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Candidatos à sucessão de Merkel travam segundo debate

12 de setembro de 2021

Embate era encarado como uma das últimas oportunidades para o conservador Armin Laschet reenergizar campanha. No entanto, pesquisas mostram que social-democrata Olaf Scholz foi mais uma vez o vencedor.

Deutschland | Bundestagswahl | TV-Triell der Kanzlerkandidaten
Scholz, Baerbock e Laschet. Eleição alemã deste ano tem sido marcada pela pulverizaçãoFoto: Michael Kappeler/AFP/Getty Images

A duas semanas das eleições alemãs, os três candidatos mais bem posicionados nas pesquisas à sucessão da chanceler federal Angela Merkel participaram na noite deste domingo (12/09) do segundo debate televisivo da campanha. Os participantes foram o social-democrata Olaf Scholz (SPD), o conservador Armin Laschet (CDU) e a verde Annalena Baerbock.

As atenções estavam voltadas para o desempenho de Laschet, o governador da Renânia do Norte-Vestfália, estado mais populoso da Alemanha, e candidato do partido de Merkel, a CDU, que vem penando nas pesquisas e arrisca ficar fora do poder após a partida de Merkel. A chanceler federal deixa o poder depois das eleições de 26 de setembro, tendo completado 16 anos de governo. O debate deste domingo era encarado como uma das últimas oportunidades para Laschet dar novo fôlego a sua combalida campanha, que sofreu com gafes do candidato.

Neste domingo, o democrata-cristão voltou a lançar críticas contra Scholz. Já o social-democrata tentou exibir a mesma postura discreta do primeiro debate, evitando desgaste, mas foi forçado em vários momentos a responder aos ataques de Laschet.

Os temas dominantes do debate incluíram a formação de coalizões, a pandemia e proteção climática. Ao contrário do primeiro debate, que ocorreu em meio à caótica retirada ocidental do Afeganistão, temas de política externa estiveram em grande parte ausentes deste segundo embate.

Laschet desabou nas pesquisas nos últimos meses, mas seu partido conseguiu interromper espiral de perda de apoio recentementeFoto: Daniel Lakomski/Jan Huebner/imago images

No momento, Scholz, que ocupa os cargos de vice-chanceler federal da Alemanha e de ministro das Finanças, aparece no topo das pesquisas. Já Baerbock, que é deputada federal desde 2013 e colíder do Partido Verde, também viu sua campanha passar por altos e baixos, assim como Laschet. O SPD e a CDU governam a Alemanha em conjunto desde 2013, mas a convivência tem sofrido uma erosão nas últimos semanas, diante do crescimento de Scholz.

O cenário é especialmente desolador para a CDU porque o social-democrata Scholz, e não Laschet, tem tido sucesso em emplacar entre os eleitores uma imagem de "nova Merkel", ou uma figura de continuidade tranquilizadora. Recentemente, o ministro das Finanças chegou a posar para uma revista imitando o "Merkel-Raute", o gesto com as mãos imitando um losango, que é a marca registrada da chanceler.

O debate deste domingo e o anterior, que ocorreu em 29 de agosto, foram os primeiros da história da Alemanha que incluíram três candidatos. Também foram os primeiros que contaram apenas com políticos que buscam liderar o governo pela primeira vez. Até então, todos os debates vinham tendo um chanceler buscando a reeleição e um desafiante.

No momento, apesar da liderança de Scholz nas pesquisas, a eleição alemã segue pulverizada. Nenhum aparece com mais de 26% das intenções de voto, o que deve dificultar a costura de coalizões de governo para suceder Merkel.

Pelas pesquisas atuais, o eventual vencedor do pleito provavelmente será obrigado a negociar uma coalizão com pelo menos três partidos para garantir uma maioria no Bundestag (Parlamento alemão), algo que não ocorre na Alemanha desde os anos 1950.

A verde Baerbock aproveitou o debate para atacar o histórico do governo do SPD e da CDU na proteção do climaFoto: Daniel Lakomski/Jan Huebner/imago images

Pesquisas divulgadas neste domingo apontam que o SPD de Scholz conta com até 26% das intenções de voto. A CDU de Laschet e Merkel aparece com 20% e 21% - tendo estancado perdas nos últimos dias, mas ainda com um dos piores resultados já registrados pela CDU em pesquisas. Já os verdes de Baerbock têm entre 15% e 17%, após perderem vários pontos no primeiro semestre. 

Coalizões

Nas últimas semanas, com a campanha de Laschet à deriva, a CDU chegou a arregimentar Merkel para ajudar o candidato. A chanceler abandonou seu estilo discreto e passou a criticar abertamente Scholz, seu ministro das Finanças na coalizão governamental entre a SPD e a CDU. Laschet e Merkel têm explorado especialmente a resistência de Scholz em renegar uma eventual coalizão com o partido A Esquerda, num eventual governo liderado pelos social-democratas.

As últimas pesquisas mostram A Esquerda com até 6% das intenções de voto, um percentual que pode servir para completar uma coalizão com mais de 50% das cadeiras no Parlamento, que também contaria eventualmente com os verdes. No entanto, A Esquerda é alvo constante de críticas no establishment político alemão por suas posições a favor da retirada da Alemanha da Otan e a criação de uma aliança militar que incluiria a Rússia. São justamente esses pontos que foram explorados por Merkel e Laschet para atacar Scholz.

A CDU também tem apelado para uma campanha de "medo" para desgastar o SPD, apontando que o partido de Scholz conta com uma diretório nacional com membros mais à esquerda que o próprio Scholz. Não é a primeira vez os conservadores usam essa tática na Alemanha. Nos anos 1950, durante a Guerra Fria, a CDU se notabilizou por uma campanha que usava o slogan "todos os caminhos do marxismo levam a Moscou" para desestabilizar o apoio ao SPD.

Uma das primeiras questões do debate justamente abordou a formação de coalizões. Laschet aproveitou a ocasião para mais uma vez cobrar Scholz sobre uma eventual coalizão com a A Esquerda. "Os cidadãos alemães não querem um governo com A Esquerda, mas você está evitando descartar isso hoje", disse o conservador ao social-democrata. Laschet também tentou fazer uma equivalência entre os esquerdistas e os membros do partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD), que são amplamente rejeitados pela classe política alemã. No entanto, tal comparação gerou críticas da verde Baerbock.

Tensão, vacinas e habitação

Num momento tenso do debate, Laschet ainda tentou relacionar Scholz ao chamado escândalo do Wirecard, uma empresa alemã de processamento de pagamentos que faliu em 2020, após a revelação de práticas contábeis ilegais. O conservador acusou Scholz, que chefia o Ministério das Finanças, de omissão no caso e não investir o suficiente na supervisão de empresas do tipo. "Se meu ministro das Finanças trabalhasse como você, então teríamos um grande problema ", disse Laschet. Scholz respondeu, dizendo que "com suas perguntas, vemos como você é desonesto ", e argumentando que sua gestão melhorou a fiscalização de empresas.

Scholz tentou manter estilo discreto no debate, sem correr riscos, mas foi forçado a responder aos ataques de LaschetFoto: Daniel Lakomski/Jan Huebner/imago images

Laschet e Scholz também trocaram acusações sobre questões de proteção climática, um tema considerado importante por grande parte do eleitorado. Scholz acusou a CDU de não dar importância ao tema. Já Laschet disse que o SPD bloqueou a aprovação de legislação climática. A verde Baerbock, por sua vez, aproveitou a ocasião para acusar a atual coalizão de governo entre CDU e SPD de falta de empenho em cumprir metas de redução de emissões. Ela também afirmou que a Alemanha é capaz de interromper o uso de carvão muito mais cedo do que o previsto pelos conservadores e social-democratas.

Os três candidatos também defenderam campanhas de vacinação. Laschet e Scholz rejeitaram a imposição de medidas para impor vacinação obrigatória. Já Baerbock se mostrou aberta a discutir algo nesse sentido para funcionários de saúde, no caso de escassez de pessoal vacinado.

O tema da habitação também foi explorado. Scholz e Baerbock se mostraram favoráveis à adoção de mecanismos para frear a alta constante de aluguéis, que tem castigado moradores de Berlim. Scholz também abordou planos para construir centenas de milhares de apartamentos para conter o déficit habitacional. Laschet falou em termos vagos sobre incentivos para a construção de novas habitações e não se posicionou a favor de mecanismos para frear a alta de alugueis, apenas disse que o valor dos contratos não pode subir indefinidamente.

Scholz, o vencedor

Apesar do desempenho mais assertivo de Laschet, pesquisas realizadas após o debate mais uma vez deram a vitória a Scholz, assim como havia ocorrido no primeiro debate. Em um levantamento, 41% dos telespectadores apontaram o social-democrata como o candidato "mais convincente". Enquanto 27% escolheram Laschet. Outros 25% apontaram Baerbock como a vencedora.

Outro levantamento apontou que 34% consideraram Scholz como o vencedor do debate. Enquanto 26% apontaram Baerbock. Laschet amargou 16%.

Mais um debate televisivo com o trio está previsto para ocorrer no próximo domingo.

jps (ots)