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Cannes

20 de maio de 2009

O cinema parece ter aderido à globalização: as coproduções internacionais são cada vez mais comuns. Nos grandes festivais, pouco se vê filmes financiados por um só país. Uma tendência confirmada este ano em Cannes.

Cena de 'Looking for Eric', filme de Ken Loach na mostra competitivaFoto: sixteenfilms

Não importa quem saia de Cannes este ano com a Palma de Ouro: é possível que vários países festejem o prêmio, pois metade dos filmes da mostra competitiva é formada por coproduções internacionais de até cinco países.

O britânico Ken Loach, por exemplo, concorre no festival deste ano com um longa financiado por Bélgica, Itália, França e Espanha. Já o filme do dinanarquês Lars von Trier no festival é uma coprodução de Alemanha, França, Suécia e Itália.

Para Michael Schmidt-Ospach, diretor da Fundação de Fomento ao Cinema da Renânia do Norte-Vestfália, os orçamentos mistos só trazem vantagens. "Sem levar em consideração os temas internacionais, sem envolver atores conhecidos internacionalmente, sem o know-how internacional e sem dinheiro de vários países, duvido que o cinema evolua", comenta Schmidt-Ospach.

Temas regionais, recursos internacionais

O diretor britânico Ken LoachFoto: AP

No entanto, independentemente da origem dos recursos financeiros, um filme sempre traz a assinatura do diretor. E as histórias contadas na tela, mesmo quando se trata de uma coprodução internacional, não são necessariamente "internacionais", ou seja, não identificáveis do ponto de vista cultural.

Em Looking for Eric (Procurando por Eric), por exemplo, filme de Loach que concorre esse ano em Cannes, o diretor se volta para um tema essencialmente britânico: o futebol e o universo de seus torcedores no Reino Unido.

Embora o nome no título remeta a Eric Cantona, estrela francesa do futebol, o jogador se tornou conhecido por sua atuação no Manchester United e por ter vencido o Campeonato Inglês pelo Leeds United. O próprio Cantona assume o papel do protagonista Eric, que ajuda um torcedor a se recuperar num momento de crise.

Censura, crime e castigo

Já o chinês Lou Ye financiou seu Spring Fever (Férias de Primavera), uma história de amor gay que está sendo exibida este ano em Cannes, com recursos de Hong Kong e da França. A escolha se deu por razões políticas. Após infindáveis dificuldades com a censura, o diretor resolveu produzir seu filme longe das autoridades chinesas.

Willem Dafoe (e), Lars von Trier e Charlotte GainsbourgFoto: picture-alliance / dpa

Outra coprodução internacional deste ano no festival francês é o último filme do dinamarquês Lars von Trier, que conta, através da figura de um anticristo, uma história sobre crime e castigo.

Um casal resolve se retirar numa casa de campo, depois de ter perdido o filho devido a sua própria negligência. No isolamento da natureza, principalmente a mulher procura por redenção para sua culpa.

Decisão financeira

O filme de Lars von Trier foi totalmente rodado na Alemanha, com a francesa Charlotte Gainsbourg e o norte-americano Willem Dafoe como protagonistas. Para a Fundação de Fomento ao Cinema da Renânia do Norte-Vestfália, uma das instituições viabilizadoras do projeto, o filme foi um caso de sorte, tanto do ponto de vista financeiro, quanto estético.

Para Lars von Trier, por outro lado, a escolha da Alemanha como cenário foi apenas uma decisão financeira. "Recebemos recursos financeiros do país. Essa era a única saída para o filme. A floresta onde rodamos poderíamos ter encontrado também em outro lugar", diz o diretor.

Língua materna

O cineasta norte-americano Quentin Tarantino também filmou parte de seu Inglourious Basterds (Bastardos Inglórios) – outro concorrente em Cannes – na Alemanha, atraído pela gorda oferta de recursos em torno de 6,8 milhões de euros para seu projeto.

O norte-americano Quentin TarantinoFoto: AP

O filme de Tarantino, diga-se de passagem, tem vários atores alemães. No roteiro, os nazistas falam alemão, pois Tarantino fez questão de optar por atores que falassem a língua materna dos personagens.

Vantagens para o mercado

No caso desta edição do festival de Cannes, é possível dizer que, sem a cooperação internacional, alguns filmes nem teriam sido feitos. Uma vez prontos, porém, a grande questão é saber a quem pertecem essas complexas coproduções.

"Não sei quem poderia responder a uma pergunta dessa. Temos vários critérios, dos quais partimos. Mas discutir isso é uma tarefa ingrata, que, no fundo, acaba ocultando o fato de estarmos progredindo de uma forma muito positiva na Europa", conclui Schmid-Ospach em tom de elogio às coproduções internacionais.

Autora: Sigrid Fischer

Revisão: Rodrigo Abdelmalack

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