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Canal do Panamá completa 100 anos de olho na expansão

Astrid Prange (pr)15 de agosto de 2014

Um século após sua inauguração, hidrovia passou de um projeto militar dos Estados Unidos a um símbolo da ascensão econômica do Panamá. Obras de ampliação devem ser concluídas em 2015 e quadruplicar lucros.

Foto: picture-alliance/dpa

"É claro que vamos comemorar o centenário. Mas para nós, este jubileu não é tão importante quanto a devolução do canal em 31 de dezembro de 1999", diz Francisco Miguez, vice-chefe de finanças da Autoridade do Canal do Panamá (ACP), administradora estatal do canal.

O sucesso econômico da hidrovia que liga o Pacífico ao Atlântico explica a fase de crescente autoconfiança vivida pelo Panamá. Enquanto em 1995, sob a supervisão dos Estados Unidos, apenas 200 mil contêineres atravessavam o canal a cada ano, hoje, sob controle do governo local, são aproximadamente cinco milhões por ano.

O navio Ancona, com 200 passageiros a bordo, foi o primeiro a atravessar os 80 quilômetros do Canal do Panamá, em 15 de agosto de 1914. Desde então, a economia do pequeno país da América Central, com 3,8 milhões de habitantes, depende da hidrovia.

Segundo a ACP, os lucros obtidos com o canal geram um repasse de cerca de um bilhão de dólares aos cofres públicos panamenhos por ano. Até 2025, a quantia deve quadruplicar.

Administração dos EUA

Os Estados Unidos compraram o projeto para a construção do Canal do Panamá de uma companhia francesa em 1902. No ano seguinte, tropas americanas ocuparam a área — onde o canal seria construído — e negociaram um tratado, que permitia o uso dele por tempo indeterminado.

Durante as obras, entre 1905 e 1914, cerca de seis mil pessoas morreram em acidentes ou de doenças. Após a Segunda Guerra Mundial, o Canal do Panamá perdeu sua importância econômica e geoestratégica, porque, nos EUA, os custos de transporte da costa oeste à leste diminuíram com a expansão de estradas e ferrovias.

Segundo Noel Maurer, professor da Harvard Business School, "o governo americano deveria ter melhorado a administração do canal e o devolvido ao Panamá muito antes de 1999". Para escrever o livro The Big Ditch, (A Grande Vala, em tradução livre), Maurer pesquisou a história do canal a partir da perspectiva dos EUA.

Já sob o comando do governo panamenho, a hidrovia transformou-se, a partir do ano 2000, num ponto de intersecção global. No total, 144 rotas marítimas internacionais passam pelo canal – sendo China, Estados Unidos, Equador e Chile os principais usuários.

Obras de ampliação

O centenário do Canal do Panamá, considerado uma oitava maravilha do mundo, é marcado pelo lema "expansão". Cerca de cinco bilhões de dólares foram investidos em obras de ampliação — que deveriam ficar prontas para a festa dos 100 anos, mas que só serão concluídas no final de 2015.

Para abrir caminho para o projeto de expansão, implodiram-se montanhas, cavaram-se novos acessos e instalaram-se grandes comportas. No futuro, cargueiros da classe chamada de pós-Panamax, com até 14 mil contêineres, poderão passar pela hidrovia.

De acordo com Miguez, da ACP, o planejamento para construir um quarto sistema de eclusas já foi iniciado. "No momento, avaliamos a demanda e os requisitos técnicos do projeto", diz. "Mesmo que a terceira eclusa ainda não esteja pronta, já estamos pensando no próximo passo."

Até agora, as obras de ampliação foram executadas pelo consórcio Grupo Unidos por el Canal (GUPC), do qual empresas da Espanha, Itália, Bélgica e Panamá fazem parte. A China também já demonstrou interesse em participar da expansão do canal.

Obras de ampliação fazem do Canal do Panamá o maior canteiro de obras do mundo no momentoFoto: picture alliance/AP Photo

Expansão chinesa

A empresa de construção civil China Harbour Engineering Company (CHEC) expressou na última semana o desejo de participar "de todos os projetos de desenvolvimento do Canal do Panamá nos próximos anos, em particular, do planejamento, da construção e dofinanciamento do quarto sistema de comportas".

Na América Central, empresas chinesas também têm grandes planos na Nicarágua. De acordo com a imprensa local, a Hong Kong Nicaragua Canal Development Investment Corporation planeja construir um canal de 278 quilômetros de comprimento entre o oceano Pacífico e o Atlântico. O controverso projeto deve custar 50 bilhões de dólares e exige que 400 mil hectares de floresta sejam desmatados.

Especialistas veem os planos chineses com ceticismo. "Não acredito que a China realmente deseje construir um novo canal, o projeto é grande demais", diz Maurer. "Provavelmente, os chineses só querem garantir os direitos de uma zona de livre comércio, que fazem parte do contrato com a Nicarágua."

Para Miguez, a proposta chinesa é simplesmente utópica. "A demanda atual é perfeitamente atendida pelo Canal do Panamá. Duvidamos que esse projeto ambicioso e arriscado se torne rentável."

Mas utopias podem ter vida longa. Afinal, foram necessários 385 anos para que os planos de construção do Canal do Panamá – inicialmente planejado em 1529, por ordens do imperador Carlos 5º – fossem colocados em prática. A Nicarágua ainda teria, portanto, bastante tempo para construir mais uma maravilha do mundo.

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