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Campanha entra na reta final mais polarizada

1 de outubro de 2018

A menos de uma semana do primeiro turno, cenário contraria previsões de que a candidatura de Bolsonaro perderia energia de maneira decisiva e que Lula teria dificuldades para transferir votos para Haddad.

Protesto contra Jair Bolsonaro em Curitiba: mulheres lideram rejeição ao candidato
Protesto contra Jair Bolsonaro em Curitiba: mulheres lideram rejeição ao candidatoFoto: picture-alliance/dpa/H. Mileo

Poucos dias separam os brasileiros do primeiro turno das eleições. O cenário já parece indicar quem serão os candidatos à Presidência que devem passar para a segunda rodada: Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), que concorre como substituto do ex-presidente Lula, que permanece preso.

No início do ano, esse cenário foi raramente considerado em previsões. Mas esta acabou sendo uma campanha marcada pela refutação de vários exercícios de futurologia.

A candidatura de Bolsonaro até agora não deu sinais de desidratação, apesar de sua estrutura de campanha, pequena em comparação aos principais rivais, e de sua rejeição recorde, especialmente entre as mulheres. Seu eleitorado segue como o mais consolidado entre todos os candidatos: ele registra 24% das intenções de voto na pesquisa espontânea, e 55% dos seus eleitores afirmam que não pretendem mudar de opinião. 

Já a transferência de votos do ex-presidente Lula para Haddad acabou sendo mais veloz e menos desafiadora do que indicavam especialistas. Na região Nordeste, um reduto petista, a preferência pelo ex-prefeito de São Paulo chega a 30% do eleitorado. E a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) não decolou por enquanto, apesar do seu enorme tempo de TV e amplo leque de alianças.

No Datafolha de sexta-feira passada (28/09), Jair Bolsonaro (PSL) aparece isolado com 28% das intenções no levantamento estimulado, embora estagnado em relação à penúltima pesquisa do instituto. Já Haddad vem registrando crescimento constante, e chegou a 22% das intenções de voto. Alckmin permanece com 10%.

São números que indicam uma nova forma de polarização no país: não mais a tradicional entre o PSDB e o PT, mas entre forças antipetistas que convergiram para Bolsonaro e a influência eleitoral do ex-presidente Lula.

Com a estagnação de Alckmin, que aparece por enquanto em quarto lugar nas pesquisas, esta pode ser a primeira vez desde 2002 que o PSDB não vai conseguir chegar ao segundo turno das eleições presidenciais.

O cenário ainda aponta uma polarização combinada com fragmentação. Nunca desde as eleições de 1989, que marcaram a volta do voto direto para presidente, os dois líderes da disputa reuniram tão poucos votos a uma semana da disputa. Juntos, Bolsonaro e Haddad conseguiram atrair por enquanto cerca de 50% dos eleitores.

A outra metade ainda manifesta preferência por outros candidatos, está indecisa ou pretende votar em branco ou nulo. Em 2014, a uma semana do primeiro turno, 65% dos eleitores apontavam preferência pelos dois líderes na disputa.

São esses os números que ainda motivam os candidatos que se apresentam como alternativa a Bolsonaro e Haddad. Atrás nas pesquisas, eles vêm reforçando o discurso que tenta romper com a polarização entre as candidaturas do militar reformado e o ex-ministro petista.

No penúltimo debate entre os presidenciáveis, Ciro Gomes (PDT), Alckmin e Marina Silva (Rede) distribuíram críticas tanto para Haddad quanto Bolsonaro. Marina, por exemplo, disse que "Haddad e Bolsonaro são cabos eleitorais um do outro". A campanha de Alckmin também vem insistindo na tese que um voto para Bolsonaro é um voto para o PT, citando os cenários de segundo turno que apontam que o petista derrotaria o ex-capitão. Nas últimas pesquisas, tanto Ciro, Alckmin e Marina aparecem estagnados ou em tendência de queda.

Nas eleições de 2014, ainda houve espaço para uma virada de última hora: a ex-ministra Marina Silva (então no PSB) começou a semana em segundo lugar, cinco pontos percentuais à frente do tucano Aécio Neves (PSDB). Em poucos dias, no entanto, o tucano acabou sendo beneficiado por uma onda de voto útil e passou para o segundo turno.

"Entramos nos dias da decisão definitiva. Em 2014, 23% decidiram na última semana. Entre os que escolhem algum candidato, há 34% que ainda podem mudar. Na espontânea, são 25% sem candidato", afirmou o diretor do Datafolha, Mauro Paulino.

Segundo a última pesquisa Ibope, há espaço para mudanças no quadro especialmente entre as mulheres e os eleitores mais jovens, que aparecem entre os grupos mais propensos a rever o voto.

O levantamento estimou que 55% do eleitorado feminino não tem candidato absolutamente definido. Já 65% dos eleitores de 16 a 24 anos apontam que ainda podem mudar de voto. Para o Ibope, o número de eleitores que seguem sem candidato fechado de forma convicta chega a 38%.

"Esse contingente pode mudar muita coisa", disse a diretora-executiva do Ibope, Márcia Cavallari, ao Jornal do Brasil. Ela, no entanto, aponta que o cenário mais provável no momento é mesmo de um segundo turno entre Bolsonaro e Haddad. 

Nesta segunda-feira (01/10), o Ibope deve divulgar mais uma pesquisa presidencial. Na terça-feira, será a vez do Datafolha.

Mesmo que não ocorram surpresas de última hora, o cenário a uma semana das eleições já resultou em uma série acontecimentos inéditos na história dos pleitos presidenciais pós-redemocratização. Nunca, por exemplo, um líder nas pesquisas sofreu tanta rejeição entre o eleitorado. Na ponta dos levantamentos de intenção de voto, Bolsonaro é rejeitado por 46% do eleitorado.

Antes dele, a maior rejeição entre os principais candidatos que dominavam as pesquisas havia sido registrada pelo ex-presidente Lula em 1994. Na ocasião, o petista viu sua popularidade se esfarelar por ter se posicionado contra o Plano Real. Ele registrou 40% de rejeição a poucos dias do primeiro turno.

Outro feito inédito de Bolsonaro foi incentivar a maior disparidade de gênero em torno de uma candidatura competitiva desde a volta das eleições diretas. Segundo o Ibope, Bolsonaro tem 36% das intenções de voto entre os homens e 18% entre as mulheres – uma proporção de dois para um. Nem mesmo em 2014, quando duas mulheres chegaram a liderar a corrida, essa diferença de gênero foi tão acentuada. O eleitorado de Dilma no primeiro turno daquele ano era bastante equilibrado: 47% de homens e 53% de mulheres.

E caso chegue ao segundo turno, Bolsonaro terá rompido com a lógica das coligações partidárias que dominaram os pleitos entre 1989 e 2014. Desde a volta da redemocratização, todos os candidatos que chegaram à segunda rodada haviam fechado alianças com três ou mais partidos – ou ao menos com uma legenda de maior expressão. Bolsonaro só conta com o apoio do inexpressivo PRTB.  

Já Haddad, se chegar ao segundo turno, vai ter rompido com todas as tendências registradas nas eleições pós-1998 que contaram com uma segunda rodada. A um mês e meio das eleições, ele amargava 5% no Datafolha. Nos pleitos entre 2002 e 2014, todos os candidatos que chegaram ao segundo turno tinham pelo menos 15% das intenções 45 dias antes do pleito.

Quanto a Alckmin, se o cenário entre Bolsonaro e Haddad prevalecer, sobrará ao tucano se juntar ao time de exceções entre os presidenciáveis que dispunham de maior tempo de TV na campanha. Em apenas duas ocasiões entre 1989 e 2014, o candidato com maior espaço de propaganda saiu derrotado na eleição presidencial: 1989 e 2002. Na primeira eleição da redemocratização, Ulysses Guimarães, que detinha 22 minutos diários na TV, amargou o sexto lugar na disputa. Já José Serra, que dispunha de 41% do espaço em 2002 – quase o dobro de Lula –, pelo menos chegou ao segundo turno.

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