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Candidatos a chanceler na Alemanha empatam durante único debate na TV

Wolfgang Dick (md)2 de setembro de 2013

Para especialistas e institutos de pesquisa, chanceler Angela Merkel brilhou com conquistas internacionais, enquanto social-democrata Peer Steinbrück venceu na retórica. Porém, Merkel não deverá perder eleição este mês.

A chanceler alemã Angela Merkel (e.) dá a mão ao concorrente Peer Steinbrück após o debateFoto: Reuters

A chanceler alemã Angela Merkel, do partido conservador União Democrata-Cristã (CDU) se mostrou "soberana" e seu rival, o social-democrata Peer Steinbrück, não perdeu o controle durante os 90 minutos do único confronto entre os dois principais candidatos a primeiro-ministro na Alemanha.

Esta foi a observação de analistas e da imprensa alemã. Porém, o debate televisivo transmitido neste domingo (01/09) não teve muitas surpresas, uma vez que tanto Angela Merkel quanto Peer Steinbrück trocaram argumentos de forma "objetiva e pragmática", evitando ataques pessoais, segundo análise publicada após o debate pelo semanário Der Spiegel.

A três semanas da eleição parlamentar alemã, o confronto acabou em empate técnico. O instituto Forsa de pesquisas, por exemplo, divulgou após o debate que 44% dos entrevistados avaliaram que Merkel venceu o debate, enquanto 43% ficaram mais convencidos pelos argumentos de Steinbrück, que representa o SPD, maior partido oposicionista do país.

Além de entrevistas por telefone com mais de mil espectadores alemães, realizadas por diferentes institutos de pesquisa eleitoral no domingo, dois especialistas avaliaram para a Deutsche Welle a disputa televisiva.

Tanto o diretor da Academia de Retórica da cidade de Bonn, Jörg Abromeit, quanto o cientista político Jürgen W. Falter, professor da Universidade Johannes Gutenberg, em Mainz, concordam que Steinbrück surpreendeu positivamente durante o debate. Ele teria atacado bem, mas conteve o tom incisivo e mais agressivo com que costuma se pronunciar – o que, segundo os dois especialistas, sempre é bem-visto pelos eleitores.

O social-democrata Peer Steinbrück: mais conciso e na posição de ataqueFoto: Reuters

"Steinbrück conseguiu tirar vantagem do estilo de Angela Merkel, que teve um tom mais presidencial e evasivo", constata Jürgen Falter, investigador eleitoral há 40 anos.

Para Falter, Steinbrück conseguiu ser tão conciso nas respostas às perguntas dos quatro jornalistas presentes que aproveitou mais o tempo limitado do debate e, assim, pôde responder a mais perguntas complementares. "No começo, Merkel estava incrivelmente nervosa e tensa, mas conseguiu fazer valeu bem seu bônus de chanceler na última meia hora de transmissão", acredita, por seu lado, Jörg Abromeit, que também é especialista em retórica.

Vitória de uma etapa para Steinbrück

As pesquisas após o debate na TV confirmaram a impressão dos peritos. Segundo sondagem do Institutot Infratest Dimap, o desafiante Peer Steinbrück convenceu com seus ataques e argumentos. Nos primeiros minutos do programa, Steinbrück pediu aos telespectadores que não se deixassem "enrolar" pela chanceler, acrescentando que na Alemanha existem muitos problemas sociais, mas que Merkel não conseguiu resolver grande parte deles em seu governo.

Steinbrück deu como exemplo as reformas prometidas, mas segundo ele não cumpridas, nos sistemas tributário e de saúde. "A chanceler Merkel tem muitas caixinhas coloridas na vitrine, mas elas são todas vazias", ironizou Steinbrück, convidando os eleitores a "abrirem as caixinhas para ver o que há lá dentro."

De acordo com o Infratest Dimap, 60% dos telespectadores consideraram que o oposicionista Steinbrück teve um desempenho melhor que o esperado. Na opinião do professor Jürgen Falter, o que importa é a forma como os candidatos agem sobre os eleitores indecisos. "Nesse ponto, Steinbrück teve uma ligeira vantagem sobre Merkel", considera. A pesquisa mostra que Steinbrück ficou à frente dos indecisos, com 52% de preferência, contra os 36% obtidos por Merkel.

No debate televisivo, Peer Steinbrück conseguiu, com cobranças persistentes, arrancar da líder democrata-cristã uma resposta concreta sobre a planejada introdução de um sistema de pedágio nas estradas alemãs. Merkel afirmou que, sob seu governo, não haverá pedágio nas rodovias.

Quando Steinbrück foi questionado como ele planeja reduzir os preços da eletricidade na Alemanha, ele deu uma resposta clara: "Não vou prometer nada que não posso cumprir", garantiu. Sua franqueza causou melhor impressão nos eleitores que a de Angela Merkel, segundo as pesquisas realizadas na metade do debate por meio de entrevistas telefônicas.

Vantagens de Merkel

Chanceler Angela Merkel lembrou as conquistas internacionais de seu governoFoto: Reuters

Porém, durante a disputa, Angela Merkel transmitiu a impressão de ser mais simpática e competente que o adversário, obtendo quatro pontos a mais que Peer Steinbrück, de acordo com a pesquisa do Infratest Dimap.

Já o instituto Forsa considera que Merkel teve um ponto de vantagem sobre o candidato social-democrata na classificação geral. O motivo seria a competência transmitida pela chanceler ao se referir aos resultados que obteve em negociações internacionais, incluindo o acordo para conter a evasão fiscal durante um encontro do G-20 (grupo dos 20 países mais desenvolvidos do mundo). A posição econômica forte da Alemanha no âmbito da crise europeia também contou pontos a favor de Merkel.

A chanceler, que lidera a maior economia europeia há oito anos, concordou com seu adversário que a Alemanha não deve se intrometer no conflito sírio, mas que deve ser encontrada uma resposta clara em relação ao suposto ataque químico no país, há duas semanas.

Merkel não escondeu que considera boa a cooperação que teve com o SPD entre 2005 e 2009, durante seu primeiro governo. Naquela época, a Alemanha era administrada pela chamada "grande coalizão", que reuniu os dois maiores partidos do país. Merkel foi ainda mais longe e elogiou as medidas tomadas pelas reformas no mercado de trabalho e no sistema de bem-estar social durante o governo de Gerhard Schröder (entre 1998 e 2005), afirmando que o chanceler social-democrata "deu uma enorme contribuição para nosso país".

"A estratégia conciliadora de Merkel se mostrou uma arma difícil de ser contestada e rendeu a ela muitos pontos no quesito simpatia", analisa Jörg Abromeit. Já o cientista político Jürgen Falter criticou a insistência de Merkel em exultar as conquistas do próprio governo. Segundo ele, ela reiterou várias vezes que não era necessário "pintar com cores sombrias" a situação atual da Alemanha.

Porém, Falter considerou os argumentos bem distribuídos entre os dois candidatos. Na opinião dele, Merkel acertou ao apontar a baixa taxa de desemprego e a boa situação econômica da Alemanha. Já Steinbrück ganhou pontos ao recordar que os chamados "mini-empregos" não pagam o suficiente aos funcionários para que consigam se manter durante o mês.

Os efeitos do debate

Cerca de 400 jornalistas acompanharam o debateFoto: picture-alliance/dpa

Os principais institutos de pesquisa apontam a pouca disposição dos eleitores em mudar de governo atualmente na Alemanha, e observam que só um acontecimento de grande repercussão poderia impedir a reeleição de Angela Merkel no dia 22 de setembro.

Tanto Jörg Abromeit como Jürgen Falter confirmam a tendência. "Os eleitores acabam votando como já tinham planejado", diz Falter. Isso significa uma decisão favorável ao partido pelo qual o eleitor já tem simpatias.

Também a maioria dos indecisos, provavelmente, pouco se deixou influenciar pelo debate, que deverá ajudar apenas a "nivelar os dois campos políticos, reduzindo as diferenças entre eles – mas não mais que isso", comenta Falter. "Steinbrück brilhou na retórica, mas a chanceler Merkel continua como chanceler", conclui Abromeit.

As pesquisas realizadas com eleitores após o debate na TV confirmam as conclusões dos peritos. Enquanto somente 10% deles disseram que mudaram de opinião depois do duelo, 41% dos espectadores afirmaram que continuam com a mesma impressão dos candidatos e 47% disseram que não foram influenciados pela transmissão.

Isso aponta para um outro resultado importante. a maioria dos alemães quer exatamente o que Merkel e Steinbrück afirmam rejeitar: uma grande coalizão entre a CDU e o SPD.

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