Capela de São Jorge, a última morada da rainha Elizabeth 2ª
Gaby Reucher | Silke Wünsch
19 de setembro de 2022
Quase todos os serviços funerários da família real britânica são realizados na Capela de São Jorge, lugar histórico no Castelo de Windsor onde a rainha do Reino Unido morou e agora terá seu repouso eterno.
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O nome "capela" é um pouco enganador, pois a de São Jorge, na Inglaterra, mais parece uma catedral. Dedicada ao padroeiro da Inglaterra, ela tem 72 metros de comprimento, se situa Castelo de Windsor, residência da rainha Elizabeth 2ª, e é tradicionalmente a igreja de casamentos, batismos e luto da família real britânica.
Harry e Meghan Markle se casaram lá, seu filho, Archie Harrison Mountbatten-Windsor, bisneto de Elizabeth 2ª e do príncipe Philip, também foi batizado nela. E numerosos membros da família real estão enterrados no local, como Henrique 8º.
A ordem para a construção da primeira Capela de São Jorge foi dada pelo rei Henrique 3º, no início do século 13. Em 1475, Eduardo 4º decidiu construir uma nova igreja maior. No entanto, as obras se arrastaram por cinco décadas, e ela permaneceu sem teto até 1528.
Construída em arenito claro, com grandes janelas e arcos de apoio decorados, em níveis diferentes, ela é uma das igrejas góticas tardias mais importantes do mundo. O assim chamado "estilo perpendicular", com suas rígidas linhas horizontais e verticais, era típico das catedrais inglesas da época. No século 19, aproveitando amplas reformas na igreja, foi construída a cripta real.
Os Cavaleiros da Rainha
No interior, destacam-se as bancadas do coro magnificamente esculpidas em carvalho para os cavaleiros da Ordem da Jarreteira. Sobre seus assentos estão penduradas as bandeiras dos atuais membros, bem como os brasões de mais de 700 ex-integrantes da ordem.
A Capela de São Jorge foi usada pelos Cavaleiros da Jarreteira para suas cerimônias. Seu nome remonta ao militar e padroeiro nacional São Jorge. Desde 1833, os integrantes da ordem são chamados de Cavaleiros Militares de Windsor. O príncipe Philip também era membro da ordem, que, segundo a especialista em nobreza Julia Melchior, é "a mais respeitada do reino e uma das mais respeitadas da Europa".
A rainha era a grã-mestre e usava a ordem para vincular a si os cavaleiros, em sua maioria membros de outras casas reais − um privilégio, segundo Melchior. A sociedade se reúne uma vez por ano na capela-mor de São Jorge, onde o caixão do príncipe Philip ficou durante seu funeral, em 2021. Sua corrente de medalhas foi colocada no altar, assim como todas as suas medalhas e condecorações militares.
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Capela de casamentos
Apesar de seus 800 lugares, a capela é destinada a eventos mais intimistas. Os muros do Castelo de Windsor impedem que espectadores tenham acesso à frente da igreja. Ao contrário da Abadia de Westminster, no centro de Londres, diante de cuja porta multidões podem se reunir. Também nela acontecem casamentos e serviços funerários para monarcas e seus herdeiros ao trono.
O príncipe William e a duquesa Kate se casaram na abadia em 29 de abril de 2011, diante de 1.900 convidados. Já o casamento dos pais de William, o então príncipe Charles e Diana, foi um evento de Estado, com mais de 3.500 convidados, na ainda maior Catedral de São Paulo.
Harry e Meghan, por outro lado, celebraram seu casamento na capela de São Jorge de forma relativamente íntima, com 600 convidados. O atual rei britânico, Charles 3º, casou-se com sua segunda esposa, Camilla Parker-Bowles, hoje rainha consorte, também na Capela de Windsor, mas sem grande alarde.
Última morada da realeza
Quase todos os serviços fúnebres para membros da família real foram realizados na Capela de São Jorge. Embora Elizabeth Bowes-Lyon, popularmente conhecida como "Rainha Mãe", tenha sido velada publicamente em Londres, houve um serviço fúnebre na capela de Windsor apenas para os familiares. Por sua vez, a princesa Diana não recebeu essa honra, como esposa divorciada de Charles: o serviço fúnebre da "rainha dos corações" transcorreu na Abadia de Westminster.
Muitos membros da família real, especialmente princesas e príncipes, estão enterrados no cemitério privado de Frogmore. É uma propriedade na área do Castelo de Windsor, cujo nome vem das rãs coaxantes que vivem na área pantanosa. Ali também fica o Mausoléu Real, onde descansam a rainha Victoria e seu marido, o príncipe Albert.
Membros da família de alto escalão, como George 3º, George 4º, a "rainha mãe", Margaret, irmã de Elizabeth 2ª, e o príncipe Philip estão enterrados na Capela de São Jorge. Agora, Elizabeth 2ª também encontra ali seu último descanso, ao lado do marido, morto em 2021.
A família real britânica
O conceito de "família real" surgiu na metade do século 19, com o príncipe Alberto e a rainha Victoria. Desde então, não é só uma rainha ou um rei que representam o Império Britânico, mas uma família inteira.
Foto: Daniel Lea/AFP
Um conceito de família
O conceito de "família real" surgiu na metade do século 19, com o príncipe Alberto, a rainha Victoria e os nove filhos. Desde então, não é só uma rainha ou um rei que representam o Império Britânico, mas uma família inteira. Os Windsor modernizaram e aperfeiçoaram esse conceito. Tanto que a rainha Elizabeth 2ª até aceitou a segunda esposa de seu filho Charles na família.
Foto: picture-alliance/dpa/PA Wire/Yui Mok
Monarquia em perigo
O rei George 5º e seu primo, o czar Nicolau 2º da Rússia, eram até bem parecidos em sua fisionomia, mas George se distanciou de Nicolau quando este teve de abdicar devido à revolução de fevereiro de 1917. Temendo revoltas em seu próprio império, ele logo voltou atrás numa oferta de asilo político. Pouco depois, Nicolau 2º foi assassinado.
Foto: picture-alliance/Heritage Images
Rei George 5º e Mary of Teck
Controverso durante a Primeira Guerra Mundial, o reinado de George 5º se estabilizou rapidamente após a mudança de nome para Windsor. Enquanto em outros lugares as monarquias enfrentavam crises, George 5º liderava o Reino Unido através da crise econômica e permitiu a independência de colônias britânicas dentro da Commonwealth.
Foto: picture-alliance/akg-images
Reinado curto de Edward 8º
Após a sua morte, em 1936, George 5º foi sucedido no trono pelo filho Edward 8º. O reinado deste foi um dos mais curtos da história britânica, com apenas 326 dias. A relação entre o playboy e a americana Wallis Simpson foi um escândalo e causou uma crise constitucional. O governo conservador acabou forçando Edward a abdicar.
Foto: picture-alliance/Photoshot
O pai de Elizabeth
Seu irmão mais novo assumiu o trono em 1937 como George 6º. Com a esposa, Elizabeth, e suas duas filhas, Elizabeth e Margaret Rose, ele trouxe uma família intacta ao palácio. Ele conduziu o país durante a Segunda Guerra Mundial, mas esta lhe custou a saúde: ele morreu em 1952, aos 56 anos, por causa de uma trombose coronariana.
Foto: picture-alliance/IMAGNO/Austrian Archives
Castelo de Windsor
Uma das receitas para o sucesso dos Windsor é a forma como eles enfrentam as crises. Durante a Segunda Guerra Mundial, a família real compartilhou das dificuldades vividas pelos súditos e viveu, por exemplo, apenas com as rações de comida. O rei permaneceu em Londres apesar dos bombardeios alemães e dos danos no Palácio de Buckingham. Só os fins de semana ele passava com a família em Windsor.
Foto: picture-alliance/IMAGNO/Austrian Archives
"Queremos o rei!"
Com o seu engajamento e sua determinação, os membros da família real se tornaram símbolos da resistência britânica ao fascismo. Após a rendição das tropas alemãs em 8 de maio de 1945, uma multidão eufórica gritou em frente ao palácio de Buckingham: "Queremos o rei!". George 6º estava no auge da popularidade.
Foto: picture-alliance/akg-images
Casamentos reais como eventos do ano
Em 1947, multidões foram a Londres para o casamento da então princesa Elizabeth e de Philip Mountbatten. A união livre de escândalos gerou quatro filhos, assegurando continuidade aos Windsor em tempos em que muitas monarquias se desfizeram.
Foto: picture-alliance/akg-images
Charles esperou muito pelo trono
O casamento entre o príncipe Charles e Lady Diana nunca foi feliz. Ele terminou em 1992, trazendo danos à imagem da família real. Os dois filhos tiveram de superar não só a separação dos pais, como a morte da mãe em um acidente de carro em 1997. Levou muito tempo até que Charles voltasse a ser visto como um membro respeitado da família real.
Foto: picture-alliance/dpa
Um reinado de aniversário
Em 2012, o reino celebrou as bodas de diamante da rainha Elizabeth e, em 2016, o seu aniversário de 90 anos. Nenhum outro soberano esteve por tanto tempo à frente da monarquia britânica. Ela é o chefe de Estado há mais tempo no cargo em todo o mundo. Apesar das críticas à família real britânica, o apoio à monarquia, no reinado dela, segue inabalado.
Foto: imago/i Images
William e Kate, a monarquia moderna
Após a separação dos pais e a trágica morte da mãe, a vida privada de William, neto da rainha, começou a ser alvo do interesse do público. Em 2011, ele se casou com Kate Middleton, uma plebeia que demonstrou gosto pelo seu papel na família real. O casal já ampliou a família com três pequenos herdeiros.
Foto: AFP/Getty Images/C. de Souza
A próxima geração
Os novos membros da família Windsor já concentram as atenções da mídia. "Efeito príncipe George" é o nome dado à influência que o pequeno príncipe exerce sobre a economia e a cultura pop. Ou seja: o que George veste ou usa vende bem. Na foto, vê-se George ao lado da irmã, Charlotte.
Foto: imago/i Images
Mais um na linha de sucessão
Em 23 de abril de 2018, Kate deu à luz seu terceiro filho. O menino é o quinto na linha de sucessão ao trono britânico. O primogênito da rainha, príncipe Charles, encabeça a lista, seguido pelo príncipe William, George, Charlotte e o mais novo membro da família real.
Foto: picture-alliance/ZUMAPRESS.com/T. Nicholson
Mais dois netos para a rainha
Em 6 de maio de 2019, a poucos dias de completarem um ano de casados, o príncipe Harry e a esposa, Meghan Markle, anunciaram a chegada do primeiro filho, Archie, que é o sétimo na linha de sucessão ao trono britânico. Em 4 de junho de 2021 nasceu a filha deles, Lilibet Diana.
Foto: Prince Harry and Meghan, The Duke and Duchess of Sussex/dpa/picture alliance
O "Megxit"
Em janeiro de 2020, Harry e Meghan renunciaram ao título "sua alteza real" e a recursos públicos, em troca de uma vida independente. O casal passou a ser "apenas" duque e duquesa de Sussex. A família real concordou com a renúncia após o casal comunicar à rainha o desejo de abdicar do status de "membros sêniores" da monarquia para serem economicamente independentes e viver na América do Norte.
Foto: AFP/D. Leal-Olivas
Entrevista bombástica a Oprah Winfrey
Em março de 2021, Harry e Meghan falaram da dificuldade de conviver com a família real, racismo e depressão. Segundo Meghan, a família e quem comanda a instituição são coisas separadas. Filha de uma afro-americana, Meghan falou da "preocupação sobre quão escuro" seria seu filho. A pressão a fez pensar em suicídio. Harry disse que o pai e o irmão estão "presos" em seus papéis.
Foto: Harpo Productions/Joe Pugliese/REUTERS
Grande perda para a rainha
Em 9 de abril de 2021, morreu o príncipe Philip, marido da rainha Elizabeth 2ª. O Duque de Edimburgo tinha 99 anos, e sua saúde vinha se deteriorando há algum tempo. Ele e a rainha da Inglaterra estavam casados desde 1947.
Foto: John Patrick Fletcher/Action Plus/imago images
70 anos no trono
Elizabeth 2ª acumulou recordes notáveis: aos 96 anos de idade, foi a monarca reinante mais antiga e teve o casamento mais duradouro na história da realeza britânica. Sua coroação entrou para a história, com recorde de espectadores – carca de 300 milhões mundo afora. E, por fim, ninguém jamais ocupou por tanto tempo o trono britânico. Em 2022, ela completou 70 anos no trono.
Foto: Daniel Leal/AFP
A morte de uma rainha
No dia 8 de setembro de 2022, foi anunciada a morte da rainha Elizabeth 2ª, causando comoção em toda Commonwealth. No seu enterro, em 19 de setembro, compareceram chefes de governo e de estado do mundo inteiro. Multidões acompanharam os féretros e as cerimônias fúnebres.