Pegar carona é bastante comum na Alemanha. Além de ser econômica e sustentável, tal forma de locomoção significa se deparar com novas pessoas e histórias de vida – muitas vezes surpreendentes.
Anúncio
Um dia desses, decidi viajar a Berlim de última hora. Usando um aplicativo de caronas, algo bastante comum na Alemanha, encontrei a viagem perfeita: uma motorista com boas recomendações, carro espaçoso e lugares disponíveis para mim e outros dois amigos. Isso por apenas 32 euros por pessoa – bem mais barato do que um bilhete de trem comprado às vésperas da viagem.
Ficar em silêncio não é uma opção para quem escolhe viajar de Mitfahrgelegenheit – algo como "possibilidade de viajar junto", em alemão, ou, simplesmente, carona.
A motorista de Bonn, no oeste do país, começou uma simpática conversa em alemão. Não precisei falar muito. Percebi que para ela a carona não era apenas para economizar no valor do combustível, mas também para contar histórias e ter companhia. Como jornalista e, portanto, boa ouvinte, eu era a interlocutora ideal.
Já estávamos na Autobahn passados dez minutos da jornada ao nosso destino comum – ela iria visitar o novo namorado, e eu flanaria por um final de semana pela história da capital alemã.
"Estes são o meu namorado e os nossos dois gatos", disse, mostrando a foto no painel do carro. "Nunca fui tão feliz", explicou, depois de contar sobre o processo de divórcio com o ex-marido.
Os encontros efêmeros de uma carona não têm um destino certo. A escolha aleatória pelo aplicativo pode proporcionar futuros contatos profissionais, o contato com diferentes histórias de vida e a oportunidade de estar por algumas horas com pessoas inesperadas com quem seu caminho nunca cruzaria de outra maneira.
Além de aplicativos, também é possível conseguir uma carona no Mitfahrerbank. Em pequenos vilarejos, você se senta num banco num local determinado e aguarda pela passagem de um motorista oferecendo carona. Uma forma econômica e mais sustentável de se locomover.
O motorista e os passageiros sabem que provavelmente nunca mais irão se encontrar. Então, abrir o coração, mesmo no país que valoriza a privacidade, não é um problema. Simplesmente se apresentar, explicar aonde vai e por que pode ser o começo de longas discussões, até políticas e filosóficas.
A carona sempre rende novas histórias para se contar no futuro, algumas até bizarras, como a de viajar numa van com um alemão que transportava os móveis da ex-namorada de Colônia a Dresden, acabara de se despedir do relacionamento de dez anos e, por isso, chorava enquanto dirigia. Ou a do passageiro com excesso de bagagem que ainda trazia uma televisão de plasma e não tinha espaço algum para mover as pernas no carro, enquanto o motorista acelerava a quase 200 km/h na rodovia. Ou a do padeiro alemão que não confiava em bancos e enterrava todo o dinheiro que tinha no alto de uma montanha nos Alpes austríacos. Ou ainda a do dia em que, de forma espontânea, você decidiu viajar de carona de Londres até Praga.
Aquela mesma mulher que, no trajeto para Berlim, mostrou a foto do novo namorado e de seus dois gatos, acabou revelando que os passageiros não eram apenas eu e meus dois amigos. Ela não explicou em detalhes, mas havia um animal no porta-malas.
Paramos num posto de gasolina. "É aqui que a dona vai buscá-lo", disse. Estávamos curiosos. A dona chegou, agradeceu e pagou 25 euros pelo transporte do animal. Vi um pouco de feno e uma cenoura dentro da caixa. Poderia ser um coelhinho fofo, mas era uma gigante ratazana de estimação.
Na coluna Alemanices, publicada às sextas-feiras, Karina Gomes escreve crônicas sobre os hábitos alemães, com os quais ainda tenta se acostumar. A repórter da DW Brasil e DW África tem prêmios jornalísticos na área de sustentabilidade e é mestre em Direitos Humanos.
______________
A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos noFacebook | Twitter | YouTube | WhatsApp | App | Instagram
Dez hábitos curiosos dos alemães
A Alemanha é associada a uma série de estereótipos. Mas o povo alemão não se resume a salsicha e cerveja. Conheça alguns costumes, do jantar frio à pressa no supermercado.
Foto: sabelfoto13 - Fotolia.com
Silêncio, hoje é domingo!
Você pode até pensar que domingo é o dia da semana perfeito para finalmente riscar algumas tarefas da sua lista, como passar aspirador ou pregar uma nova prateleira na parede. Mas na Alemanha, domingo é "Ruhetag", ou seja, dia de descanso. Isso significa que, além de as lojas ficarem fechadas, o martelo tem que ser posto de lado, pois os vizinhos podem reclamar do barulho.
Foto: DDRockstar - Fotolia.com
Feche a janela
Os alemães odeiam correntes de ar, que chamam de "Luftzug". Diz a sabedoria popular que o ar fresco que entra por uma janela pode te deixar doente. Médicos até dão atestados a seus pacientes por um torcicolo ou uma gripe ligados à corrente de ar. Então, lembre-se, mesmo no verão, todas as portas e janelas devem ficar fechadas.
Foto: iTake Images - Fotolia.com
Não sopre a velinha antes da hora
Dizer "feliz aniversário" a um alemão antes do dia pode provocar olhares de recriminação ou até ofender. Para a maioria dos alemães, dar os parabéns antes da hora dá azar. Eles simplesmente não conseguem entender por que alguém comemoraria antes da data. Tudo bem celebrar a partir da meia-noite do aniversário, mas nunca antes disso.
Foto: pressmaster - Fotolia.com
Cozinha na mudança
Para muitos estrangeiros em busca de um apartamento na Alemanha, pode surpreender o fato de a cozinha nem sempre vir junto com o imóvel. Quando os alemães se mudam, eles levam tudo consigo, deixando apenas os canos na parede para os próximos inquilinos. Fogão, geladeira, balcão, armários e às vezes até mesmo a pia são levados para a casa nova.
Foto: 1506965 - Fotolia.com
Pressa no supermercado
Ir às compras na Alemanha exige agilidade. Ao passar pelo caixa, o funcionário do supermercado registra os produtos em alta velocidade. Como consumidor, então, é preciso correr contra o tempo para empacotar as coisas que vão se acumulando após o caixa, antes que caiam no chão. E não olhe para trás, pois aqueles que aguardam na fila vão olhar feio se você não for rápido o suficiente.
Foto: picture-alliance/dpa
Água precisa ter gás
Se você pedir água num restaurante, o garçom provavelmente irá trazer água com gás. Os alemães adoram o líquido com bolhinhas e o misturam com tudo – de suco de maçã a vinho. Toda bebida misturada com água com gás se torna um "Schorle". Um alemão nunca serviria água da torneira para um convidado, apesar de potável, pois isso seria deselegante. A água precisa ter gás ou pelo menos ser engarrafada.
Foto: mdxphoto - Fotolia.com
Sim e obrigado
Confuso, não? Eis um exemplo: quando lhe perguntarem em alemão se você gostaria de mais um pouco daquela deliciosa cerveja, se você disser "obrigado" ("danke"), isso será interpretado como "não, obrigado". Se você quiser mais, diga "por favor" ("bitte"), que nesse contexto significa "sim, por favor". Caso contrário você poderá ficar com sede.
Foto: fotodesign-jegg.de - Fotolia.com
Almoço quente, jantar frio
Os alemães chamam o jantar de "Abendbrot", ou seja, "pão da noite". Isso porque eles preferem uma refeição quente e caseira no almoço e algo rápido e frio no jantar – como pão com queijo, presunto e vegetais. Quase todos os locais de trabalho, pequenos ou grandes, têm uma cantina para servir o apreciado almoço. Assim, ninguém fica sem a comida quente.
Foto: Marén Wischnewski - Fotolia.com
Traduzir do inglês para o inglês
Uma coisa é dublar filmes do inglês para o alemão. Na Alemanha, todos os atores americanos têm até um dublador específico. Mas às vezes os nomes dos filmes em inglês também são traduzidos – não para alemão, mas para um inglês mais simples. Por exemplo, o filme "Bring it On" foi chamado de "Girls United" na Alemanha. "Maid em Manhattan" (foto) é "Manhattan Love Story". Por quê? Boa pergunta.
Foto: picture-alliance/dpa
Tire a roupa!
Acredita-se que a chamada "Freikörperkultur" (FKK), ou seja, a cultura do corpo livre ou naturismo, tenha surgido na Alemanha. Muitos alemães adoram tirar a roupa numa praia FKK e curtir o sol à la Adão e Eva. Não importa a idade, a aparência ou a companhia, em locais FKK e na sauna – mista ou não – é melhor ficar pelado. Ou você será visto como o estranho estrangeiro pudico.