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Caos antecede primeira eleição presidencial no Egito pós-Mubarak

25 de abril de 2012

A um mês da eleição presidencial no Egito, a situação no país continua confusa. Depois de dez candidatos terem sido desqualificados, aumenta ainda mais a insatisfação com o Conselho Militar no governo.

Foto: Reuters

O Conselho Militar Superior, que governa o Egito há um ano, parece ter conseguido unir toda a população contra si. Os jovens revolucionários estão insatisfeitos sobretudo porque a antiga elite é quem continua dando as cartas no país. Mas também os mais velhos estão insatisfeitos. Segundo uma pesquisa recente, a maioria dos egípcios anseia por uma nova figura autoritária no poder, após meses de caos no país.

Mesmo os salafistas, que surpreendentemente conseguiram um quinto dos votos nas eleições parlamentares, estão inconformados: o candidato deles foi excluído da eleição presidencial. A Irmandade Muçulmana, que até agora vinha evitando criticar o Conselho Militar, passou a declarar publicamente sua insatisfação: pela primeira vez depois de muitos meses, eles participaram na última sexta-feira (20/04) de uma manifestação na Praça Tahrir, ao lado dos liberais e dos grupos jovens, em prol de reformas políticas no país.

Dez candidatos desqualificados

Os protestos haviam sido convocados pelos grupos liberais. Eles querem que nenhum candidato da era Mubarak chegue ao poder na eleição presidencial dos próximos dias 23 e 24 de maio. A comissão eleitoral já desqualificou, por razões formais, 10 dos 23 candidatos. Por outro lado, a comissão aceitou a candidatura de vários políticos, entre eles alguns que ocupavam altos cargos no governo Mubarak, como por exemplo Amr Mussa, ex-secretário-geral da Liga Árabe e por dez anos ministro do Exterior de Mubarak. Ou Ahmed Shafik, o último primeiro-ministro indicado por Mubarak.

Chairat al-Shater, da Irmandade Muçulmana: boas chancesFoto: rtr

Chairat al-Shater, da Irmandade Muçulmana, foi desqualificado por ter sido condenado diversas vezes durante o governo de Mubarak. O mesmo ocorre com o salafista Hazem Abu Ismail, porque as autoridades afirmam que sua mãe adquiriu a cidadania americana. Abu Ismail contesta essa informação. Tanto os salafistas quanto a Irmandade Muçulmana participaram, por essas razões, dos protestos contra o Conselho Militar.

"O fato de muitos candidatos estarem sendo desqualificados antes do pleito prejudica principalmente os islâmicos", analisa a especialista alemã Annette Ranko, do Instituto Alemão para Estudos Globais e Locais (Giga), de Hamburgo. Abu Ismail e al-Shater eram, até agora, os candidatos com melhores chances.

A Irmandade Muçulmana vai enviar agora o substituto Mohammed Mursi à corrida presidencial. "Essa é uma boa jogada", diz Ranko. "Mursi é um ultraconservador. Logo, há a possibilidade de que também os eleitores salafistas se identifiquem com ele", completa a especialista.

Cooperação secreta?

O cientista político Hamadi El-Aouni, da Universidade Livre de Berlim, vê nessa estratégia da Irmandade Muçulmana um indício de cooperação com o Conselho Militar – pelo menos enquanto isso for útil para eles. "A Irmandade Muçulmana afirmou: jamais teremos um candidato próprio. E agora veja: eles têm até mesmo dois ou três. E dizem que são contra o Conselho Militar, porque a legitimação deve vir do povo. Mas, no fundo, não fazem nada que vá realmente contra o Conselho", analisa El-Aouni.

O salafista Hazem Abu Ismail: desqualificado pelos militaresFoto: picture-alliance/dpa

Ele diz não acreditar na veracidade dos protestos da Irmandade Muçulmana contra os militares. "Eles estão fazendo um jogo duplo", diz o especialista em Oriente Médio, nascido na Tunísia e radicado há 40 anos na Alemanha. "Eles decidiram no último momento participar das manifestações de sexta-feira porque queriam ver a Praça Tahrir ocupada. Eles queriam evitar que a opinião pública egípcia percebesse quanta gente poderia ser mobilizada contra si mesmos. Com a própria participação, evitaram que isso acontecesse", completa El-Aouni.

Apoio da Arábia Saudita

A proximidade aos salafistas vem a calhar para a Irmandade Muçulmana. "Eles precisam dos salafistas para vender uma imagem de moderados. Os salafistas são o álibi da Irmandade Muçulmana. Por isso só aparecem esporadicamente, quando a Irmandade precisa deles", avalia o cientista político.

Abdel Moneim Abu Fatouh: entre os favoritosFoto: dapd

Ambos os grupos recebem ajuda da Arábia Saudita. "Na sexta-feira, a Irmandade levantou pela primeira vez bandeiras sauditas em praça pública. A Praça Tahrir estava cheia delas. Isso significa que os sauditas são seus mentores", diz El-Aouni. A Arábia Saudita, segundo ele, quer aumentar sua influência no Egito, entre outros motivos para evitar uma revolução dentro de suas próprias fronteiras. E os islâmicos egípcios se aproveitam do apoio financeiro oferecido pelos ricos sauditas.

A especialista Annette Ranko inclui dois islâmicos entre os quatro candidatos com mais chances na eleição presidencial: Mohammend Mursi, o candidato substituto da Irmandade Muçulmana; e Abdel Moneim Abdul Futuh, que também já pertenceu à Irmandade, mas agora concorre com candidatura independente. Ranko atribui boas chances também a Amr Mussa e Ahmed Shafik, ex-aliados de Mubarak.

El-Aouni manifesta pouco otimismo ao analisar a eleição presidencial. "Não importa quem se torne presidente, ele não terá voz de qualquer maneira. Por isso intelectuais e juristas constitucionais defendem a formação de um conselho presidencial. Este poderia ser formado por quatro presidentes: um titular e três vices, que poderiam governar o país durante um ano, até que uma nova Constituição passasse a vigorar e novas eleições fossem convocadas", diz o especialista.

Autora: Anne Almeling (sv)
Revisão: Alexandre Schossler

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