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Cardeal alemão foi braço direito de João Paulo 2º

gh19 de abril de 2005

Joseph Ratzinger, o papa Bento 16, foi prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé. Devido à sua fama de conservador, prevê-se que dará continuidade à linha de seu antecessor.

Bento 16: teólogo inteligente, mas conservadorFoto: AP

O ditado segundo o qual "quem entra como papa no conclave sai novamente como cardeal" não funcionou desta vez. O cardeal alemão Josef Ratzinger, que completou 78 anos, no último sábado, entrou como um dos favoritos no conclave e foi eleito papa Bento 16. Na opinião de alguns vaticanistas, ele poderá dar continuidade à linha adotada por seu antecessor, João Paulo 2º. Uma linha que seria coerente também com a sua biografia.

Infância cheia de mudanças

Joseph Ratzinger nasceu em 16 de abril de 1927, num Sábado de Aleluia, em Marktl, na diocese de Passau, na Baviera. Filho de um policial, morou em várias cidades, devido a transferências do local de trabalho do pai.

Por causa de críticas feitas pelo pai aos nazistas, em dezembro de 1932, sua família teve que se mudar para Auschau am Inn, nos Alpes da Baviera. Em 1937, o pai se aposentou e a família mudou-se para Hufschlag, nos arredores da cidade de Traunstein, também ao pé dos Alpes bávaros, onde Ratzinger passou a maior parte de sua adolescência. Foi ali que, em 1939, aos 12 anos, entrou para o seminário menor, iniciando sua preparação para o sacerdócio.

Em 1943, Ratzinger e seus colegas seminaristas foram convocados para uma unidade de defesa antiárea, encarregada de proteger uma fábrica da BMW em Munique, durante a Segunda Guerra Mundial. Mesmo assim, ele continuou indo às aulas no Maximilians-Gymnasium de Munique, onde aprendeu latim e grego.

Quando chegou à idade militar, em setembro de 1944, Ratzinger foi liberado da unidade de defesa antiaérea e voltou para casa. Em novembro do mesmo ano, alistou-se para treinamento básico da infantaria alemã, mas por motivos de saúde, não revelados, foi dispensado das obrigações de reservistas do exército.

Prisioneiro na Segunda Guerra

O jovem padre Joseph Ratzinger celebra missa nos Alpes em 1952Foto: KNA-dpa

No final de abril de 1945, quando as forças aliadas já se aproximavam da Alemanha, Ratzinger desertou do exército e foi novamente para Traunstein. Ele não podia prever que os soldados americanos libertadores fossem montar um quartel-general justamente em sua casa. Resultado: Ratzinger acabou sendo identificado como soldado alemão, foi preso num campo para prisioneiros de guerra, mas libertado ainda em junho do mesmo ano.

Segundo a sua biografia, Ratzinger pertenceu à Juventude Hitlerista durante a Segunda Guerra Mundial, quando isso era obrigatório na Alemanha, mas não foi nazista. "Nem Ratzinger nem qualquer membro da sua família foi nacional-socialista", escreveu o biógrafo John Allen.

Em novembro de 1945, ele e seu irmão Georg retornaram ao seminário. Seguindo seu caminho rumo à vida religiosa, em 1947, Joseph Ratzinger ingressou no Georgianum, um instituto teológico ligado à Universidade de Munique. Paralelamente, estudou Filosofia e Teologia na Universidade de Munique e na Escola Superior de Freising. Junto com o irmão Georg, foi ordenado padre, em 29 de junho de 1951, pelo cardeal Michael von Faulhaber, de Munique, na catedral de Freising, durante a festa de São Pedro e São Paulo.

Primeira publicação

Em 1953, Joseph Ratzinger concluiu doutorado em Teologia pela Universidade de Munique, publicando, em seguida, seu primeiro livro, intitulado Volk und Haus Gottes in Augustins Lehre von der Kirche ("O povo e a Casa de Deus na doutrina de Santo Agostinho para a Igreja", em tradução livre). Sua tese de pós-doutorado versa sobre a História da Teologia.

A partir de 15 de abril de 1959, foi professor titular de Teologia nas universidade de Bonn (até 1969) e Münster (1963-1966). Em 1959, perdeu o pai; quatro anos depois, morreu sua mãe.

Em 1962, acompanhou o cardeal Joseph Frings, de Colônia, como assessor teológico ao Concílio Vaticano 2º, realizado em Roma. Em 1966, passou a lecionar Teologia Dogmática na Universidade de Tübingen, onde sua indicação fora defendida pelo teólogo suíço Hans Küng, hoje um dos principais críticos da autoridade papal.

Tradicionalista em ambiente liberal

Ratzinger com o governador da Baviera, Franz Josef Strauss, após sua nomeação para prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da FéFoto: AP

Apesar do ambiente relativamente liberal em Tübingen, no Estado de Baden-Württemberg, e da tendência marxista do movimento estudantil com que se deparou nos anos 60, Ratzinger defendia posições tradicionalistas. Em 1968, ganhou destaque na mídia ao travar um luta ferrenha contra o marxismo e o ateísmo, que conquistavam terreno principalmente entre os jovens.

Em 1969, retornou à Baviera, onde foi professor de Teologia Dogmática e de História do Dogma, além de vice-presidente e reitor da Universidade de Regensburg. Posteriormente foi conselheiro teológico da Conferência dos Bispos Alemães.

Em 1972, Ratzinger fundou junto com vários teólogos, entre eles, o suíço Hans Urs von Balthasar e o francês Henri de Lubac (1896-1991), o jornal trimestral Communio, atualmente publicado em alemão, inglês e espanhol, e considerado um dos mais importantes periódicos do pensamento católico.

Arcebispo, cardeal e "guardião da "

Em março de 1977, foi nomeado arcebispo da diocese de Munique e Freising pelo papa Paulo 6º. No mesmo ano, em 27 de junho, foi elevado a cardeal no consistório convocado por Paulo 6º. Depois disso, foi bispo de Velletri-Segni e Ostia, na Itália, que os vaticanistas costumam chamar de ante-sala do trono de São Pedro.

O cargo que lhe deu maior destaque antes do conclave de 2005 foi o de prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé (até 1908, Tribunal da Santa Inquisição), função que lhe foi confiada por João Paulo 2º, em 25 de novembro de 1981. Foi nesse cargo que se tornou conhecido dos brasileiros ao combater a Teologia da Libertação e proibir um livro do Leonardo Boff. Ratzinger também presidiu as comissões bíblica e pontifícia internacional teológica.

No final do pontificado de Karol Wojtyla, o cardeal Joseph Ratzinger foi um dos homens mais influentes do Vaticano em questões doutrinárias, sendo considerado o "braço direito" do sumo pontífice. Depois da morte de João Paulo 2º, no dia 2 de abril, Ratzinger deixou o cargo de prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, acompanhando a renúncia coletiva de outros ocupantes de cargos de confiança no Vaticano.

Teólogo inteligente, pianista sensível

Ratzinger (e) presidiu a cerimônia do funeral de João Paulo IIFoto: AP

Como cardeal mais idoso, ele presidiu o funeral de João Paulo 2º, quando pronunciou um sermão interrompido 13 vezes por aplausos da multidão e mais de 200 estadistas presentes à cerimônia na Praça de São Pedro. Ratzinger também presidiu o conclave em que foi eleito papa Bento 16. Alguns vaticanistas prevêem que ele dará continuidade à linha de João Paulo 2º, com posições conservadoras que muitos católicos gostariam de ver revisadas, nas questões do controle da natalidade, celibato dos padres, casamento de gays e feminismo.

"Dificilmente se encontrá um teólogo sobre o qual se tenha escrito tantas inverdades quanto sobre o cardeal Ratzinger", garante o historiador eclesiástico, Vinzenz Pfnür, de Münster, que foi aluno do novo papa. O diálogo ecumênico sempre teria sido um tema central do cardeal alemão.

Até mesmo os críticos, que vêem nele a personificação da ortodoxia da Igreja Católica, reconhecem que ele é um teólogo inteligente e articulado. Bento 16 domina dez línguas e tem sete títulos de doutor honorário. É considerado um excelente pianista, admirador da obra de Beethoven (1770–1827). Contrariando o estereótipo de severo guardião da fé, funcionários do Vaticano dizem que o oitavo sumo pontífice alemão é uma pessoa muito amável e sensível. Antes de sua eleição, afirmara que gostaria de se aposentar em uma vila na Baviera e se dedicar aos livros. Um sonho que agora é obrigado a adiar.

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