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Cardeal francês é condenado por acobertar abusos sexuais

7 de março de 2019

Justiça francesa condena arcebispo de Lyon por não denunciar às autoridades os abusos sexuais de menores cometidos por um padre. Após o veredito, cardeal anuncia que apresentará sua renúncia ao papa Francisco.

Cardeal Philippe Barbarin
Barbarin, de 68 anos, é o maior nome da Igreja Católica na FrançaFoto: picture-alliance/AP Photo/B. Edme

O cardeal e arcebispo de Lyon, Philippe Barbarin foi condenado nesta quinta-feira (07/03) a seis meses de prisão com suspensão da pena por ter silenciado diante de atos de pedofilia em sua diocese. O veredito foi festejado como uma vitória por associações de vítimas da pedofilia.

Após o veredito, Barbarin anunciou que apresentará sua renúncia ao papa Francisco. Em uma breve declaração lida diante da imprensa, o prelado declarou sua "compaixão" pelas vítimas. "Decidi ver o Santo Padre para lhe apresentar minha renúncia. Ele me receberá nos próximos dias", disse o arcebispo.

Barbarin, de 68 anos e desde 2002 à frente de uma das arquidioceses de maior tradição da França, é o maior nome da Igreja Católica no país. Seus advogados anunciaram que recorrerão da sentença ditada em primeira instância.

O caso se tornou público em 23 de outubro de 2015, quando a diocese de Lyon revelou que tinha recebido queixas contra o padre Bernard Preynat por "agressão sexual a menores" cometida 25 anos antes. Promotores de Lyon investigaram o caso, mas o arquivaram em 2016. Depois disso, o caso foi levado à Justiça por uma associação de vítimas, La parole libéreé.

Barbarin se sentou no banco dos réus em janeiro, junto com outros cinco responsáveis eclesiásticos, e foi acusado de não ter denunciado às autoridades policiais os abusos cometidos contra menores por Preynat, mesmo tendo sido alertado por uma vítima em 2014.

Nos anos 1980, Preynat, que foi capelão de um grupo de escoteiros, teria atacado sexualmente dezenas de crianças. Mesmo assim, ele continuava trabalhando para a Igreja décadas depois. Ele confessou os crimes e ainda aguarda julgamento.

Durante o julgamento de Barbarin, ao longo de quatro dias em janeiro, vários homens relataram seus traumas e seu sentimento de vergonha pelos abusos sofridos. Um deles relatou como Preynat o forçou a ir a sua barraca quando era um escoteiro de 10 anos.

A promotoria não havia solicitado pena para o cardeal por considerar que muitos dos fatos já estavam prescritos e que não havia evidências suficientes para condená-lo. Mesmo assim, o tribunal o condenou por não ter denunciado os casos no período entre julho de 2014 e junho de 2015.

Além da pena de prisão, que Barbarin só teria que cumprir efetivamente em caso de reincidência, o cardeal terá que pagar uma indenização simbólica de 1 euro para oito vítimas de Preynat que o denunciaram.

O caso teve grande repercussão na França e foi abordado no filme Graças a Deus, de François Ozon, cujo nome é a expressão usada por Barbarin para se referir à prescrição de alguns dos crimes. O filme recebeu o Grande Prêmio do Júri no Festival Internacional de Cinema de Berlim.

A acusação tinha pedido o comparecimento no processo do cardeal espanhol Luis Ladaria Ferrer, prefeito regional da Congregação da Doutrina da Fé, a quem Barbarin consultou quando se dirigiu ao Vaticano, mas a Santa Sé rejeitou tal solicitação alegando imunidade diplomática.

A condenação de Barbarin ocorreu apenas poucos dias depois de outro nome importante da Igreja Católica, o cardeal australiano George Pell, ter sido condenado por abuso sexual de menores de idade.

Na França, dois bispos foram condenados em casos semelhantes: o bispo de Bayeux-Lisieux em 2001 e o ex-bispo de Orleans em 2018.

Os escândalos de pedofilia em todo o mundo levaram Francisco a convocar uma cúpula de emergência no Vaticano, em fevereiro, na qual ele afirmou que a Igreja jamais voltará a encobrir casos de abuso sexual.

AS/efe/afp/ap/rtr/lusa

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