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Crise no governo

1 de julho de 2010

Circunstâncias da eleição de Christian Wulff à presidência alemã trouxeram à tona problemas na coalizão liderada por Angela Merkel. Para jornal, votação "pode ser começo de um processo gradual de capitulação do governo".

Angela Merkel e Christian Wulff durante a votaçãoFoto: AP

Um dia após a maratona de nove horas para a eleição do novo presidente federal da Alemanha, o clima nesta quinta-feira (01/07) foi de desajuste entre os partidos que formam a coalizão de governo liberal-conservadora em Berlim.

No dia anterior, haviam sido necessários três turnos de votação para eleger o candidato do governo, Christian Wulff, à presidência alemã, embora ele teoricamente já pudesse ter obtido a maioria absoluta na primeira votação.

A falta de "disciplina partidária" de alguns membros do colégio eleitoral é interpretada como sinal de crise no governo alemão, que teria deixado claro que os líderes dos partidos da coalizão, a democrata-cristã Angela Merkel, o liberal-democrata Guido Westerwelle e o social-cristão Horst Seehofer, perderam o controle sobre seus correligionários.

Até que o nome de Christian Wulff fosse confirmado pela Assembleia Federal nesta quarta-feira (30/06), a coalizão passou por um sufoco. Quem acompanhou a apuração, transmitida todo o tempo pela televisão alemã, notou que Angela Merkel ficou abalada com o resultado da primeira rodada de votação, quando pelo menos 44 políticos do grupo liberal-conservador não votaram o nome do candidato indicado pelo governo. Pelo menos 20 deles mantiveram essa posição até a terceira votação.

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Nesta quinta-feira, foi dia de balanços na imprensa e interpretações dos representantes políticos. Hermann Gröhe, secretário-geral da CDU (União Democrata Cristã), partido de Merkel, pediu maior cooperação entre os partidos do governo. Segundo ele, numa coalizão é preciso ter "espírito de equipe". "Já antes da eleição presidencial nós todos sabíamos que esse espírito de equipe precisa ser melhorado."

Horst Seehofer, presidente da CSU (União Social Cristã), também pediu uma liderança mais forte da coalizão. Segundo a visão de Seehofer, representantes de ambos os lados não devem simplesmente voltar à rotina. É preciso, segundo ele, dar um fim às "discussões abstratas".

Em entrevista para o canal de televisão ZDF, o ex-presidente do Partido Liberal Democrático (FDP), Wolfgang Gerhardt, disse que a coalizão perdeu a chance de um recomeço. "Até hoje, ela não está em condições de conduzir temas e estratégias, e levar isso até os cidadãos."

Há duas semanas, políticos da CDU já haviam se manifestado insatisfeitos com o fato de Angela Merkel permitir uma influência muito grande do FDP no governo. Merkel, por sua vez, diz não acreditar que a função de administrar o país fique mais difícil depois do ocorrido na Assembleia Federal. Do seu ponto de vista, "agora é importante que o governo faça o seu trabalho". Ela lembrou ter se tratado da eleição do presidente federal, que deve transcorrer de forma livre e aberta.

Merkel e Westerwelle: crise na coalizão?Foto: AP

Também o presidente do FDP e ministro das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, não acha que o governo tenha sido atingido pelo que aconteceu na eleição presidencial. "Acho que o todo o setor político e também a coalizão de governo deveriam se ocupar menos consigo mesmos e mais com a solução de problemas a serem resolvidos". Dois destes problemas, a reforma do sistema de saúde e mudanças no sistema tributário, evidenciam as divergências entre os partidos do governo alemão.

Além disso, o partido liberal enfrenta um problema de imagem no país. Se na eleição federal do ano passado o FDP havia conquistado 14,6% dos votos, agora a preferência do eleitorado pelo partido caiu para 4%, segundo uma pesquisa do Instituto Forsa divulgada na terça-feira.

Na mesma pesquisa, o partido de Merkel obteve 32% e o SPD, 27% da preferência dos eleitores. Manfred Güllner, da Forsa, justifica assim o desapontamento do eleitorado: depois de chegar ao governo, o FDP "se revelou um partido sem conteúdo claro e sem pessoas com força de liderança".

Repercussão na imprensa

Nesta quinta-feira, a tônica da mídia alemã foi praticamente uma. "A eleição de Wulff é a derrota de Merkel", titulou o diário Berliner Zeitung. O jornal popular Bild escreveu que a votação "pode ser o começo de um processo gradual de capitulação do governo". Já o Süddeutsche Zeitung afirma que "o nome de Merkel não estava na cédula, mas ela foi a grande perdedora", enquanto o Handelsblatt acredita que Merkel e Westerwelle "estão lutando pela sobrevivência política".

Política e futebol

A estratégia da administração federal é manifestar otimismo e olhar para frente, afastando o clima de derrota. Ainda nesta quinta-feira, o ministro da Economia, Rainer Brüderle, apresentou dados animadores sobre a recuperação econômica do país.

No próximo sábado, Angela Merkel voa para a África do Sul para acompanhar a partida entre Alemanha e Argentina pelas quartas de final da Copa do Mundo, na expectativa de que uma vitória alemã possa fazer esquecer o ocorrido na semana.

Ao falar com correligionários entre a segunda e a terceira rodada de votação, a chanceler federal usou o Mundial numa metáfora para se expressar sobre como seu candidato seria eleito. "Tivemos o jogo contra a Sérvia, agora vem o jogo conta a Inglaterra", disse, numa referência à derrota da Alemanha para a Sérvia e a vitória alemã contra os ingleses na Copa da África do Sul.

NP/rts/dpa/afp

Revisão: Roselaine Wandscheer

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