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Campanha pré-referendo acirra tensão entre Berlim e Ancara

4 de março de 2017

Erdogan lança ataques contra Alemanha após críticas à prisão de jornalista e cancelamento de comícios. Ministro da Justiça afirma que países europeus são contra reforma constitucional por não quererem Turquia estável.

Bandeiras da Alemanha e Turquia
Alemanha abriga a maior diáspora turcaFoto: picture-alliance/dpa/C. Charisius

A campanha eleitoral às vésperas de um referendo sobre uma controversa reforma constitucionalna Turquia, marcado para 16 de abril, vem acirrando as tensões entre Berlim e Ancara. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, falou em espionagem, e o ministro da Justiça, Bekir Bozdag, denunciou métodos "fascistas" adotados pelas autoridades do país europeu. Políticos alemães, por sua vez, classificam os ataques de "absurdos".

Uma das investidas mais ferrenhas foi feita por Erdogan nesta sexta-feira (03/03). Em respostas às críticas de Berlim sobre a prisão do jornalista teuto-turco Deniz Yücel na Turquia, o presidente acusou o correspondente do jornal Die Welt de ser um agente alemão e integrante do banido Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

Leia mais: Prisão de correspondente na Turquia causa indignação na Alemanha

Erdogan criticou também o cancelamento de eventos na Alemanha dos quais participariam ministros turcos, com o objetivo de fazer campanha pela reforma constitucional, que visa introduzir o sistema presidencialista na Turquia e, assim, atribuir mais poderes ao presidente. A Alemanha abriga a maior diáspora turca, e em torno de 1,4 milhão de pessoas poderão votar no referendo de 16 de abril.

Um comício na cidade alemã de Gaggenau, do qual o ministro da Justiça turco participaria na última quinta-feira, foi cancelado pelas autoridades locais por motivos de segurança. O político classificou a medida de "fascista".

Neste domingo, também estava prevista a presença do ministro da Economia turco, Nihat Zeybekci, em Frechen, próxima à Colônia, mas o proprietário do local cancelou o evento. Um comício em Colônia também foi cancelado por motivos de segurança.

Críticas a Merkel

Bozdag criticou a chanceler federal alemã, Angela Merkel, por não ter se distanciado do cancelamento dos eventos por parte das autoridades locais. Merkel e o ministro do Exterior alemão, Sigmar Gabriel, "não criticaram a decisão". "Eles não dissera que a decisão tomada pelas autoridades é errada."

Merkel disse nesta sexta-feira que a decisão foi tomada "pelos municípios e que, por questão de princípios, se aplica a liberdade de expressão na Alemanha". O porta-voz do Ministério alemão do Exterior, Martin Schäfer, também reiterou que o governo federal não tem nenhuma responsabilidade sobre os cancelamentos dos eventos.

"Eu pergunto: não permitir que o ministro da Justiça turco se manifeste adere ou não aos direitos humanos alemães, sra. Merkel?", questionou Bozdag.

Ele também criticou o governo da Holanda, que na sexta-feira cancelou um evento de campanha com um ministro turco em Roterdã, marcado para 11 de março. Para Bozdag, está "muito claro" que alguns países da União Europeia são contra a reforma constitucional por não terem interesse numa Turquia estável e forte.

Telefonema "produtivo"

Políticos alemães reagiram aos ataques trucos. A encarregada de integração do governo federal, Aydan Özguz, criticou as reações de Ancara, classificando-as de "totalmente exagerada". "A atual escalada política não é útil para nenhum dos dois países", disse.

O secretário do Interior da Baviera, Joachim Herrmann, também pediu moderação à Turquia. A campanha eleitoral turca não deve migrar para o solo alemão, afirmou.

Neste sábado, o primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, disse ter tido uma conversa "produtiva" com Merkel pelo telefone, mas também criticou o cancelamento de comícios na Alemanha.

Antes das críticas feitas por Erdogan nesta sexta-feira, o ministro do Exterior alemão falou ao telefone com seu homólogo turco, Mevlüt Çavuşoğlu. Ambos pretendem se reunir na próxima semana.

Neste sábado, Çavuşoğlu se mostrou decidido a fazer campanha a favor da reforma constitucional para cidadãos turcos que vivem na Europa Ocidental. "Vamos para onde quisermos. Vamos nos reunir com nossos cidadãos", disse.

LPF/dpa/afp

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