Dois dias após terremoto, Nepal ainda vive caos e desespero
Rafael Plaisant27 de abril de 2015
Nepaleses enfrentam frio e chuva acampados em barracas. Muitos abandonam Katmandu por temer novos tremores. Contato com parentes é dificultado pelo colapso das comunicações e do sistema de energia.
Anúncio
Dois dias depois do devastador terremoto de magnitude 7,9 na escala Richter, milhares de nepaleses enfrentam o frio noturno e a chuva acampados em barracas em áreas livres da capital, Katmandu, temendo retornar para casa por causa do risco de novos tremores ou simplesmente porque perderam tudo o que tinham.
Outros passaram a noite em seus carros. "O meu marido disse que provavelmente é mais seguro no carro. Choveu toda noite, e não saberíamos o que fazer se o nosso filho pegasse um resfriado na chuva", afirmou Muna Lama, com o filho de oito meses no colo.
Nesta segunda-feira (27/04), muitas pessoas percorriam os destroços de suas residências em busca de parentes perdidos ou tentavam recuperar alguns de seus pertences, soterrados pelas ruínas. O número oficial de mortos já passa de 4 mil e sobe a cada hora. A autoridades já falam que deve passar de 5 mil.
Muitas pessoas tentavam deixar Katmandu na manhã desta segunda, temendo que novos tremores nas próximas horas pudessem piorar ainda mais a situação. Estradas de saída da capital estavam cheias de pessoas, algumas com crianças nos braços, tentando subir em ônibus ou pegar uma carona em carros e caminhões que abandonavam a cidade.
Longas filas se formaram no Aeroporto Internacional de Tribhuvan, com turistas e moradores tentando desesperadamente conseguir lugar num avião. Uma indiana declarou à agência de notícias Reuters que venderia todo o ouro que tinha para conseguir uma passagem, mas não havia nada disponível.
"Estamos indo embora", disse Krishna Muktari, dono de um mercado em Katmandu. "Como viver aqui? Eu tenho filhos, eles não podem sair correndo de casa toda noite", explicou.
A falta de informação é outro problema. "Há muito medo e confusão. Não sabemos o que fazer ou quanto tempo ainda vamos ficar aqui", disse Bijay Sreshth, que, acampada num parque da cidade, ouvia rádio na esperança de obter alguma informação oficial do governo.
Nepaleses que moram no exterior – a diáspora nepalesa é estimada em 6 milhões de pessoas – tentam contatar seus parentes, em meio às dificuldades causadas pelo colapso das comunicações e do serviço de eletricidade.
As autoridades lutam para restabelecer os sistemas de energia e comunicação e para fornecer alimentos e água para a população, tudo isso em meio aos temores de epidemias. O pequeno país asiático, de 28 milhões de habitantes e um dos mais pobres da região, depende da ajuda internacional para superar a atual crise.
Além de helicópteros para as operações de resgate em áreas rurais, o governo disse necessitar de alimentos e água potável.
AS/ap/dpa/rtr/afp
Patrimônio Mundial destruído no Nepal
Terremoto devastador matou e feriu milhares de pessoas. Tremor também foi duro golpe contra a rica herança cultural do país asiático.
Foto: P. Mathema/AFP/Getty Images
Vale de Katmandu
O terremoto no Nepal danificou bastante o coração cultural e espiritual do país. No vale de Katmandu, no sopé do Himalaia, há sete monumentos considerados Patrimônio Mundial da Unesco ao longo de poucos quilômetros. Na foto, tirada antes do terremoto, vê-se um deles: os mosteiros de Swayambhunath.
Foto: Imago
As estupas budistas de Swayambhunath
As estupas e os mosteiros budistas de Swayambhunath (foto) formam um centro espiritual no Nepal. A estupa de Bodhnath, as praças Durbar das três cidades reais e os templos hindus de Pashupatinath e Changu Narayan, fora de Katmandu, também estão na lista de Patrimônios Mundiais.
Antigamente, famílias reais viviam nos palácios da praça Durbar de Bhaktapur (foto), da praça Durbar em Katmandu e da praça Durbar de Patan. Foi somente no final de 2007 que o Nepal aboliu a monarquia e proclamou a república no ano seguinte.
Foto: picture alliance / ZUMAPRESS/P. Gordon
Praça Durbar de Bhaktapur, após o terremoto
Nas cidades reais de Bhaktapur (foto), Patan e no centro de Katmandu, vários templos e estátuas dos séculos 12 até o 18 foram danificados ou completamente destruídos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/N. Shrestha
Praça Durbar de Katmandu, antes do terremoto
Na Praça Durbar de Katmandu, capital do Nepal, havia vários pagodes característicos do país, com dois ou três andares.
Foto: P. Mathema/AFP/Getty Images
Praça Durbar de Katmandu, após o terremoto
O terremoto destruiu os pagodes. O especialista P. D. Balaji, da Universidade de Madras, na Índia, questiona se os prédios poderão ser totalmente reconstruídos. "É uma perda irreparável para o Nepal e para o resto do mundo."
Foto: P. Mathema/AFP/Getty Images
Torre Dharahara, antes do terremoto
Entre as atrações de Katmandu estava esta torre de nove andares e 62 metros de altura. Ela também desabou durante o terremoto, no último sábado (25/04) à tarde.
Foto: imago
Torre Dharahara ,após o terremoto
Da torre, que tinha uma escada em espiral de 200 degraus, só restou a base. Equipes de socorro tentaram resgatar cerca de 50 pessoas que ficaram sob os escombros, noticiou uma emissora de televisão. O forte terremoto de 1934 já havia destruído a torre de doze andares, construída em 1826 e que, mais tarde, foi reconstruída.
Foto: P. Mathema/AFP/Getty Images
Templos de Changu Narayan
Os quatro templos e três palácios, reconhecidos pela Unesco em 2006 como Patrimônio Mundial, são testemunhos da história política e religiosa do Nepal.
Foto: imago
Templo de Pashupatinath
O templo hindu é um dos mais importantes do gênero no Nepal. Hinduísmo e budismo se disseminaram ao longo dos séculos no Nepal e levaram à construção de templos magníficos, a partir do século 5.
Foto: picture alliance/ANN/The Star
Local de nascimento de Buda
No total, há no Nepal, além do vale de Katmandu, três outros locais com Patrimônios Mundiais: Lumbini (foto), o parque nacional de Chitwan e o parque nacional de Sagarmatha . A Unesco busca informações sobre a situação de Lumbini. A cidade, cerca de 280 quilômetros a oeste de Katmandu, é considerada o local onde Buda nasceu.
Foto: AFP/Getty Images/K. Knight
Um dos países mais pobres da região
O epicentro do terremoto no último sábado fica cerca de 80 quilômetros a oeste da capital Katmandu. O terremoto, com 7,8 de magnitude, ocorreu a uma baixa profundidade, tendo consequências mais graves. O Nepal é um dos países mais pobres do sul da Ásia. O país tem 28 milhões de habitantes, e a economia é quase totalmente dependente do turismo.