Caminhão de atentado em Berlim pode ser exposto em museu
5 de janeiro de 2017
Museu "Haus der Geschichte", na cidade alemã de Bonn, considera incorporar à sua coleção parte do veículo usado em ataque a mercado de Natal. Diretor defende relevância da peça para história do país.
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O caminhão usado no atentado terrorista que deixou 12 mortos e mais de 50 feridos numa feira natalina em Berlim pode virar peça de museu. A Casa da História (Haus der Geschichte), localizada em Bonn – antiga capital alemã, no oeste do país – considera a possibilidade de expor parte do veículo no futuro.
A direção do museu de história contemporânea alemã ainda não decidiu se vai incorporar a peça ao seu acervo, argumentando que é preciso um distanciamento, um espaço de tempo da ocorrência do ataque, mas considera uma eventual exposição relevante para o país.
"Ainda é cedo para dar uma resposta definitiva", afirmou o presidente da fundação Haus der Geschichte, Hans Walter Hütter, à agência de notícias DPA. A eventual incorporação do caminhão à coleção do museu divide opiniões na Alemanha.
Segundo Hütter, a exibição não poderia focar no ataque e no agressor, mas sim na importância do objeto para a história contemporânea alemã, mostrando o lado das vítimas. "Quando um tema tem relevância social, e este é o caso, ele pertence à nossa história, queiramos ou não", ponderou.
Terrorismo e história
Hütter considera que apenas parte do veículo seria exposta, já que ele é muito grande. A Casa da História abriga entre os mais de 7 mil objetos de sua mostra permanente várias peças relacionadas ao terrorismo.
Entre elas estão objetos ligados à Fração do Exército Vermelho (RAF), grupo terrorista alemão responsável por sangrentas ações nos anos 1970 e 1980, e uma bomba utilizada pelo grupo neonazista Clandestinidade Nacional-Socialista (NSU) num atentado em Colônia, em 2004. O museu também recebeu recentemente partes das fachadas das Torres Gêmeas, destruídas no atentado de 11 de Setembro, e a carteira de identidade de um funcionário do Deutsche Bank que morreu no ataque.
"Ainda é preciso discutir em qual formato o terrorismo do 'Estado Islâmico' será incorporado à coleção [do museu]", disse Hütter à DPA. O terrorista Anis Amri, que jurou lealdade ao EI avançou contra os frequentadores do mercado de Natal da praça Breitscheidplatz, no bairro Charlottenburg, em 19 de dezembro do ano passado. "O ataque em Berlim mostra que o terrorismo internacional do EI chegou à Alemanha", afirmou o diretor ao jornal Kölner Stadt-Anzeiger.
KG/dpa/ots
Haus der Geschichte: um passeio pela história alemã
O museu em Bonn foi criado em 1994 com o objetivo de dar vida à história da Alemanha. Milhares de objetos – de uma chuteira a um tanque de guerra – relembram o passado do país a partir de 1945.
Foto: DW/H. Mund
Alemanha campeã mundial em 1954
No museu de Bonn, criado há 20 anos, uma chuteira lembra um momento marcante. No chamado "Milagre de Berna", Helmut Rahn dispara, aos 39 do segundo tempo, o gol decisivo contra a Hungria, que garante à Alemanha a taça da Copa do Mundo de 1954. Tal feito, nove anos após a Segunda Guerra, vira símbolo do início do fim das privações do pós-guerra e populariza o futebol na Alemanha Ocidental.
Foto: DW/H. Mund
"Voltamos a ser alguém"
Dois bancos de madeira também servem de testemunhas desse "milagre" no estádio de futebol de Berna, em 1954. Afinal, esse acontecimento representa a recuperação alemã. "Voltamos a ser alguém!" passa a ser um ditado popular no país nos anos 50. O evento futebolístico torna-se símbolo do nascimento da República Federal da Alemanha, que, oficialmente, havia sido fundada cinco anos antes.
Foto: DW/H. Mund
Konrad Adenauer
Após a guerra, o Hotel Petersberg, em Bonn, serve de residência para o Conselho de Controle Aliado. Em 1949, Konrad Adenauer recebe ali o Estatuto de Ocupação do país, que limita a soberania da República Federal da Alemanha. Apesar disso, o chanceler federal posiciona-se ao lado os três altos comissários durante a cerimônia, quebrando o protocolo, e deixa o hotel confiante (foto).
Foto: DW/H. Mund
D-Mark vira moeda corrente
A máquina para cunhagem do marco alemão é um dos itens mais valiosos da coleção da Haus der Geschichte. Com tal equipamento pode-se produzir moedas ainda hoje. Mas a reforma monetária e o D-Mark já são coisa do passado. Em fevereiro de 2001, o marco alemão foi substituído pelo euro. O cunho no centro da imagem foi dado de presente ao museu pelo ex-ministro de Finanças Hans Eichel.
Foto: DW/H. Mund
Guerra Fria
"Vivenciar a história" foi por muito tempo o título da exposição permanente da Haus der Geschichte. Esta estação lembra a revolta popular da antiga Alemanha Oriental no dia 17 de junho de 1953. A presença do tanque russo T-34 torna possível "vivenciar a história": esse tipo de tanque circulou pelas ruas de Berlim em 1953 e esmagou a onda de protestos com violência.
Foto: DW/H. Mund
Milagre econômico
O Messerschmidt, minicarro de três rodas, foi um dos primeiros modelos acessíveis para as camadas mais baixas da população da Alemanha Ocidental. O mais importante era que, com ele, se podia viajar para o campo nos finais de semana. O Fusca e outros carros pequenos também possibilitaram aos alemães até mesmo férias na Itália.
Foto: DW/H. Mund
Dolce vita e Rock'n Roll
Nos anos 50, começa a onda de viagens na Alemanha: Itália e Espanha são os destinos preferidos dos cidadãos da Alemanha Ocidental, enquanto os da Oriental vão para a Hungria e o Mar Báltico. No Oeste, a Vespa simboliza a dolce vita, e os “bares de leite” (onde bebidas alcoólicas eram proibidas) com suas juke boxes tornam-se ponto de encontro dos jovens. O consumo passa a ser símbolo de status.
Foto: DW/H. Mund
Construção do Muro de Berlim
Em 1961, após o presidente do Conselho de Estado da República Democrática Alemã (RDA), Walter Ulbricht, ordenar o fechamento do setor oriental, a polícia de fronteira começou a remover o pavimento das ruas. Pilares de concreto foram fincados, arames farpados esticados e, com argamassa e blocos vazados, um muro foi erguido – por décadas símbolo da divisão política da Alemanha e da Europa.
Foto: DW/H. Mund
Flower Power e a era hippie
Na Alemanha Ocidental, a Kombi foi por muito tempo sinônimo de independência. Como uma forma alternativa de residência, ela oferece aos jovens a partir do final dos anos 60 o que eles buscam também na musica e no consumo de drogas: liberdade sem fronteiras. A lendária Kombi modelo T1, que voltou da Califórnia para o museu na Alemanha, também um representa a exportação de artigos “made in Germany”.
Foto: DW/H. Mund
Protestos na Alemanha Ocidental
No fim dos anos 70, o movimento antinuclear trouxe às ruas da Alemanha Ocidental manifestantes de todas as camadas sociais. Na Haus der Geschichte, um pedaço da cerca ao redor da usina nuclear em Brokdorf, perto de Hamburgo, relembra as primeiras manifestações em massa. Surgem, então, iniciativas de cidadãos e o partido "Os Verdes" é fundado em 1980, mudando o clima político na Alemanha Ocidental.
Foto: DW/H. Mund
Pela democracia e pela liberdade
1989 foi um ano fatídico na Alemanha. Em outubro, as demonstrações pacíficas tomam conta de Dresden, Leipzig e Berlim Oriental. Cada vez mais cidadãos vão às ruas pela democracia e pela liberdade de viajar. A partir de novembro, tudo acontece muito rápido: o governo da República Democrática Alemã (RDA) renuncia, e, na noite de 9 de novembro, as fronteiras são abertas. Em seguida, o muro cai.
Foto: DW/H. Mund
De mentira ou de verdade?
Um total de 800 mil objetos compõe a coleção da Haus der Geschichte. Um deles até entrou para a história da arte. O artista plástico americano Duane Hanson, que já foi sensação na exposição de arte contemporânea Documenta graças às suas esculturas realistas, imortalizou um zelador de Bonn numa escultura – uma das peças mais apreciadas pelos visitantes mais jovens do museu.