alemãs que já possuem convênios entre si, para que as verbas de bolsas sejam aplicadas nestes programas de intercâmbio.

De olho no futuro


Mesmo futuros universitários já procuram um curso de alemão. É o caso da estudante capixaba Érica Künsch, que está fazendo um intercâmbio de dez meses na escola Hans-Thoma Gymnasium, em Lörrach, no estado de Baden-Württemberg. Para Érica, que quer cursar medicina e fazer pesquisas na área de oncologia ou neurologia, aprender alemão representa a possibilidade de um futuro aperfeiçoamento profissional na Alemanha.

Mas o que também a moveu a aprender alemão foi a sua ascendência suíça. Ela escolheu a Alemanha para o intercâmbio por querer aprender o alemão sem a influência de dialetos. Ela porém se surpreendeu com a quantidade de dialetos falados dentro da própria Alemanha.

Para Andrea Pires, estudante de informática na Universidade Técnica de Berlim, falar alemão é fundamental para estudar na Alemanha, mesmo que o curso seja em inglês.

Andrea conta que muitos estudantes passam por dificuldades de comunicação, pois nas secretarias das universidades nem sempre é possível se comunicar em inglês, principalmente com os funcionários mais velhos. "Creio que se eles falassem um pouquinho de inglês e os alunos, um pouquinho de alemão, chegariam a um consenso."

Experiência bem sucedida

O casal Paulo Antônio de Souza Jr. e Anelisa Dazzi Chequer de Souza esteve na Alemanha entre 2000 e 2002. Paulo fez doutorado na Universidade Johannes Gutenberg, em Mainz. Anelisa, apesar de na época ter um bebê de colo, não quis perder tempo e decidiu correr atrás de uma experiência profissional na Alemanha. Formada em Medicina, ela aproveitou para fazer sua residência em Mainz.

Paulo escolheu a Alemanha para fazer o doutorado devido à reputação internacional de seu orientador, o professor Philipp Gütlich, na área da técnica de espectroscopia de Mössbauer. "Meu doutorado foi baseado em aplicações terrestres (arqueologia e poluição do ar) e extraterrestres deste equipamento (no caso, em Marte)."

Paulo conta que três dos equipamentos desenvolvidos por sua equipe foram enviados a Marte através da Agência Espacial Europeia a bordo da nave Beagle-2, mas ela acabou se perdendo no pouso. Duas semanas mais tarde, a equipe já pousava os robôs Spirit e Opportunity em Marte, dessa vez através da Nasa. "A oportunidade de trabalhar na Nasa foi um resultado direto do meu doutorado na Alemanha", diz Paulo.

Para Anelisa, entretanto, não foi tão fácil. "Na Alemanha, fiz residência em medicina interna com especialização em cardiologia invasiva. Quando voltei ao Brasil, minha residência não foi reconhecida pelo MEC. No Brasil trabalhei em CTI, pronto socorro e remoção." Porém, em 2007, quando o casal retornou à Europa, a residência na Alemanha foi fundamental para Anelisa conseguir um registro no Reino Unido e em Portugal.

Hoje o casal vive na Austrália. Paulo é diretor de pesquisa do Laboratório de Tecnologia de Informação e Comunicação das CSIRO (Canadian Insurance Services Regulatory Organizations), na Tasmânia, e líder científico para redes de sensores também nas CSIRO. Anelisa é médica de família, além de ser tutora dos alunos de medicina da Universidade da Tasmânia, entre outros cargos no hospital universitário.

Choque cultural e situações inusitadas

Depois de passado, o choque cultural pode render boas histórias. Para a estudante do ensino médio Érica Künsch o que mais a assustou foi a maneira alemã de se lavar louça: "Eles fecham o ralo da pia, a enchem com água e detergente e lavam todas as peças na mesma água suja, uma por uma, de modo que tudo, a não ser o primeiro objeto lavado, não fica exatamente limpo depois da lavagem" conta Érica. 

Para Andrea, o choque aconteceu logo na chegada. Na época, em Berlim, todos os supermercados e todas as lojas fechavam às 20h e nada no comércio abria aos domingos.

Já Daniel Santos, estudante de História da Arte e Literatura e Língua Inglesa, conta que seu choque aconteceu no primeiro Natal na Alemanha, com a família de um amigo, num lugarejo de 3 mil habitantes. "Foi a ceia de Natal em si. Eles começaram a cear já às 20 horas, o que no Brasil é um pouco cedo demais, e antes da meia-noite já estavam todos dormindo (menos eu, claro)."

Paulo conta que no começo de sua pesquisa ele conversou com seu orientador sobre a possibilidade de utilizar na arqueologia o equipamento que estava desenvolvendo. O orientador disse que concordava com a ideia e Paulo entendeu isso como uma carta branca.

Ele correu até o Museu Romano-Germânico de Mainz para conversar com o diretor e deu um jeitinho de levar um vaso grego de mais de 2.400 anos até o instituto. "Você pode imaginar o susto do meu orientador após ver a relíquia no laboratório pouco depois da nossa conversa. Acho que ele esperava uma aproximação mais formal (com o instituto arqueológico)..."

Autora: Camilla Saloto
Revisão: Roselaine Wandscheer

Daniel SantosFoto: Daniel Santos
Paulo de Souza Jr.Foto: Anelisa de Souza
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