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Caos do Brexit preocupa empresários

Arthur Sullivan ca
11 de dezembro de 2018

Adiamento na véspera de votação do acordo do Brexit eleva confusão e alimenta incertezas de empresários e investidores no Reino Unido e nos demais países da União Europeia.

Großbritannien Demonstration in London
Foto: Reuters/D. Martinez

Incerteza é o termo que melhor resume o estado atual do Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia, marcada para 29 de março de 2019. A decisão mais ou menos inesperada desta segunda-feira (10/12) de adiar a votação no Parlamento em Londres sobre o acordo de saída em face de uma derrota certa, tomada pela primeira-ministra Theresa May, dá continuidade a um longo ciclo de confusões e, em última análise, de caos.

Situações de incerteza – e, pior ainda, de caos – são um pesadelo para líderes empresariais, investidores e analistas de mercado, que dependem de coisas em que podem confiar. A reação de desânimo de empresários britânicos à mais recente reviravolta foi bem resumida por Carolyn Fairbairn, diretora-geral da influente Confederação da Indústria Britânica (CBI).

"Este é mais um golpe para as empresas, desesperadas por clareza", disse Fairbairn em reação à votação cancelada. "Os planos de investimento foram suspensos por dois anos e meio. A menos que um acordo seja acertado rapidamente, o país corre o risco de caminhar para uma crise."

Os mercados rapidamente refletiram essa falta de clareza. A libra esterlina atingiu seu nível mais baixo desde abril de 2017 e foi cotada a 1,10 euro (por volta de 4,90 reais). No final do pregão de Londres, nesta segunda-feira, ela havia caído 1,4% em relação ao dólar.

O índice FTSE 100, da Bolsa de Valores de Londres, também foi afetado, com uma forte venda de ativos no breve período de negociações que se seguiu ao anúncio de May. Ele havia caído quase 1% até o final do pregão.

Caos na travessia entre Dover e Calais é pesadelo para quem faz negócios nos dois ladosFoto: Getty Images/AFP/B. Stansall

Os efeitos do aprofundamento da incerteza se fazem sentir também longe das costas britânicas e europeias. "O mercado está preocupado que o adiamento consuma um tempo valioso antes da data limite de 29 de março, e o risco de um cenário sem acordo está crescendo", declarou o economista David de Garis, do National Australia Bank, sobre o efeito nos mercados globais.

O acordo acertado entre a UE e o Reino Unido não tem apoio suficiente entre os parlamentares britânicos para ser aprovado na Câmara dos Comuns, mas ainda mais importante é o fato de a UE ter deixado bem claro que esse acordo não está aberto à renegociação.

Portanto, salvo uma mudança dramática de opinião em Londres, isso indica dois cenários realistas para o Brexit, no momento: uma saída sem acordo ou, simplesmente, nenhum Brexit.

Líderes empresariais de várias áreas e setores industriais em todo o Reino Unido e na Europa sempre afirmaram que o melhor cenário seria que o Brexit jamais se concretizasse.

Os acontecimentos desta segunda-feira, porém, elevaram a probabilidade de um Brexit sem acordo acontecer – de longe o pior cenário, segundo essas mesmas lideranças empresariais. As implicações econômicas de um Brexit sem acordo, como o caos na travessia entre Dover-Calais, são perturbadoras para muitos desses líderes.

Representantes empresariais e da indústria alemã sempre foram contundentes e diretos em sua oposição ao Brexit. O empresário Holger Bingmann, presidente da BGA – associação comercial que representa os setores atacadistas, de comércio exterior e de serviços da Alemanha – nem sequer tentou minimizar sua frustração e temores com o processo.

"Que bagunça!", disse Bingmann, em comunicado. "Apenas três meses antes do prazo, as empresas ainda não sabem o que esperar e como proceder. O próximo tremor do Brexit será sentido em ambos os lados do Canal da Mancha. Este é um desastre sem precedentes."

"O fato de o lado britânico tentar ganhar tempo e renegociar é inacreditável e irresponsável, também para a própria população", completou.

As implicações comerciais de um Brexit sem acordo são profundas. Desde a criação de tarifas, alfândega, segurança e outros controles no comércio futuro entre o Reino Unido e a UE, passando por padrões regulatórios divergentes sobre produtos manufaturados até o caos nas fronteiras e portos: para qualquer empresário cujo negócio dependa de uma boa conexão entre o Reino Unido e a UE, a lista de consequências é assustadora.

Porém, em nenhum lugar da Europa há uma apreensão maior frente ao resultado das negociações do Brexit do que na Ilha da Irlanda, especialmente na Irlanda do Norte. A fronteira Irlanda-Irlanda do Norte tornou-se o principal tópico de batalha no processo de separação entre o Reino Unido e o bloco europeu.

A Irlanda do Norte integra o Reino Unido, mas seus cidadãos têm direito à cidadania irlandesa sob os termos do Tratado de Paz de Belfast. Ela foi reconhecida no acordo UE-Reino Unido como digna de status especial no processo do Brexit. O acordo permite que a Irlanda do Norte permaneça efetivamente tanto na união aduaneira da União Europeia quanto no mercado interno do Reino Unido, independentemente do resultado das negociações do Brexit.

Portanto, não é nenhuma surpresa que os líderes empresariais da região tenham reagido com a mesma preocupação e temor que aqueles no resto da UE e do outro lado do Mar da Irlanda à mais recente convulsão em Westminster.

"Qualquer atraso num futuro acordo é extremamente preocupante, especialmente quando faltam apenas três meses para o Reino Unido deixar a UE", disse Aodhán Connolly, diretor do Consórcio Varejista da Irlanda do Norte.

"Um resultado sem acordo resultaria em custos mais elevados, prejudicando os consumidores norte-irlandeses que já sofrem com metade do poder de compra discricionário [depois de pagos impostos e outras despesas] dos que se encontram no restante do Reino Unido. O Parlamento deve encontrar urgentemente uma proposta viável para evitar um ameaçador cenário sem acordo. O relógio do Brexit bate forte."

No entanto, continua a ser um palpite o que vai acontecer quando chegar finalmente a hora da separação.

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