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Poder da escuridão

27 de fevereiro de 2011

Cidade no sul da Finlândia explora o potencial artístico e energético da ausência de luz no projeto "Pitchblack Nightlife". Festas, visitas a galerias, apresentações de dança e teatro, tudo completamente no escuro.

'Vida noturna negra como o breu'Foto: Klaus Jansen/ DW

Está escuro. Negro como a noite. Não se vê nada. Ainda assim, o ambiente é animado, no pequeno galpão de festas em Turku, no sul da Finlândia. Um grupo de visitantes alemães a uma das capitais culturais europeias de 2011 conversa, ri e dança ao som do acordeão ao vivo.

Mas só mesmo os dançarinos e os músicos para saber se realmente se está dançando, e se a música é ao vivo. É preciso fantasia, diz Paula Väinämö, a artista que convida à Pitchblack Nightlife (Vida noturna negra como o breu), projeto que se ocupa da escuridão.

Há um bar, há mesas e cadeiras e uma pista de dança, mas a luz falta por completo. "Como o escuro é mesmo total, um outro universo se abre", explica Väinämö. "Nele se encontra cultura, mas de uma forma completamente diferente. A obscuridade não é vazia, ela tem muitas cores. Mas são outras cores."

Diversas faces do escuro

Caraoquê no escuroFoto: Klaus Jansen/DW

A artista, ela mesma portadora de deficiência visual aguda, propôs seu projeto como um experimento: o que a escuridão faz com os que entram nela? Como reagem as pessoas que, durante uma hora e meia, tornam-se cegos entre cegos?

As condições iniciais são as mesmas para todos, mas as reações são extremamente diversas, explica Paula Väinämö. "Alguns acham que deixam de existir quando estão em silêncio, por isso se tornam muito barulhentos e falam o tempo todo."

Outros se sentem simplesmente seguros e protegidos, e aproveitam o tempo. Outros, ainda, têm medo e querem retornar à claridade o mais rápido possível. Na verdade, dos mais de mil visitantes da Pitchblack Nightlife, cada um reage um pouco diferente ao escuro. O grupo alemão, pelo menos, fala sem parar no galpão totalmente obscurecido, numa luta ativa contra a obscuridade.

"Depressão do kaamos"

Essa luta é velha conhecida dos habitantes da Finlândia, onde os invernos que parecem cada vez mais longos, a sensação de que a claridade nunca vai retornar, podem se tornar um enorme desafio para a psique.

O termo finlandês para designar a noite polar que dura semanas no norte do país é kaamos. O professor de psicologia Simo Saarijärvi se ocupa constantemente da chamada "depressão do kaamos". Além de tratar de diversos pacientes que sofrem dessa doença psíquica, ele já fez uma série palestras sobre o tema em 2011, dentro da programação da Capital Cultural Europeia – título que Turku divide em 2011 com Talin, na Estônia.

Saarijärvi calcula que 40 mil pessoas tomam antidepressivos na Finlândia. "Somos todos mamíferos, e nosso cérebro reage à alternância entre claridade e escuridão. Os animais se adaptam e orientam seu modo de vida de acordo." Porém muitos finlandeses não conseguem realizar essa adaptação.

A sabedoria dos mamíferos

Professor de Psicologia Simo SaarijärviFoto: Klaus Jansen/DW

Sobretudo nas grandes cidades do sul do país, muitos simplesmente ignoram a longa escuridão. Mas quem continua dando tudo no trabalho, sem se permitir uma pausa, arrisca a própria saúde, a longo prazo, lembra o psicólogo. Dois por cento da população desenvolveu uma séria depressão de inverno, e mais de 30% apresenta tendências depressivas nessa estação do ano.

Os habitantes do norte, por sua vez, aprenderam a lidar com a obscuridade de forma muito mais sábia. Na Lapônia, quando lá fora está escuro, as pessoas pegam menos pesado e se permitem uma pausa. "Lá, elas adotam o luppo, que é um tempo de relaxamento. Reduzir a marcha é um bom antídoto contra a depressão invernal, afirma Saarijärvi, e aconselha: "Façam como os mamíferos".

Um outro recurso antidepressivo é a vitamina D, cada vez mais adicionada aos alimentos ou ingerida em forma de pílulas na Finlândia. Saarijärvi também adota lâmpadas de irradiação forte, que ajudam a "iluminar os ânimos".

Veneno contra veneno

Porém em Turku, no sul do país, Paula Väinämo tenta justamente o contrário: combater o mau humor com escuridão. Pois ela crê firmemente que esta também possui grande energia.

Turku divide título de capital cultural com Talin, EstôniaFoto: DW

"Talvez seja mais fácil relaxar no escuro. Ninguém vê você, nem pode acompanhar o que você está fazendo. Essa é uma experiência relaxante." Permitir a presença da obscuridade e aplicá-la conscientemente para reunir novas forças, voltar a escutar o que diz o próprio corpo: essa é a mensagem artística da Pitchblack Nightlife.

Uma mensagem com que o psicólogo Saarijärvi acaba concordando. Para ele, o projeto é válido porque "procura apresentar a obscuridade como algo positivo". Pelo menos no ano da Capital Cultural Europeia, os projetos Pitchblack terão continuidade, com danças, áudio-teatro e dois grandes desafios: a visita a uma galeria e uma peça de teatro totalmente no escuro.

Pois é assim que Turku gosta de ser vista: um pouco maluca e excêntrica. Segundo a coordenadora dos projetos da escuridão, Päivi Lönnberg, estas são características típicas de seu país. "A ideia é extrair aspectos positivos da obscuridade, assim como desenvolver estratégias pessoais para lidar com ela. Desse modo, é possível combater os maus espíritos da escuridão."

Autor: Klaus Jansen (av)
Revisão: Marcio Damasceno

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