Carnaval volta na Alemanha mesmo com infecções em alta
Silke Wünsch
11 de novembro de 2021
Depois de um ano de recesso, foliões saem para festejar o 11 de novembro na região da Renânia, apresentando o passaporte sanitário. Data marca o início do carnaval alemão.
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Carnaval no meio de uma pandemia de coronavírus deveria ser algo impensável, ainda mais agora na Alemanha, que está no início de uma quarta onda da covid-19.
Alemães de regiões onde não há carnaval olham perplexos para os renanos. Até porque o carnaval costuma ser em fevereiro, por que então agora em novembro?
Longa tradição
Mas o carnaval em novembro faz parte de uma longa tradição nas regiões de Colônia, Düsseldorf, Mainz e Koblenz, onde o dia 11 do mês 11 (Elfte im Elften) é uma data mágica para os carnavalescos.
As explicações são variadas: na numerologia, o 11 significa o recomeço, e tanto melhor se for um 11 duplo.
Na mitologia cristã, o 11 é um símbolo do pecado e do excesso, afinal está fora dos dez mandamentos. O 11 simboliza a vontade das pessoas, e não a de Deus. Ou seja: as pessoas podem fazer o que quiserem: é a Narrenfreiheit, ou a liberdade dos tolos, entendida como a liberdade para os foliões fazerem as tolices e loucuras que bem entenderem.
E como "número do folião", o 11 significa também que, com uma fantasia, todos são iguais.
Além disso, o 11 de novembro é o dia de São Martinho, que antigamente dava início a um período de jejum que durava até o Natal. E antes do jejum as pessoas aproveitavam para ir uma última vez à farra.
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Cada cidade, um ritual
Hoje em dia o 11 de novembro marca o início da temporada carnavalesca na Alemanha, e o começo é diferente de uma cidade para a outra.
Em Düsseldorf um bufão chamado Hoppeditz "renasce" das cinzas no centro da cidade. Ele vai ser "enterrado" de novo na Quarta-Feira de Cinzas.
Em Colônia, o triunvirato formado pelo príncipe carnaval, o camponês e a virgem é apresentado aos foliões, e em Mainz é lida a tradicional Carta dos Bufões.
Em muitas cidades menores da região, pessoas se reúnem nas praças, em geral na frente das prefeituras, já de manhã cedo e esperam até as 11h11 para começar a folia. Mais tarde a festa se estende para os bares, onde pode durar até altas horas da madrugada.
Mesmo com pandemia
No ano passado, as festas foram canceladas por causa da pandemia, e a maioria dos foliões ficou em casa (a exceção foram as festas clandestinas). Mas neste ano o carnaval renano foi oficialmente retomado.
Não sem percalços. Em Colônia, por exemplo, o príncipe carnaval está com covid-19, e todas as apresentações do triunvirato acabaram sendo canceladas.
E nem todos os bares estarão abertos para os foliões. Para os que resolveram abrir, a administração de Colônia conseguiu impor a chamada regra 2G, ou seja, somente pode entrar que estiver vacinado ou se curou da covid-19, o que pode ser comprovado com a apresentação do passaporte sanitário no celular.
Isso vale, claro, para os locais fechados, pois nas ruas da cidade é impossível controlar se os foliões estão ou não vacinados. A exceção são praças de tradicional concentração de foliões, como a Heumarkt, que foram cercadas e onde há controle de 2G na entrada.
Em anos normais, mais de 15 mil pessoas costumam se espremer na Heumarkt para acompanhar os shows das bandas de carnaval. Mas neste ano os organizadores reduziram a capacidade para 5 mil.
No alto do palco, a prefeita de Colônia, Henriette Reker, pediu aos foliões para respeitarem as regras de distanciamento social e permanecerem o maior tempo possível em espaço aberto. "Não pode ser tão difícil assim", disse.
Dada a partida para o Carnaval na Alemanha
A partir da "Quinta-Feira das Mulheres", a folia toma conta também das ruas da Alemanha. Na região do rio Reno, o epicentro da festa é Colônia e as cidades circundantes.
Foto: Christoph Reichwein/dpa/picture alliance
O dia delas
Na Alemanha, no primeiro dia dos festejos de Carnaval quem manda são elas. Na região do Reno, na "Quinta-Feira das Mulheres" (Weiberfastnacht), elas recebem a chave da prefeitura e saem pelas ruas fazendo festa. A tradição remonta à primeira metade do século 19, quando um grupo de mulheres de Beuel (hoje um bairro de Bonn) resolveu se divertir da mesma forma como seus maridos.
Foto: Oliver Berg/dpa/picture alliance
Abertura oficial já em novembro
Apesar de a partida para a maior expressão do Carnaval ser dada na quinta-feira, a abertura oficial da assim chamada de "quinta estação do ano" transcorre muito antes, no 11 de novembro no ano anterior, às 11h11. Nas cidades ribeirinhas di Reno, o período de festas é regado a cerveja desde o primeiro dia. Na foto, os Schwellköpp, os tradicionais "cabeções" do Carnaval de Mainz.
Foto: Sebastian Gollnow/dpa/picture alliance
Beijinhos por todo lado
Para os renanos não há Carnaval sem "bützchen". Na Quinta-Feira das Mulheres elas distribuem beijinhos nas bochechas, ou mesmo na boca, de quem quiserem, até mesmo de policiais. Trata-se de uma expressão de alegria que não deve ser confundida com provocação sexual. Aliás, há ameaça de castração simbólica: homens que saem de gravata correm o risco de tê-la cortada pelas foliãs e levada como troféu.
Foto: picture-alliance/dpa/O. Berg
Carnaval no frio
Cor e criatividade nas fantasias e adereços também são marcas dos festejos alemães durante todo o período. Apesar de o Carnaval transcorrer no inverno, as temperaturas baixas não espantam os foliões da festa ao ar livre, e grupos de amigos de todas as idades se divertem combinando as fantasias para celebrar em conjunto.
Foto: Federico Gambarini/dpa/picture alliance
Dialetos próprios
Apesar das semelhanças, os carnavais de cada cidade ou região têm suas peculiaridades. E não pega nada bem confundir os termos: "Jecken" é o nome dado aos foliões de Colônia, cujo brado carnavalesco tradicional é "Kölle Alaaf". Já em Düsseldorf, grita-se "Helau". Desde "aleluia" até "abriu-se o inferno", há várias explicações para a origem dessa exclamação.
Foto: Rolf Vennenbernd/dpa/picture alliance
A doçura do Carnaval
Nos desfiles, a diversão não está apenas em ver os carros alegóricos. Quando se grita "Kamelle" (doces), balas, chocolates e outras guloseimas são jogados para os foliões. Não só as crianças, mas também os marmanjos disputam um brinde em meio à chuva de doces. Os carnavalescos jogam também ramalhetes de flores e outros artigos cosméticos ou de uso diário.
Foto: Christoph Hardt/Geisler-Fotopress/picture alliance
Muito além dos adereços
Além das fantasias, outra parte essencial do Carnaval renano é a música. Para acompanhar os grupos de músicos nas ruas, os foliões devem, como manda a tradição, conhecer pelo menos as letras das "clássicas", e cantar e dançar juntos. Uma das formas de se divertir é balançando-se juntos de um lado para o outro, de braços dados, no assim chamado "schunkeln".
Foto: picture-alliance/Geisler-Fotopress/C. Hardt
Alfinetadas políticas
Outra tradição do Carnaval da Renânia são as sátiras políticas que ganham forma nos carros alegóricos que desfilam na Segunda-feira das Rosas (Rosenmontag). Com bom humor e criatividade, os carnavalescos não poupam críticas a líderes internacionais e outras figuras públicas.
Foto: Frank Rumpenhorst/dpa/picture alliance
Fim com fogo na Quarta-feira de Cinzas
A tradição em Düsseldorf exige que o bobo da corte Hoppeditz seja enterrado em lágrimas e lamentos. No ritual referido como "funeral", ele é simbolicamente queimado como boneco de papelão. Já em Colônia, ateia-se fogo à figura de palha Nubbel, que deve expiar os pecados cometidos durante o Carnaval. A Quarta-feira de Cinzas marca o fim dos dias de folia e o início da Quaresma.