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Ghosn fala em público pela primeira vez após fuga do Japão

8 de janeiro de 2020

Em entrevista coletiva, ex-chefe da Renault-Nissan rejeita acusações e diz que fugiu da perseguição política. Ele afirma ter sido vítima de uma campanha de difamação e de "conluio" entre a Nissan e promotores japoneses.

Carlos Ghosn gesticula com as duas mãos levantadas
"As acusações contra mim não têm nenhuma base", garantiu GhosnFoto: picture-alliance/AP Photo/M. Alleruzzo

O ex-presidente da aliança Renault-Nissan, Carlos Ghosn, apareceu em público pela primeira vez nesta quarta-feira (08/01), após fugir

 do Japão no fim de dezembro. Durante uma coletiva de imprensa em Beirute, capital do Líbano, ele rejeitou as acusações de má conduta financeira e disse estar sofrendo uma perseguição política, além de acusar a Nissan e a promotoria japonesa de ataques contra ele.

"Não fugi da Justiça, mas da injustiça e perseguição política no Japão", disse Ghosn, preso em novembro de 2018 e libertado sob fiança em abril seguinte. Ele sublinhou que estava aparecendo diante da mídia mundial para "limpar seu nome": "As acusações contra mim não têm nenhuma base", garantiu, acrescentando que o sistema judicial japonês o considerava um "suposto culpado".

O ex-executivo franco-brasileiro de 65 anos, que enfrenta quatro processos no Japão, denunciou "conluio em todos os lugares" entre a Nissan e a promotoria japonesa, especialmente em relação a sua prisão, dizendo-se vítima de uma "armação" feita exatamente quando ele se dispunha a organizar uma fusão entre a Renault e a Nissan.

Ghosn disse que a destruição de sua imagem foi "o resultado de um punhado de indivíduos sem escrúpulos e vingativos na Nissan", numa campanha de difamação. Ele afirmou ser alvo de "ataques vergonhosos e contínuos da mídia, orquestrados por promotores japoneses e executivos da Nissan" durante sua estada no país, onde "nunca deveria ter sido preso".

De maneira solene e dramática, Ghosn declarou que fugir do Japão foi "a decisão mais difícil de sua vida", e que tomou a iniciativa para "se proteger da impossibilidade de um julgamento justo nos tribunais japoneses".Horas antes da coletiva, a equipe jurídica francesa que o representa tachou a investigação interna da Nissan de "uma grande deformação da verdade".

O empresário, que tem nacionalidades brasileira, francesa e libanesa, é acusado de irregularidades financeiras que sempre negou, mas pelas quais pode enfrentar longas sentenças de prisão no Japão. Ele foi detido em novembro de 2018 quando saía de seu jato privado no Japão.

Em abril de 2019, foi libertado sob fiança após mais de 100 dias na prisão. Desde então, estava em prisão domiciliar proibido de deixar o país enquanto aguardava um julgamento sem data definida. Ele também foi proibido de entrar em contato com sua mulher, Carole, que também se tornou alvo de mandado de prisão no país. "Morro no Japão ou tenho que sair do Japão", foi sua conclusão na época, revelou Ghosn aos jornalistas em Beirute, ressaltando que não pretendia "se fazer de vítima", mas que era a primeira vez que podia "falar livremente".

Carlos Ghosn fugiu do Japão num avião particular da Turquia, desembarcando no Líbano no fim de dezembro. Ele agradeceu às autoridades libanesas por "não terem perdido a fé" nele, afirmando ser um "refém" de um país ao qual dedicou sua vida profissional.

MD/efe/afp

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