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Carros elétricos são realmente ecológicos?

David Keating | Hilke Fischer ca
8 de agosto de 2017

Governos tentam incentivar cidadãos a deixarem aos poucos os motores à combustão. Mas as opções elétricas disponíveis hoje no mercado não são uma solução perfeita e também geram sua carga de poluição.

China Peking Golf GTE hybrid
Foto: picture-alliance/dpa/Z. Haiyan

Os carros elétricos não emitem gases causadores do efeito estufa, nem gases tóxicos de nitrogênio. São mais silenciosos e, em muitos aspectos, parecem ser melhores que automóveis movidos a diesel ou gasolina. Por isso, os governos de muitos países estão incentivando seus cidadãos a adquiri-los: eles ajudam a cumprir as metas nacionais de redução de gases-estufa e reduzem a poluição nas cidades.

A Alemanha, por exemplo, se comprometeu a reduzir suas emissões em 40% até 2020 em relação ao nível de 1994. O objetivo é ter, até lá, um milhão de carros elétricos circulando nas ruas do país - uma meta de difícil realização.

Mas os carros elétricos não são uma solução perfeita.

De onde vem a eletricidade?

Se forem movidos com eletricidade gerada pela queima de combustíveis fósseis, os carros elétricos trarão pouco alívio à questão climática.

Na fabricação, os veículos elétricos precisam, além disso, de mais energia que carros convencionais, em parte devido às suas complexas baterias. O descarte desses acumuladores, por sua vez, também polui o meio ambiente.

Segundo um estudo realizado em 2011 pelo Instituto de Energia e Pesquisa Ambiental (Ifeu) de Heidelberg, a pegada de carbono de um carro movido a bateria é semelhante à de um automóvel com motor de combustão interna, independente do tamanho.

Embora os carros elétricos não causem emissões nas estradas, existe produção de dióxido de carbono – por usinas responsáveis pela eletricidade que alimenta esses automóveis. Na Alemanha, mais da metade dessa energia provém do carvão e do gás natural.

O motorista que faz a recarga de seu carro numa tomada alemã teria que rodar 100 mil quilômetros para "ressarcir" essa dívida ambiental, ou seja, emitir no total menos CO2 do que um veículo a gasolina. Se o automóvel é recarregado somente com energia sustentável, essa cifra diminui para 30 mil quilômetros.

Fabricação de uma bateria de carro elétrico provoca grandes emissões de CO2Foto: picture-alliance/dpa/A. Burgi

Baterias como fator poluente

Segundo estudo do Instituto Fraunhofer de Físicas das Construções, a fabricação de um carro elétrico demanda uma quantidade duas vezes maior de energia do que um veículo convencional.

A razão principal está na bateria: os pesquisadores estimam que, para cada quilowatt-hora (kWh) de capacidade de bateria, são emitidos 125 kg de dióxido de carbono. Assim, para uma bateria de 22 kWh de um BMW i3, isso corresponderia a quase três toneladas de CO2.

Para a fabricação de um carro elétrico, são necessários metais como cobre, cobalto e o raro neodímio. Muitas dessas matérias-primas provêm de países como China e República Democrática do Congo.

A prospecção de tais materiais é acompanhada de violações dos direitos humanos e destruição ambiental, além de desmatamento e poluição do solo e rios. Além disso, muitas montadoras usam alumínio para a carroceira de seus carros elétricos – a produção desse metal leve a partir de minério de bauxita necessita quantidades enormes de energia.

Yoann Le Petit, especialista em mobilidade elétrica na organização Transport & Environment em Bruxelas, afirma que, embora a fabricação de carros elétricos demande mais energia do que carros com motores convencionais, quando estiverem em uso, os atuais modelos elétricos são muito mais limpos e energeticamente eficientes.

"E vão ficar cada vez melhor quanto mais fontes renováveis de energia forem utilizadas para a produção de eletricidade", ressalta.

Mais tráfego nas ruas

O Instituto de Meio Ambiente e Prognóstico (UPI) da Alemanha advertiu de que mais veículos elétricos também pode provocar um aumento de tráfego, como na Noruega.

O país é líder na venda de carros elétricos. De acordo com o UPI, desde que aumentaram as vendas de veículos movidos a bateria, o número de pessoas que usam o transporte público para ir ao trabalho diminuiu em 80%.

O Greenpeace também advertiu que a mobilidade elétrica trará poucos benefícios se ela resultar num aumento de proprietários de carros. Assim, os Estados deveriam se concentrar mais em eletrificar o transporte público. Em vez disso, o governo alemão e a indústria automotiva incentivam as pessoas a adquirirem um carro próprio – a compra um carro elétrico é subsidiada, por exemplo, com um bônus de 4 mil euros.

"Greenwashing" elétrico?

Governos deveriam se concentrar em eletrificar transporte público, dizem especialistasFoto: picture-alliance/dpa/S. Pilick

Já que os carros elétricos emitem indiretamente gases tóxicos, surge a questão se eles podem ser classificados como "veículos livres de emissões". Essa discussão tem consequências abrangentes. As montadoras devem respeitar somente em média os novos limites de emissão de CO2 da União Europeia (UE). Ao produzir "veículos livres de emissões", elas podem continuar a fabricar SUVs que excedem os valores-limite.

Estudos do Instituto de Pesquisa de Mobilidade, Logística e Engenharia Automotiva da Universidade Livre de Berlim mostram que ao longo de sua vida útil um carro elétrico, cuja energia para recarga é obtida a partir de combustíveis fósseis, emite mais gases tóxicos que um automóvel a diesel, mas menos que um veículo a gasolina.

No entanto, carros elétricos impulsionados com energia proveniente de fontes renováveis emitem ao longo da vida útil seis vezes menos CO2 que um carro a gasolina, constatou o instituto berlinense.

Para que a mudança para a eletromobilidade seja a mais eficiente possível, os países precisam, ao mesmo tempo, mudar seu mix energético. Em 2016, as energias renováveis perfizeram 34% do mix na Alemanha – a meta é chegar a até 60% em 2035.

O que fazer com a bateria?

As complexas baterias de carros elétricos contêm produtos químicos tóxicos. O que fazer com elas antes de enviar os carros para o ferro-velho? Os especialistas esperam que, em breve, elas possam ser reaproveitadas.

"Uma bateria pode ser eficientemente utilizada também para outros fins", explica Jim Holder, editor-chefe de What Car, revista britânica especializada em automóveis.

Em diversas universidades, cientistas trabalham no reaproveitamento de baterias de carros elétricos, por exemplo, para fins industriais. Quanto mais tempo ela puder ser usada após o fim da vida útil do automóvel, mais ecológico é o veículo.

Os pesquisadores também estão tentando fazer com que as baterias de carros elétricos se tornem mais eficientes ou que possam ser usadas para o armazenamento de energia. Quando, por exemplo, sopra menos vento ou não há Sol, um carro conectado à rede de eletricidade poderia fornecer energia à rede.

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