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ReligiãoBrasil

Cardeal dom Cláudio Hummes morre aos 87 anos

4 de julho de 2022

Voz ativa em defesa aos pobres e amigo pessoal de Lula, Hummes ficará também na história por sua proximidade ao papa Francisco. Engajado no conclave de 2013, ele influenciou até a escolha do nome papal.

Arcebispo emérito da arquidiocese de São Paulo Cláudio Hummes
Cardeal dom Cláudio Hummes se empenhou ativamente nos bastidores da eleição papal do argentino Jorge Mario Bergoglio Foto: AFP/Getty Images

O cardeal Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, morreu nesta segunda-feira (04/07), aos 87 anos. Seu currículo inclui cargos importantes em instituições católicas do Brasil, a defesa por pautas progressistas, e por ter tido forte influência na escolha do sucessor do papa Bento 16, o argentino Jorge Mario Bergoglio, que lidera a Igreja Católica desde 2013. Hummes ficará na história por ter inspirado e influenciado Bergoglio a escolher o nome Francisco, considerado o "santo dos pobres".

"Comunico, com grande pesar, o falecimento do Eminentíssimo Cardeal Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo e prefeito emérito da Congregação para o Clero, no dia de hoje, com a idade de 88 anos incompletos, após prolongada enfermidade, que suportou com a paciência e fé em Deus", disse nota da arquidiocese de São Paulo assinada pelo cardeal Odilo Pedro Scherer.

O prelado lutava contra um câncer no pulmão. Segundo a nota, o médico Rodrigo Paulino constatou a morte do cardeal pouco após às 9 horas da manhã desta segunda-feira.   

Nascido Auri Afonso Hummes em 8 de agosto de 1934, o filho de descendentes alemães residentes em Montenegro, no interior do Rio Grande do Sul, entrou na vida religiosa da Ordem Franciscana dos Frades Menores e adotou o nome Cláudio Hummes quando recebeu a ordenação sacerdotal aos 24 anos.

Filosofia em Roma e amizade com Lula

Entre 1959 e 1963, Hummes estudou filosofia em Roma. Ao longo das décadas de 1960 e 1970, atuou como professor de filosofia em seminários e universidades do Rio Grande do Sul e se especializou no diálogo entre as várias igrejas cristãs, enquanto desempenhava um papel importante dentro da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Quase duas décadas após ter se tornado sacerdote, recebeu a ordenação episcopal em 25 de maio de 1975.

Depois de ser bispo diocesano de Santo André, município da Grande São Paulo até 1996, foi transferido para a arquidiocese de Fortaleza, onde dedicou seu trabalho eclesiástico às famílias das periferias. Dois anos mais tarde se tornou arcebispo de São Paulo.

Em seu tempo em Santo André, entrou em contato com o movimento sindical e ofereceu as dependências da diocese para os operários se organizarem contra as restrições na ditadura militar, e acabou por se tornar amigo do metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva.

Para os conceitos da Igreja Católica, Hummes incorporava uma visão progressista. Ele opinava sobre questões políticas, foi um crítico ferrenho dos abusos do capitalismo e da globalização, mas manteve sua imagem intacta nos corredores da Igreja por seguir a doutrina tradicional católica em outros temas socialmente relevantes, como o aborto e o uso de anticoncepcionais.

O religioso celebrou a eleição de seu amigo à presidência do Brasil e não escondia sua admiração por Lula, assim como não escondeu sua decepção com os escândalos de corrupção em torno do Partido dos Trabalhadores (PT). Hummes chegou a afirmar que o povo estava certo em desenhar o rosto de políticos nos bonecos de Judas espancados na tradicional malhação do Sábado de Aleluia.

Em 2001, foi elevado a cardeal pelo papa João Paulo 2º. De 2006 a 2011, trabalhou ao lado do papa Bento 16 em Roma, como prefeito da Congregação para o Clero do Vaticano. Quando retornou ao Brasil, presidiu a Comissão Episcopal para a Amazônia e a recém criada Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama). Em 2019, desempenhou um papel de liderança durante o Sínodo sobre a Amazônia, realizado em Roma. Ele defendia a criação de uma Igreja indígena.

Relação próxima com papa Francisco

Mas a mais notória contribuição de Hummes em sua trajetória episcopal certamente está atrelada à relação de cumplicidade com o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio. O arcebispo emérito de São Paulo teve uma atuação fundamental nos bastidores do conclave de 2013 que fez de Bergoglio pontífice do Vaticano.

Assim como Bergoglio, ele também defendia a Teologia da Libertação, segundo a qual a fé e o catolicismo têm também um compromisso social e político. E sua devoção à defesa dos mais pobres foi determinante na escolha do nome papal.

Quando a votação definiu Bergoglio como o primeiro papa latino-americano da história da Igreja Católica, Hummes abraçou-o e lhe disse: "Não se esqueça dos pobres". Hoje, Bergoglio responde pelo nome papa Francisco, uma homenagem ao "santo dos pobres", o fundador da ordem mendicante dos Frades Menores, São Francisco de Assis.

"Durante a eleição, eu estava ao lado do arcebispo de São Paulo Cláudio Hummes, um grande amigo [...] Quando as coisas ficaram perigosas, ele me confortou. Abraçou-me e beijou-me e disse-me: 'E não te esqueças dos pobres'", revelaria posteriormente o papa Francisco. "Imediatamente, em relação aos pobres, pensei em Francisco de Assis, nas guerras [...] O homem da pobreza, o homem da paz."

A relação próxima de Hummes com Francisco foi parar até nas telas de cinema, no filme Dois papas, dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles. Fiel escudeiro de Bergoglio, quando o novo papa foi apresentado aos fiéis na sacada da Basílica de São Pedro, ele estava ao seu lado.

O corpo do arcebispo emérito Cláudio Hummes será velado na Catedral Metropolitana de São Paulo, na Sé. 

pv (lusa, KNA, ots)

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