Caso Marielle: voz não é do porteiro que citou Bolsonaro
11 de fevereiro de 2020
Perícia conclui que voz que liberou a entrada do ex-PM Élcio de Queiroz, acusado de envolvimento na morte da vereadora, no condomínio Vivendas da Barra no dia do crime não é do homem que citou presidente em depoimento.
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A Polícia Civil concluiu que a voz do porteiro que liberou a entrada do ex-policial militar Élcio de Queiroz no condomínio Vivendas da Barra no dia do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes não é a do funcionário que citou o presidente Jair Bolsonaro em depoimento.
A conclusão consta em um laudo da Polícia Civil divulgado nesta terça-feira (11/02) pelo jornal O Globo. Assinado por seis peritos, o texto ao qual o jornal teve acesso afirma também que não foi constatada nenhuma edição no áudio da portaria e que quem deu autorização para a entrada de Queiroz no condomínio foi o policial reformado Ronnie Lessa.
Tanto Queiroz quanto Lessa estão presos sob a acusação de terem cometido o assassinato, ocorrido em março de 2018.
Em dois depoimentos no ano passado, um dos porteiros do Vivendas da Barra, onde Bolsonaro e Lessa têm propriedades, disse que o então deputado federal e atual presidente havia liberado a entrada de Queiroz no condomínio. No mês seguinte, em novo depoimento, ele voltou atrás.
Segundo O Globo, a perícia no áudio da portaria, iniciada em 13 de janeiro deste ano, confirmou que foi um outro funcionário que interfonou para Lessa, morador do condomínio e vizinho de Bolsonaro. O crime aconteceu em 14 de março de 2018, por volta das 21h15. A gravação foi feita no mesmo dia, às 17h07m42s, adiantou a reportagem do Globo.
Nos depoimentos prestados nos dias 7 e 9 de outubro passado, o porteiro disse que "seu Jair" – numa referência a Bolsonaro – autorizara a entrada de Queiroz no dia da execução da vereadora, afirmando também que o ex-PM pedira para ir à casa número 58, onde vivia o então deputado federal e atual presidente. Mas Bolsonaro se encontrava em Brasília naquele dia.
Em novembro, entretanto, o funcionário do condomínio Vivendas da Barra afirmou ter lançado errado o registro de entrada de Queiroz na casa 58 na planilha de controle do condomínio.
No final de outubro, o Ministério Público do Rio havia afirmado que uma perícia desmentiu o porteiro e apontou que Queiroz foi para a casa 66, de Lessa.
Em ato na Avenida Paulista, mulheres de todas as idades lembram coragem da vereadora assassinada e protestam por causas que ela defendia, dos direitos das mulheres à inclusão social.
Foto: DW/N. Pontes
Priscila, 36
"Marielle virou símbolo para todas nós", diz Priscila, que participou de ato na Avenida Paulista para marcar um ano do assassinato da vereadora. Formada em Serviço Social, Priscila descobriu que poderia ir além do ensino médio ao frequentar um cursinho popular para estudantes negros. "Como Marielle, eu também saí da periferia e consegui estudar. Ela mostrou que todas nós poderíamos ir mais longe."
Foto: DW/N. Pontes
Herta, 77, Malu, 74
Amigas há pouco tempo, Herta (esq.) e Malu têm um passado comum: ambas foram perseguidas durante a Ditadura Militar. Membro do movimento estudantil, Herta foi presa em 1968, e estava grávida à época. Malu buscou refúgio na França e no Chile, entre outros países. "Marielle teve coragem para denunciar, mesmo sabendo do risco que estava correndo", aponta Malu a semelhança com a própria experiência.
Foto: DW/N. Pontes
Maria Isabele, 18
"A gente também batalha para levar oportunidade para quem não tem. Era o que a Marielle fazia", diz Maria Isabele, 18 anos, sobre o motivo que a levou ao protesto na Avenida Paulista. Na periferia da Zona Leste, a família de Maria Isabel oferece aulas de dança e grafismo para crianças e jovens carentes. Maria dá aulas de hip hop.
Foto: DW/N. Pontes
Sheila, 40
"Eu vim pedir justiça, que nunca chega para nós. A morte da Marielle é como a morte de muitas de nós, mulheres negras, pobres e da periferia", diz Sheila. Faz mais de dez anos que a família espera por respostas depois da morte de um primo dela, atingido por uma bala perdida em São Miguel Paulista. O garoto tinha 9 anos. "O caso nunca foi desvendado", contou.
Foto: DW/N. Pontes
Alice, 66
Na companhia dos netos, Alice protestou contra todos os crimes bárbaros que matam mulheres no país. "Nunca estive sozinha nessa luta", diz ela, que já acompanhou diversas mulheres da vizinhança onde mora para prestar queixa na delegacia depois de sofrerem violência doméstica. Ela também já precisou de apoio. "Se eu não tivesse lutado, nem viva estaria hoje", resumiu.
Foto: DW/N. Pontes
Luciana, 44
Com o filho de dois anos no colo, Luciana saiu de Embu das Artes, região metropolitana de São Paulo, para participar do protesto. "Sou mãe e pai dos meus filhos. Como Marielle defendia, eu também quero que eles vivam num país sem discriminação, que tenham moradia digna, educação e transporte público de qualidade, atendimento de saúde. Quero que eles vivam num Brasil socialmente justo", afirmou.
Foto: DW/N. Pontes
Carina, 20, Júlia, 17
"Eu estou aqui movida pela indignação", afirma Carina (à direita, com cartaz). "Não adiantou matar Marielle. Nós agora estamos juntas e somos uma voz que não se cala." Júlia diz não querer mais ficar em casa chorando as mortes que vê na televisão: "Marielle, Mariana, Brumadinho, Suzano. Não quero mais velar corpos. Quero uma cultura de paz. Precisamos nos unir."
Foto: DW/N. Pontes
Ruth, 22
Estudante de sociologia, Ruth encontrou na pesquisa acadêmica de Marielle uma voz parecida com a de sua mãe adotiva. "Minha mãe sempre falou sobre as dificuldades das mulheres negras e pobres", resumiu. Ao ser adotada, aos quatro anos, Ruth diz ter saído da pobreza para a classe média. A mãe biológica, dependente química e moradora de rua, morreu vítima do tráfico de drogas.