Casal iraniano é condenado por vídeo viral de dança
31 de janeiro de 2023
Dançarinos recebem penas de mais de dez anos de prisão por gravação considerada símbolo da luta pela liberdade no Irã. Mulher não usava véu islâmico em desafio às leis rígidas que reprimem direitos das iranianas.
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Um jovem casal iraniano foi condenado a mais de dez anos de prisão nesta terça-feira (31/01) por em vídeo que se tornou popular, onde os dois aparecem dançando em frente a um dos principais monumentos históricos de Teerã.
Astiyazh Haghighi, de 21 anos, e seu noivo Amir Mohammad Ahmadi, de 22 anos, foram presos em novembro após o vídeo de danças românticas em frente à torre Azadi ("liberdade", em persa), na capital do Irã, viralizar.
Na gravação, Haghighi não cobria a cabeça com o véu islâmico, em desafio às rígidas leis iranianas que restringem os direitos das mulheres, as quais também são proibidas de dançarem em público, principalmente se estiverem na companhia de um homem. O vídeo foi considerado um símbolo da reivindicação por mais liberdade, em meio à onda de protestos em todo o país contra o regime.
Segundo a Agência de Notícias dos Ativistas dos Direitos Humanos (Hrana), uma entidade com sede nos Estados Unidos que denunciou a condenação, um tribunal revolucionário em Teerã impôs a Haghighi e Ahmadi penas de dez anos e seis meses de prisão, além da proibição de usarem a internet e de deixarem o país.
O casal de blogueiros, bastante popular no Instagram, foi condenado por "encorajar a corrupção e prostituição pública", além de "reunião com intenção de perturbar a segurança nacional".
A Hrana citou fontes próximas às famílias do casal que alegam que os dois não tiveram direito a advogados durante os procedimentos na corte, e que seus pedidos para pagar fiança foram negados. Segundo a agência, Haghighi estaria na prisão feminina de Qarchak, cujas más condições são criticadas por ativistas.
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Protestos contra o regime iraniano
As autoridades iranianas vêm reprimindo com brutalidade diversas formas de dissidência desde a morte da jovem Mahsa Amini, em setembro, em custódia da "polícia da moral" por, supostamente, violar as regras referentes ao uso do véu islâmico.
A morte de Amini gerou uma crise em todo o país, com forte repercussão internacional, que se transformaram em um movimento contra o regime iraniano.
A gigantesca e futurística torre Azadi, erguida no início dos anos 1970, é um dos principais símbolos da capital iraniana. Ela foi inaugurada durante o regime do último xá a governar o país, Mohammad Reza Pahlevi, deposto em 1979 pela Revolução Islâmica.
Inicialmente batizada de Shahyad ("em memória do xá"), ela acabou sendo renomeada pelo regime islâmico. Seu arquiteto, adepto da crença Bahai, não reconhecida no país, vive atualmente no exílio.
rc/av (AFP, DPA)
Por todo o mundo, solidariedade às iranianas
Em muitas cidades, grafites e manifestações mostram solidariedade às mulheres iranianas que enfrentam o regime de Teerã.
Foto: Francois Mori/AP/picture alliance
Na Embaixada do Irã na Cidade do México
Em solidariedade às mulheres no Irã e à jovem Mahsa Amini, que foi morta enquanto estava sob custódia policial no Irã, uma mulher chama o país de machista numa parede da embaixada iraniana na Cidade do México.
Foto: Gerardo Vieyra/NurPhoto/picture alliance
Manifestação em Frankfurt
A polícia da moralidade prendeu Mahsa Amini, de 22 anos, por não usar adequadamente o véu islâmico. Ela entrou em coma e morreu no hospital em 16 de setembro. A polícia negou o uso de violência, mas quase ninguém acredita nisso. Muitas mulheres iranianas experimentaram na própria pele a brutalidade da polícia da moralidade.
Foto: picture alliance/dpa
Marge solidária em Milão
No Irã, e em outras cidades do mundo, as mulheres estão cortando os cabelos em protesto na frente das câmeras. Marge Simpson fez o mesmo na parede de um prédio em Milão, na Itália, em frente ao consulado iraniano. A imagem é do artista de rua Alexsandro Palombo.
Foto: Andrea Fasani/ANSA/EPA-EFE
Amini será cidadã honorária de Paris
A lembrança de Mahsa Amini e dos protestos no Irã não está só nos muros e paredes da capital francesa. A cidade quer tornar Amini cidadã honorária postumamente. Um local em Paris deverá ser chamado Amini, "para que ninguém esqueça o nome dela", anunciou a prefeita Anne Hidalgo na semana passada. "Paris sempre estará ao lado daqueles que lutam por seus direitos e liberdade", disse.
Foto: Francois Mori/AP/picture alliance
"Mulheres, vida e liberdade" em Frankfurt
Artistas do Coletivo sem Nome pintaram um retrato de Mahsa Amini num prédio vazio em Frankfurt. Ao lado, estão as palavras persas jin, jiyan, azadi — mulheres, vida, liberdade. Esse é o slogan dos manifestantes contra o regime dos mulás em Teerã.
Foto: Boris Roessler/dpa/picture alliance
Solidariedade na Cracóvia
A revolta das mulheres contra seus opressores no Irã merece solidariedade, dizem muitas mulheres de outros países. E elas vão às ruas em todo o mundo — como aqui em Cracóvia, na Polônia. Em muitos lugares do globo, mulheres são discriminadas, por isso a ideia de uma revolução feminista no Irã fascina muitas delas.
Foto: Beata Zawrzel/NurPhoto/picture alliance
Performance de estudantes de artes em Teerã
Estudantes de arte da Universidade Azad, em Teerã, protestaram em frente ao prédio da faculdade de artes. A tinta vermelha em suas mãos simboliza a repressão sangrenta dos protestos pelas forças de segurança.
Foto: UGC/AFP
"Morte ao ditador"
Os protestos após a morte de Mahsa Amini não visam apenas os rígidos códigos de vestimenta para meninas e mulheres. Em todo o país, os manifestantes estão questionando o sistema e gritando "mulás, desapareçam" ou "morte ao ditador", referindo-se ao líder religioso e político Ali Khamenei.