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Caricaturas de Maomé revoltam o mundo árabe

2 de fevereiro de 2006

Um grupo de palestinos armados cercou a representação da União Européia na Faixa de Gaza: o mundo árabe se revolta com a publicação de caricaturas do profeta Maomé por jornais europeus.

Militantes armados diante da representação da UE em GazaFoto: AP

Um grupo de palestinos armados cercou na manhã desta quinta-feira (02/02) a representação da União Européia (UE) na Faixa de Gaza. Os ativistas dos grupos Jihad e Brigada Al Aksa exigem o fechamento do escritório e um pedido de desculpas pela "provocação européia".

Escalada de revolta

O cerco é mais um passo na escalada de revolta que se espalha pelo mundo árabe com a publicação de caricaturas do profeta Maomé por jornais europeus. As 12 charges apareceram pela primeira vez no jornal dinamarquês Jyllands Posten, em setembro do ano passado. Uma delas mostra o profeta Maomé com um turbante no formato de bomba-relógio. No Islã, qualquer representação de Maomé é proibida.

Depois, as ilustrações foram republicadas na Noruega. Nesta quarta-feira, com a crescente atenção em torno do caso, apareceram pela primeira vez num jornal francês (o France Soir) e em dois dos mais importantes jornais da Alemanha, o conservador Die Welt, que também as colocou na sua página na internet, e o jornal de esquerda die tageszeitung (taz).

"Eles ganharam"

Como os demais periódicos, o Welt baseou sua decisão na liberdade de imprensa. Mas um porta-voz da Associação Alemã de Jornalistas (DJV), Hendrik Vorner, criticou a decisão. Segundo ele, a publicação de texto ou imagem que fira os sentimentos religiosos de um grupo de pessoas é incompatível com a liberdade de imprensa.

Supermercado saudita boicota produtos dinamarquesesFoto: AP

Para o taz, "onde há liberdade artística, de opinião e de imprensa, ninguém e nada está livre de ser satirizado. Numa sociedade democrática, ter respeito por outras culturas não significa incorporar os seus dogmas".

O France Soir escreveu em sua capa "Sim, nós temos o direito de caricaturar Deus", ao lado de uma charge com deuses de várias religiões. Na parte interna, foram publicadas as 12 polêmicas ilustrações dinamarquesas. O diretor de redação do jornal, Jacques Lefranc, foi demitido sem explicações nesta quinta-feira pelo dono do jornal, o egípcio Raymond Lakah.

O diretor de redação do Jyllands Posten, Carsten Juste, pediu desculpas nesta segunda-feira pela publicação das charges. Em artigo publicado no jornal, disse que não era intenção do diário ofender o mundo islâmico. Em entrevista a uma revista dinamarquesa, Juste disse temer que, após o caso, ninguém publicará desenhos do profeta Maomé na imprensa local nas próximas gerações. "Devo dizer, muito envergonhado, que eles ganharam."

Revolta árabe

Rasmussen defende liberdade de imprensaFoto: AP

No mundo árabe, a revolta cresce. A Arábia Saudita, a Líbia e o Kuwait fecharam suas representações diplomáticas na Dinamarca. Em Sanaa, capital do Iêmen, pelo menos 10 mil mulheres queimaram bandeiras da Dinamarca e pediram boicote a produtos do país. A polícia calculou em 80 mil o número de participantes. Os organizadores, em 150 mil.

Dezessete países árabes exigiram que Copenhague puna os responsáveis pela publicação das charges. "Condenamos o que o jornal dinamarquês publicou porque afronta a religião do Islã e o seu venerável profeta", afirmou, em nota, a Liga Árabe.

O primeiro-ministro da Dinamarca, Anders Fogh Rasmussen, disse que o governo não pode ser responsabilizado por atitudes da imprensa independente, e defendeu o direito à liberdade de imprensa. Mas disse condenar declarações ou atos que demonizam pessoas devido a sua religião ou origem. Rasmussen ainda condenou com veemência a queima de bandeiras e o boicote a produtos dinamarqueses.

Mas um tablóide da Jordânia resolveu publicar três das polêmicas charges. "Muçulmanos do mundo, sejam razoáveis", escreveu o diretor de redação do jornal semanal Al Shihan, em editorial ao lado dos desenhos, incluindo o do profeta Maomé com o turbante-bomba.

"O que traz mais prejuízos ao Islã, essas caricaturas ou imagens de seqüestradores cortando as gargantas de suas vítimas na frente das câmeras?" Ele disse ter publicado as imagens para que as pessoas saibam contra o que estão protestando. "As pessoas estão atacando desenhos que elas nem mesmo viram", afirmou.

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