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Comportamento

Pia Volk (sv)18 de abril de 2007

Professora de Pedagogia da Universidade de Augsburg fala em entrevista à DW-WORLD sobre "o mito da mãe" na sociedade alemã e lembra os obstáculos que impedem uma modernização do comportamento no país.

Mães na Alemanha: 'Peso do Terceiro Reich' nas cabeças de hojeFoto: Bilderbox

A pedagoga Leonie Herwartz-Emden analisou em sua tese de pós-doutorado as implicações culturais do que se entende por maternidade e comparou como as mulheres vêem seus papéis na sociedade, dependendo do país onde vivem.

A situação das mães com filhos na Alemanha é vista pela pedagoga como consideravelmente complexa, uma vez que a sociedade ainda carrega "o peso do Terceiro Reich", quando o assunto é o papel da mulher e o "mito da maternidade".

Para ilustrar a gravidade do caso, Herwartz-Emden lembra, por xemplo, que um guia de comportamento financiado pelo ministro da Propaganda do regime nazista, Joseph Goebbels, ensinando como cuidar dos filhos, chegou a ser editado na Alemanha até os anos 1970, com pequenas modificações.

Leia a seguir a íntegra da entrevista:

DW-WORLD: Por que os alemães ocidentais têm tantos problemas com creches e maternais?

Leonie Herwartz-Emden: O tema maternidade tem uma carga pesada na Alemanha. Há muitas opiniões contraditórias a respeito. Se por um lado as mães são altamente estimadas e transformadas em ícones, por outro, a maternidade é completamente subestimada.

As tarefas das mães no cotidiano são muitas. Elas possibilitam o exercício de uma atividade remunerada – a do parceiro e possivelmente a delas próprias – e asseguram, por outro lado, que as crianças sejam alimentadas, cuidadas, criadas e educadas. Em suma, elas alimentam o mercado de trabalho, ao executarem todo o trabalho básico dentro da família.

Pesquisas mostram que a divisão igualitária do trabalho entre o homem e a mulher desmorona quando nascem os filhos e a mulher acaba assumindo muito mais tarefas. Os homens participam, até hoje, muito pouco da criação e do cuidado das crianças. Uma situação que é vista como normal e não costuma ser avaliada. As mulheres que abdicam de trabalhar não são valorizadas na sociedade. As próprias mães costumam dizer constrangidas: "Sou só dona-de-casa".

Mas a senhora também diz que as mães são um ícone. As mães alemãs são mitificadas?

Tudo o que hoje pensamos ou sentimos em relação à maternidade não pode ser visto sem se levar em conta o peso do Terceiro Reich. O mito da mãe tem uma conotação negativa, que vem do fato de que o regime nazista praticamente idolatrava a figura da mãe. A mulher foi tomada pela ideologia do nazismo, tendo sido obrigada a lutar na frente doméstica.

Magda Goebbels com filhos: ideal do regime nazistaFoto: picture-alliance/dpa

Há um guia de comportamento de "como cuidar dos seus filhos" dessa época, financiado por Goebbels, que teve uma tiragem enorme. Ele foi editado, com poucas modificações na capa e no conteúdo, até os anos 1970. Ali foi transportado, para as próximas gerações, essa imagem de heroína da mãe. Até hoje carregamos essa herança nazista.

Outros países com um passado fascista têm também uma imagem similar da figura da mãe?

Creio que não, pois a maternidade não foi tão impregnada de ideologias como na Alemanha. Além disso, a imagem da mulher é fruto de backgrounds históricos diversos e está atrelada a contextos sociais diferentes.

Até que ponto a imagem da mãe na Alemanha se difere da de outros países?

O conceito de o que é ser mãe na Alemanha é extremamente ambivalente. As mulheres percebem, nelas mesmas, um cisma constante. Sentem-se obrigadas a se voltar para seus filhos completamente, esquecendo-se delas mesmas como indivíduos. E quando resolvem cuidar de si mesmas, ficam com a consciência pesada, como se tivessem, com isso, negligenciando seus filhos.

Mulheres da Turquia ou dos países da ex-União Soviética, por exemplo, não vivem um conflito interno entre esses dois pólos. As mulheres russas já passaram décadas fazendo parte do mercado de trabalho.

Imigrantes turcas: menos conflitosFoto: AP

E as mulheres turcas têm outra compreensão da relação entre os gêneros. Na Turquia, é óbvio o fato de que às mulheres pertence um espaço feminino, tanto nas biografias pessoais como na sociedade. Este espaço é completamente separado do dos homens, mas reconhecido socialmente. Com isso, a feminilidade e a condição de ser mãe dessas mulheres ficam intocadas e permanecem ancoradas socialmente.

A senhora tem dois filhos. Como resolveu o dilema entre família e carreira?

Com um grande esforço pessoal. Quando tive meu primeiro filho, meu marido passou um tempo sem trabalhar fora. Eu ganhava nosso sustento. Trocamos, por assim dizer, de papéis. Vivíamos em Berlim, num ambiente que fornecia todo o apoio ideológico a este tipo de comportamento. Naquela época fundamos uma creche alternativa. Todo o ambiente permitia novos experimentos.

No caso do meu segundo filho, tudo foi resolvido da forma mais clássica, com a contratação de uma babá e depois de um jardim-de-infância. Era muito difícil conseguir um lugar numa instituição dessas. Naquele momento, as crianças só passavam a freqüentar uma escolinha com quatro anos. Consegui então que meu filho pudesse freqüentar um jardim apenas por meio período, até meio-dia. A discussão atual sobre as vagas nas creches me faz lembrar esse tempo.

O que teria que ser modificado no país em prol das mães?

O sistema educacional alemão e também o sistema de jardins-de-infância dependem, até hoje, de um trabalho muito intenso das mães, que são como educadoras auxiliares. A mulher é extremamente malvista, quando chega para uma festa da escolinha levando um bolo comprado pronto e não feito em casa, por ela. No mais, as mães trabalham de graça, no que as escolas partem do princípio de que elas vão se debruçar sobre as tarefas de casa das crianças, para que estas sejam executadas.

As mães são devoradas por completo, mas o trabalho que executam é, ao mesmo tempo, desprezado, pois não é um trabalho visível. Isso tem que ser modificado. Até hoje, as tarefas tradicionais da mãe foram substituídas por serviços terceirizados. A situação só pode mudar quando essas obrigações passarem a ser do Estado. A discussão que Ursula von der Leyen [ministra alemã da Família] desencadeou traz o problema para a consciência pública.

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