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Terrorismo

(gh)18 de janeiro de 2007

Advogado acusa o antigo governo da coalizão social-democrata-verde, que foi integrado pelo atual ministro das Relações Exteriores, de co-responsável pela prisão de Murat Kurnaz em Guantánamo.

Murat Kurnaz depôs a duas comissões do BundestagFoto: AP

As investigações do caso do cidadão turco nascido em Bremen, Murat Kurnaz, libertado de Guantánamo em 24 de agosto de 2006, pode acabar atingindo integrantes do atual governo alemão.

Em depoimento na Comissão de Defesa do Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão), o advogado de Kurnaz, Bernhard Docke, disse nesta quinta-feira (18/01) que o antigo governo da coalizão social-democrata-verde foi co-responsável pelos quase cinco anos de prisão de seu cliente.

"Se Kurnaz tivesse a cidadania alemã, ele já teria sido libertado no outono de 2002", disse. Segundo Docke, ele só foi solto em 2006, depois que a atual chanceler federal alemã, Angela Merkel, interveio no caso.

O ex-ministro das Relações Exteriores, Joschka Fischer, teria dito à época que o governo alemão tinha apenas possibilidades limitadas para ajudar o cidadão turco. As bancadas verde e social-democrata no Bundestag informaram, porém, que Fischer tentou junto ao seu colega norte-americano, Colin Powel, obter a libertação de Kurnaz.

Segundo Docke, o então chefe do serviço secreto alemão (BND), August Hanning, rejeitou o retorno de Kurnaz à Alemanha, mesmo após a CIA ter considerado "injusta" a acusação de seu envolvimento com o terrorismo.

A esta altura, o visto de permanência de Kurnaz na Alemanha já havia sido anulado, sob o argumento de que ele deixara de se apresentar às autoridades durante seis meses. "Com isso, o governo obstruiu o caminho de sua libertação", disse o deputado verde Hans-Christian Ströbele.

Papel de Steinmeier

Steinmeier, ex-chefe da Casa Civil, agora ministro das Relações ExterioresFoto: AP

O BND é subordinado à Casa Civil, pasta que no governo anterior era chefiada por Frank-Walter Steinmeier, atual ministro das Relações Exteriores. O Parlamento pretende esclarecer se houve uma oferta de libertação de Kurnaz e, em caso positivo, por que foi rejeitada pelo governo alemão.

Na quarta-feira (17/01), Kurnaz deixou perplexos os membros da Comissão de Defesa do Bundestag ao narrar detalhes de sua prisão. Detido no Paquistão no final de 2001, ele foi interrogado por soldados dos EUA em Kandahar e, mais tarde, levado a Guantánamo, onde teria sido ouvido também por agentes do BND em setembro de 2002 e início de 2004.

Nesta quinta-feira (18/01), ele reiterou diante da CPI do serviço secreto no Parlamento as acusações de que, no começo de 2002, foi acorrentado e torturado por soldados de elite das Forças Armadas alemãs na prisão de Kandahar, no Paquistão.

Ele contou detalhes também das torturas que teria sofrido na prisão norte-americana em Cuba. "Eles nos torturaram com o frio nas celas de isolamento ou através da falta de ventilação, de modo que desmaiei várias vezes", explicou.

"Não tínhamos toaletes, tínhamos de usar baldes. A água potável também nos era servida em baldes. Uma vez por semana, podíamos usar por dois ou três minutos o que eles chamavam de chuveiro, mas a água era insuficiente para o banho", contou.

A CPI do serviço secreto apura informações prestadas por Kurnaz de que seus interrogatórios no Paquistão e em Guantánamo foram acompanhados por um "misterioso funcionário da Cruz Vermelha" que falava alemão. O advogado do ex-prisioneiro suspeita que se tratou de um agente do BND.

O deputado social-democrata Thomas Oppermann disse que Kurnaz sofreu uma "prisão desumana, mas não foi vítima das autoridades alemãs. O governo alemão não recebeu uma oferta oficial de libertação", garantiu.

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