Roma justifica declínio, que alcançou 90% em agosto, com medidas adotadas pelo governo italiano, mas especialistas citam milícia da Líbia como causa. Líderes europeus e africanos discutem migração ilegal em Paris.
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O Mar Mediterrâneo está calmo nestes dias de verão europeu, praticamente sem ondulações entre a costa da Líbia e a Itália. O clima é estável. Normalmente, esta época seria propícia para travessias, e embarcações lotadas de migrantes chegariam diariamente ao litoral italiano. Mas a Itália tem registrado quedas drásticas na quantidade de refugiados que desembarcam em seu território.
Em comparação com o ano anterior, o número de chegadas no mês de agosto diminuiu quase 90%. Até 25 de agosto (data da última divulgação oficial), a Itália recebeu 2.932 refugiados – em agosto de 2016 foram 21.294.
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Segundo o governo italiano, houve queda também na estatística semestral. De janeiro até meados de agosto, o Ministério do Interior registrou 97.293 migrantes que saíram da Líbia – 4,2% menos que no mesmo período de 2016. "Ainda estamos no túnel, e é um longo túnel, mas vejo luz no fim dele", disse o ministro do Interior da Itália, Marco Minniti.
O ministro justificou a queda com a estratégia dupla do governo de fortalecer a Guarda Costeira italiana na luta contra a imigração ilegal e, ao mesmo tempo, adotar uma abordagem mais rígida contra organizações de ajuda humanitária. Estas são acusadas por Roma de ajudar indiretamente os contrabandistas ao resgatarem migrantes no Mediterrâneo e transportá-los até a Itália.
Migração é tema de cúpula em Paris
Como os fluxos migratórios da África à Europa podem ser contidos? Esta é a questão central de uma chamada minicúpula em Paris. A convite do presidente francês, Emannuel Macron, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, os chefes de governo de Roma e Madri, Paolo Gentiloni e Mariano Rajoy, assim como a comissária da EU, Federica Mogherini, se reunirão com líderes políticos de Líbia, Níger e Chade, nesta segunda-feira (28/08), no Palácio do Eliseu.
"Será uma oportunidade de sublinhar o apoio da Europa ao Chade, ao Níger e à Líbia no controle e na gestão dos fluxos migratórios", anunciou o gabinete de Macron. Num podcast governamental, Merkel afirmou que o objetivo é "reduzir a imigração ilegal passo a passo".
De acordo com dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM), entre o início de janeiro e metade de agosto, quase 121 mil migrantes chegaram à Europa atravessando o Mar Mediterrâneo. O número caiu em mais da metade em comparação com o mesmo período do ano passado: 272 mil pessoas. O principal motivo para o declínio foi o fechamento da chamada rota dos Bálcãs, pela qual refugiados que chegavam à Grécia seguiam viagem até o norte da Europa.
As mortes também diminuíram. Entre início de janeiro e meados de agosto de 2017, o OIM registrou 2.410 mortes na travessia perigosa do Mar Mediterrâneo – no mesmo período de 2016 foram 3.216 mortes.
Milícia domina principal saída na Líbia
Enquanto a Guarda Costeira da Líbia e a agência para proteção de fronteiras da União Europeia (UE), Frontex, estão vendendo a queda nas estatísticas principalmente como um sucesso das autoridades marítimas, especialistas creem que os motivos estão na própria costa da Líbia: uma nova milícia teria mudado de lado.
"Atualmente, não sabemos quais são os motivos do declínio", disse Christine Petré, porta-voz da OIM para a Líbia. "Deve ter a ver com o fato que menos refugiados estão saindo da costa da Líbia."
A pequena Sabratha, a cerca de 70 quilômetros a oeste da capital Trípoli, é um dos principais pontos de saída para refugiados na Líbia. "Há algum tempo existe um novo grupo armado na cidade, que aparentemente vem impedindo a operação de contrabandistas", afirma Mattia Toaldo, especialista em Líbia no Conselho Europeu para as Relações Exteriores (ECFR).
Há evidências de que um poderoso chefe de milícia e contrabando trocou de lado. "Talvez ele espere ganhar mais influência ao se certificar de que não há refugiados partindo", diz Toaldo.
Algo parecido ocorreu no ano passado na cidade vizinha Suwara, quando uma espécie de milícia urbana assumiu o controle da área e libertou, até certo ponto, a cidade de contrabandistas de refugiados.
PV/epd/rtr/afp/dpa
As imagens que marcaram a crise migratória
Fotos impressionantes do enorme fluxo de migrantes para a Europa em 2015 e 2016 circularam pelo mundo. No Dia Mundial do Refugiado, vale lembrar a perseverança dos que foram forçadas a deixar seus países.
Foto: Getty Images/AFP/A. Messinis
A meta: sobreviver
Uma jornada combinada com sofrimento e perigo para corpo e alma: para fugir da guerra e da miséria, centenas de milhares de pessoas, principalmente da Síria, viajaram pela Turquia para a Grécia em 2015 e 2016. Ainda há cerca de 10 mil pessoas nas ilhas de Lesbos, Chios e Samos. De janeiro a maio deste ano, chegaram mais de 6 mil novos refugiados.
Foto: Getty Images/AFP/A. Messinis
A pé até a Europa
Em 2015 e 2016, milhões de pessoas tentaram, a pé, chegar à Europa Ocidental através da Turquia ou da Grécia até a Macedônia, Sérvia e Hungria. Este fluxo não parou mesmo depois de a chamada rota dos Bálcãs ter sido fechada e muitos países terem bloqueado suas fronteiras. Hoje, a maioria dos refugiados vai para a Europa usando a perigosa rota pelo Mediterrâneo através da Líbia.
Foto: Getty Images/J. Mitchell
Consternação mundial
Esta foto chocou o mundo em setembro de 2015: numa praia da Turquia foi encontrado o corpo do menino sírio Aylan Kurdi, de 3 anos. A imagem se espalhou rapidamente pelas redes sociais e se tornou um símbolo da crise dos refugiados. Depois dela, a Europa não podia mais se omitir.
Foto: picture-alliance/AP Photo/DHA
Caos e desespero
Sabendo que a rota de fuga para a Europa seria fechada, milhares de refugiados tentaram desesperadamente entrar em trens e ônibus na Croácia. Alguns dias depois, em outubro de 2015, a Hungria fechou a fronteira e criou campos com contêineres, onde os refugiados seriam mantidos durante a análise de seu pedido de asilo político.
Foto: Getty Images/J. J. Mitchell
Hostilidades
A indignação foi grande quando uma repórter cinematográfica húngara deu uma rasteira num refugiado sírio que corria com um menino no colo. Ele tentava passar por uma barreira policial na fronteira húngara em setembro de 2015. No auge da crise de refugiados aumentavam as hostilidades contra imigrantes, com ataques xenófobos a abrigos de refugiados também na Alemanha.
Foto: Reuters/M. Djurica
Fronteiras fechadas
O fechamento oficial da rota dos Bálcãs, em março de 2016, gerou tumultos nos postos de fronteira, onde milhares de migrantes não puderam mais avançar e houve relatos de violência policial. Muitos, como estes refugiados, tentaram contornar os postos de fronteira entre a Grécia e a Macedônia.
Uma criança ensanguentada coberta de poeira: a fotografia de Omran, de 5 anos, chocou o público em 2016 e se tornou um símbolo dos horrores da guerra civil da Síria e do sofrimento de seu povo. Um ano mais tarde, novas imagens mostrando o menino bem mais feliz circularam na internet. Apoiadores do presidente sírio afirmam que a primeira imagem foi usada para fins de propaganda.
Foto: picture-alliance/dpa/Aleppo Media Center
Em busca de segurança
Um sírio carrega a filha na chuva em Idomeni, entre a Grécia e a Macedônia. Ele procura abrigo na Europa. Segundo o Regulamento de Dublin, o asilo político precisa ser solicitado no primeiro país da União Europeia a que o refugiado chegou. Por isso, muitos que prosseguem viagem são mandados de volta. Por sua localização fronteiriça, Itália e Grécia são os países onde mais chegam refugiados.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Esperança
A Alemanha continua sendo o principal destino dos migrantes, embora a política de refugiados e de asilo do país tenha se tornado mais restritiva após o grande afluxo no final de 2015. Nenhum outro país europeu acolheu tantos refugiados como a Alemanha, que recebeu 1,2 milhão de pessoas desde 2015. A chanceler federal Angela Merkel foi um ícone para muitos dos recém-chegados.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Hoppe
Miséria nos campos de refugiados
No norte da França, um enorme campo de refugiados, a chamada "Selva de Calais", foi fechado. Durante a evacuação, em outubro de 2016, houve um incêndio no acampamento. Cerca de 6.500 moradores foram removidos para outros abrigos na França. Meio ano depois, organizações de ajuda relataram sobre muitos refugiados menores de idade que vivem como sem-teto em volta da cidade de Calais.
Foto: picture-alliance/dpa/E. Laurent
Afogamentos no Mediterrâneo
ONGs e guardas costeiras estão constantemente à procura de barcos de migrantes em perigo. Eles preferem atravessar o mar em embarcações precárias superlotadas a viver sem perspectivas na pobreza ou em meio à guerra civil. Só em 2017, a travessia já custou 1.800 vidas. Em 2016 foram registrados 5 mil mortos.
Foto: picture alliance/AP Photo/E. Morenatti
Milhares esperam na Líbia
Centenas de milhares de refugiados da África Subsaariana e do Oriente Médio esperam em campos líbios para atravessar o Mar Mediterrâneo. Muitos estão nas mãos de contrabandistas humanos e traficantes de pessoas. As condições nesses locais são catastróficas, dizem ONGs. Testemunhas relatam casos de escravidão e prostituição forçada. Ainda assim, continua vivo o sonho de chegar à Europa.
Foto: Narciso Contreras, courtesy by Fondation Carmignac