Capitão do Costa Concordia põe culpa pelo naufrágio na tripulação
2 de dezembro de 2014
"Foi um erro estúpido", afirma Francesco Schettino, que nega ter tentado impressionar uma mulher com quem jantara pouco antes. Promotoria pede 20 anos de prisão.
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Em seu primeiro depoimento à Justiça, o capitão Francesco Schettino, de 54 anos, colocou a culpa pelo naufrágio do navio Costa Concordia em parte da tripulação. "Ninguém me disse nada", declarou várias vezes nesta terça-feira (02/12), durante uma audiência em Grosseto, na Itália. "A origem do desastre foi um erro estúpido", disse Schettino, em referência à falta de comunicação entre ele e os outros membros da tripulação.
Um procurador envolvido no caso disse à agência de notícias Ansa que a promotoria pede 20 anos de prisão para Schettino, a única pessoa que está sendo julgada pelo naufrágio que matou 32 pessoas em janeiro de 2012. Ele foi um dos primeiros a abandonar o navio, que tinha 4.200 pessoas a bordo.
Durante uma manobra arriscada diante da ilha italiana de Giglio, o Costa Concordia colidiu contra uma rocha e naufragou. Schettino disse que a manobra, na qual o navio "saúda" a ilha e os passageiros podem admirar a costa, tinha motivos comerciais. Além disso, ele queria fazer um agrado a um membro da tripulação, natural da ilha, bem como prestar uma homenagem a um capitão seu amigo, que também é oriundo de Giglio.
Schettino rejeitou a acusação de que teria tentado impressionar uma mulher com quem havia se encontrado anteriormente no restaurante da embarcação, mas um membro da tripulação declarou, em depoimento, que a mulher estava no navio e confirmou ter tido uma relação com o capitão. A mulher, uma dançarina loira da Moldávia cerca de 20 anos mais nova, estava no navio de forma irregular.
Schettino disse ter retornado do restaurante cerca de 15 minutos antes do acidente, e que até aquele momento o seu vice tinha o comando da embarcação. Quando retomou o comando, ele teria partido do princípio de que a embarcação estava a meia milha marítima da ilha, em segurança. Se havia dúvidas a esse respeito, a tripulação deveria tê-lo avisado, afirmou. Ele teria olhado apenas de relance para o radar. Questionado por que então perguntou à guarda costeira se havia profundidade suficiente a 0,3 milha marítima da costa, Schettino disse que apenas queria "puxar conversa".
O capitão disse que a empresa responsável pelo cruzeiro não sabia do desvio de rota, mas acrescentou que esse tipo de manobra é comum e que o capitão tem autoridade para decidir se vai fazê-la. Ele reconheceu que, na condição de capitão, é o principal responsável pela tragédia.
Registros de caixa-preta indicam que ele não tinha ideia do perigo que o navio corria. Poucos minutos antes do desastre, Schettino ordenou uma mudança de direção e fez uma piada em inglês: "Otherwise we go on the rocks" (do contrário vamos colidir nas pedras, em tradução livre). Suas últimas palavras registradas são: "Madonna, o que eu produzi?". A audiência em Grosseto prossegue nesta quarta-feira.
A última viagem do Costa Concordia
Desde o acidente, há dois anos e meio, o navio de cruzeiro Costa Concordia está encalhado em frente à ilha italiana de Giglio. Agora, a última etapa da operação de resgate e remoção está prestes a ser completada.
Foto: dapd
Quase como se nada tivesse acontecido...
..., o Costa Concordia voltou a flutuar no Mar Mediterrâneo nesta segunda-feira (14/07). A chamada flutuação – a fase mais delicada da operação de resgate e remoção – começou. Lentamente, os dois contêineres à esquerda e à direita do navio vão ser preenchidos com ar, para elevar a embarcação em cerca de dois metros.
Foto: Laura Lezza/Getty Images
Pronto para a última viagem
Em seguida, o navio deverá ser rebocado 30 metros mar adentro, onde especialistas o prenderão a outros objetos de sustentação. O plano, então, é elevar em mais dez metros o navio e transportá-lo até Gênova , onde será demolido. Dez embarcações vão acompanhar a embarcação na viagem, que deve durar quatro dias.
Foto: Reuters
Fase delicada
A preparação para o reboque foi planejada para durar cerca de uma semana. A flutuação é um dos últimos grandes desafios dessa fase de resgate, pois o navio danificado corre risco de se partir e liberar poluentes no mar, como petróleo, por exemplo.
Foto: Reuters
Evitar todo e qualquer risco
O processo complexo de elevação do navio é controlado 24 horas por dia por uma equipe de engenheiros numa sala de controle. Câmeras e microfones foram instalados dentro do Costa Concordia para detectar alterações nas suas paredes.
Foto: picture-alliance/dpa
Estação final: Gênova
Na cidade no norte da Itália, o navio de luxo será desmontado, e 80% dele devem ser reciclados. O desmonte deve durar mais de um ano e custar 100 milhões de euros. Na Turquia, os custos seriam de 40 milhões de euros, mas Gênova foi escolhida devido à distância. A rota mais curta evita danos ambientais.
Foto: picture-alliance/dpa
Em pé novamente
Em setembro de 2013, o navio de 290 metros de comprimento foi colocado novamente na posição vertical, depois de ficar mais de 20 meses deitado no Mar Mediterrâneo. Numa operação de 19 horas, o Costa Concordia foi virado milímetro por milímetro.
Foto: Andreas Solaro/AFP/Getty Images
Espetáculo para curiosos
Muitos moradores e visitantes da ilha de Giglio acompanharam atentamente a operação. O navio precisou ser deslocado em 65 graus para voltar à posição vertical, com a ajuda de um complexo sistema de roldanas, contrapesos e enormes correntes. Também nessa etapa, o navio corria risco de se romper.
Foto: Reuters
Resgate sem precedentes
Os técnicos deslocaram o navio milímetro por milímetro para estabilizá-lo. Depois, ele foi posicionado sobre uma base submarina, uma espécie de andaime fixado no fundo do mar, em que o Costa Concordia estava apoiado até agora.
Foto: Reuters
O dia fatal
No dia 13 de janeiro de 2012, aproximadamente às 21h45, a embarcação bateu numa rocha próxima à ilha de Giglio. O navio navegou por algumas centenas de metros, até virar e afundar na costa italiana.
Foto: AP
Evacuação tardia
A bordo estavam 4.229 pessoas, entre elas, cerca de mil tripulantes. Uma grande parte dos passageiros estava jantando na hora do acidente. Inicialmente, o capitão falou sobre um problema com o abastecimento de energia elétrica. Somente às 22h30 foi dado o sinal para evacuar o navio.
Foto: picture-alliance/dpa
Nem todos sobreviveram
O Costa Concordia foi enchendo de água até virar. O acidente deixou 32 mortos, tendo o corpo de uma das vítimas nunca sido encontrado. A maioria dos passageiros conseguiu ser resgatada com barcos e helicópteros. Outros pularam no mar e nadaram até a costa.
Foto: REUTERS
Processo judicial contra o capitão
O capitão do navio, Francesco Schettino, foi preso logo após o acidente. O italiano de 52 anos está sendo julgado por homicídio culposo, imprudência, naufrágio e abandono do navio.
Foto: REUTERS
Turismo com vista para os destroços
A população de Giglio vive do turismo. Após o acidente, o setor expandiu 30%. Mas aumentou somente o número de turistas que passam o dia na ilha – e quase não trazem lucro para os nativos. Por isso, é grande o desejo de que a embarcação seja, finalmente, removida da costa.