Príncipe Ali Bin al-Hussein, um dos cinco candidatos à presidência da entidade, abre processo na Corte Arbitral do Esporte exigindo cabines transparentes de votação. Pleito está programado para sexta-feira.
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A Corte Arbitral do Esporte (CAS) comunicou, nesta terça-feira (23/02), que decidirá até quinta-feira se a eleição presidencial da Fifa será suspensa, após o candidato príncipe Ali Bin al-Hussein entrar com um processo buscando postergar a votação.
O príncipe da Jordânia, um dos cinco candidatos à sucessão de Joseph Blatter no comando da entidade, quer que cabines transparentes sejam utilizadas no congresso extraordinário da Fifa, programado para sexta-feira. O pedido de Hussein foi rejeitado pela comissão eleitoral da Fifa.
"O pedido por medidas provisórias será decidido pelo CAS o mais tardar na manhã de quinta-feira, dia 25 de fevereiro", disse a corte, em comunicado, acrescentando que pediu uma resposta por escrito da Fifa antes de tomar uma decisão.
Um improvável veredicto favorável ao príncipe jordaniano representaria um fracasso para os meses de preparação para a eleição, que muitos acreditam ser crucial para salvar a reputação da entidade máxima do futebol, manchada por escândalos de corrupção.
"Somente uma cabine de votação transparente pode provar que cada eleitor seguiu seu coração e consciência e que não existem votos forçados, impedindo que os eleitores tirem fotos da cédula de votação para provar que seguiram as instruções de voto", disse um dos advogados do príncipe, Renaud Semerdjian.
A Fifa respondeu afirmando que telefones celulares e câmeras seriam proibidos nas cabines de votação.
Com a campanha eleitoral atingindo seu pico, Hussein e o candidato francês Jérôme Champagne têm se queixado do processo eleitoral. Champagne inclusive pediu que a Fifa cancele a matrícula da Confederação Asiática de Futebol (AFC) e da Uefa, alegando que ambos os órgãos estariam fazendo lobby para os candidatos xeique Salman bin Ebrahim al-Khalifa e Gianni Infantino, secretário-geral da Uefa. O quinto candidato é o magnata sul-africano Tokyo Sexwale.
As 209 federações afiliadas à Fifa estão programadas para eleger um novo líder do futebol mundial nestaa sexta-feira, na tentativa de recuperar a entidade dos vários escândalos que até então culminaram em acusações de corrupção contra 39 cartolas e empresários por parte de autoridades americanas. Duas empresas também enfrentam acusações.
O ainda presidente da Fifa, Blatter, e o mandatário da Uefa, Michel Platini, foram suspensos do futebol pela Fifa, por oito anos, por causa de um dúbio pagamento de dois milhões de dólares aprovados por Blatter ao ex-craque francês. Já o ex-secretário-geral da Fifa Jérôme Valcke, foi banido por 12 anos.
PV/rtr/dpa/afp/ap
O escândalo de corrupção na Fifa
A entidade máxima do futebol vive a maior crise de sua história, pressionada por investigações nos Estados Unidos e na Suíça sobre corrupção envolvendo seus membros. Entenda o caso.
A Fifa começou a viver, um dia antes da abertura de seu congresso anual em Zurique, a maior crise de sua história. A Justiça americana indiciou por corrupção e lavagem de dinheiro 14 pessoas ligadas à entidade, sete delas foram presas pela polícia suíça. Entre os detidos, o ex-presidente da CBF José Maria Martin. Joseph Blatter não foi indiciado, mas o escândalo o colocou sob pressão.
Foto: Reuters/A. Wiegmann
Os detidos
Sete cartolas foram presos, seis deles funcionários diretamente ligados à Fifa. Os de maior destaque são: José Maria Marin, ex-presidente da CBF, e os vice-presidentes da Fifa Eugenio Figueredo e Jeffrey Webb. Também foram detidos os dirigentes esportivos Eduardo Li (Costa Rica), Julio Rocha (Nicarágua), Rafael Esquivel (Venezuela) e Costas Takkas (Reino Unido).
Foto: picture-alliance/epa
O esquema
Cartolas, sobretudo de federações da América Latina, vendiam direitos de propaganda e transmissão de competições a empresas de marketing esportivo, que conseguiam o apoio deles com propina. Essas empresas, depois, revendiam o direito de transmissão a emissoras. O esquema, segundo a Justiça americana, teria movimentado mais de 150 milhões de dólares em dinheiro sujo ao longo de 24 anos.
Foto: Getty Images/AFP/D. Emmert
O modelo de negócios da Fifa
Como associação de utilidade pública sem fins não lucrativos, a Fifa se compromete a reinvestir no futebol todos os seus lucros. Seu modelo comercial é simples: ela lucra com a exploração, sobretudo, da Copa do Mundo – o país-sede lhe garante isenção de impostos. A fatia mais gorda das rendas da Fifa são os direitos de transmissão televisiva e os patrocínios oficiais ao Mundial.
Foto: Reuters/R. Sprich
Jurisdição sobre o caso
Os Estados Unidos têm jurisdição sobre o caso porque boa parte da propina foi paga ou recebida usando instituições americanas, como os bancos Delta, JP Morgan Chase, Citibank e Bank of America. Além disso, o dinheiro sujo teria sido movimentado em filiais nos EUA de instituições estrangeiras, como os brasileiros Itaú e Banco do Brasil. Na foto, investigadores apresentam caso à imprensa.
Foto: picture-alliance/epa/J. Lane
Brasileiros na mira
O Brasil tem dois envolvidos além de Marin (foto): o dono da empresa de marketing Traffic, José Hawilla, e o intermediário José Margulies (argentino naturalizado brasileiro). A Copa do Brasil e o contrato da CBF com a Nike estão sob investigação. Marin, que presidiu a CBF entre 2012 e 2015, aparece em dois dos 12 esquemas listados. Ele teria recebido, só da Traffic, 2 milhões de reais por ano.
Foto: dapd
A investigação
O FBI (a polícia federal americana) começou a investigação sobre a Fifa há três anos. O processo teve início devido à escolha de Rússia e Catar como países-sede das Copas de 2018 e 2022, mas acabou expandida para analisar os acordos da entidade nos últimos 20 anos. Os Mundiais, então, acabaram sendo deixados de lado na investigação.
Foto: picture-alliance/dpa/P. B. Kraemer
Copas da Rússia e do Catar
O Ministério Público da Suíça anunciou ter aberto uma investigação criminal sobre um possível esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo as escolhas das sedes das Copas de 2018 e 2022, que ocorrerão na Rússia e no Catar (foto). A investigação corre paralelamente ao processo judicial aberto nos Estados Unidos. Os nomes dos investigados não foram divulgados.