Parentes de dissidentes são detidos após publicação de texto que pede renúncia de Xi Jinping. Entre os atingidos estão um colaborador da DW e um blogueiro que vive nos EUA.
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O jornalista chinês Chang Ping declarou nesta segunda-feira (28/03) à DW que dois de seus irmãos e uma irmã foram "sequestrados" por autoridades chinesas. Chang vive há vários anos na Alemanha e é colunista da redação chinesa da DW. Numa das suas colunas, Chang havia relatado, de forma crítica, prisões relacionadas a uma carta aberta ao presidente chinês, Xi Jinping.
A carta foi publicada num site chinês no início de março. Nela, os autores acusam o presidente chinês de cometer graves erros políticos e reivindicam sua renúncia. Logo após a publicação, alguns funcionários do site desapareceram. Em meados de março, o jornalista chinês Jia Jia foi detido temporariamente. As autoridades chinesas o acusaram de ser um dos autores da carta.
Chang Ping criticou a ação contra Jia Jia numa coluna para a DW. Com a prisão de seus parentes, as autoridades chinesas tentam agora pressioná-lo para que ele encerre sua coluna, de acordo com Chang. Ele disse que não está entre os autores da carta aberta e que não existe ligação alguma entre ele e a carta.
O blogueiro Wen Yunchao, outro crítico do governo chinês, afirmou no sábado, de Nova York, que seus pais e seu irmão mais novo foram levados de casa na província de Guangdong, no sul da China. A polícia queria saber deles se eles estavam por trás da carta anônima. Wen Yunchao, negou, assim como Chang Ping, qualquer ligação com a carta aberta.
No serviço de mensagens curtas Twitter, o blogueiro Wen também pediu que o governo dos EUA interceda junto a Xi Jinping pela sua família. O presidente da China é esperado em Washington esta semana para uma conferência sobre segurança nuclear.
O Comitê Internacional para Proteção dos Jornalistas (CPJ) e a organização de direitos humanos Anistia Internacional criticaram as ações das autoridades chinesas. "As autoridades devem cessar sua campanha política contra aqueles que suspeitam estar por trás da carta", reivindicou William Nee, da Anistia. Ele chamou a perseguição de familiares de dissidentes de "draconiana e ilegal" e um "insulto às intensões da China de respeitar o Estado de Direito".
Liberdade de imprensa?
O Dia Mundial da Liberdade de Imprensa é celebrado em 3 de maio. Em alguns países, porém, essa é uma realidade distante. Confira quais são os piores colocados no ranking mundial da Repórteres sem Fronteiras.
Foto: Fotolia/picsfive
Síria: perseguição e morte
Desde a revolta contra Baschar al-Assad, muitos jornalistas são perseguidos e mortos. Há anos, a Repórteres sem Fronteiras incluiu o regime de Assad na lista dos "inimigos da liberdade de imprensa". Mas a Frente al-Nusra, que luta contra Assad, e os militantes do "Estado Islâmico" também atacam jornalistas, sequestrando e matando profissionais de mídias estatais sírias e correspondentes.
Foto: Abd Doumany/AFP/Getty Images
China: maior prisão de blogueiros e jornalistas do mundo
Para a Repórteres sem Fronteiras, a China é o país onde mais blogueiros e jornalistas estão presos. O regime autoritário é contra quem emite opiniões indesejáveis sobre o sistema. A pressão contra jornalistas estrangeiros só vem crescendo. Eles são proibidos de entrar em algumas regiões do país e o trabalho é controlado. Às vezes, assistentes chineses ou entrevistados são simplesmente presos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M. Schiefelbein
Vietnã: prisão para críticos do regime
O país não possui mídia independente. O Partido Comunista, o único do Vietnã, passa aos jornalistas as informações que devem ser publicadas. Inclusive muitos editores, redatores e jornalistas são membros do partido. Blogueiros estão cada vez mais no foco das autoridades e, se desafiam o monopólio de opinião do partido, são silenciados por meio da prisão.
Foto: picture alliance/ZB/A. Burgi
Turcomenistão: aparente independência de jornalistas
O presidente Gurbanguly Berdimuhammedov detém todos os meios de comunicação. Porém, há uma exceção: o jornal Rysgal. Mas também o Rysgal tem que pedir autorização para publicar suas edições. Existe no país uma lei contra o monopólio da mídia e, desde então, os cidadãos têm acesso à imprensa estrangeira. Mas a internet é controlada pelo governo e a maioria dos sites é bloqueada.
Foto: Stringer/AFP/Getty Images
Coreia do Norte: imprensa ditada por Kim Jong-un
A liberdade de imprensa não existe na Coreia do Norte. Jornalistas não podem fazer reportagens de forma livre, já que o ditador Kim Jong-un controla o que deve ser publicado pela mídia. Com televisão ou rádio é possível receber sinais só de emissoras estatais. Qualquer pessoa que expressar opinião de forma livre acaba em um dos chamados "campos de reeducação" juntamente com toda a família.
Foto: picture-alliance/dpa/Yonhap/Kcna
Eritreia: a "Coreia do Norte" africana
A organização Repórteres sem Fronteiras coloca o país na última posição de seu ranking. Em nenhum lugar do mundo há menos liberdade de imprensa e raramente essa situação é noticiada. Muitos jornalistas já tiveram que deixar o país e somente emissoras de rádio de exilados, como a Rádio Erena, transmitida a partir de Paris, consegue levar informação independente à Eritreia.