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Caso Zaimoglu: qualquer plágio é mera coincidência

Simone de Mello28 de junho de 2006

Escritor turco-alemão Feridun Zaimoglu se defende de acusação de plágio, alegando o teor biográfico de seu romance 'Leyla'. Como pode a biografia de sua mãe coincidir com o primeiro romance de uma outra escritora?

Zaimoglu: 'O que fazem mulheres turcas quando se encontram? Contam histórias!'Foto: DW-TV

A ficção sempre foi temida por sua ameaça de "vampirizar" a realidade e se passar por real. E também por seu poder de seduzir as pessoas a se distanciar da realidade. Com a proliferação de mídias que permitem uma simulação quase perfeita de circunstâncias reais, expor-se de forma extrema ao mundo ficcional continua sendo visto como um risco.

A primeira proibição desde Mephisto

Maxim BillerFoto: dpa

Apesar de a literatura estar bem aquém de outras mídias em seu potencial de simulação fidedigna, sempre é necessário deixar claro que qualquer semelhança com circunstâncias reais é mera coincidência. Exatamente um ano atrás, o romance Esra, do escritor tcheco-alemão Maxim Biller, foi definitivamente proibido pelo Supremo Tribunal Federal da Alemanha por "não ocultar o suficiente" a biografia das pessoas que serviram de base para duas personagens do livro, a ex-namorada do autor e sua mãe.

"A caracterização da trajetória biográfica e pessoal das mandantes do processo coincide na essência com as personagens Esra e Lale." Diante do "insuficiente estranhamento da representação em relação ao referente original", o Tribunal sentenciou o recolhimento do livro do mercado.

Gustaf Gründgens no papel de Fausto, no Schiller Theater de Berlim, 1959Foto: AP

Neste caso, especificou na época a sentença, a proteção dos direitos de personalidade está acima do direito à liberdade de expressão artística. O último precedente do caso Biller na Alemanha foi a proibição de Mephisto, de Klaus Mann, um romance inspirado na vida do ator Gustaf Gründgens, em 1968.

Mais de uma coincidência

Agora, um ano depois, acontece justamente o contrário. Um novo "escândalo" literário na Alemanha levou um escritor turco-alemão a recorrer à realidade para se defender de acusações de plágio. Feridun Zaimoglu recebeu excelentes críticas por seu novo romance Leyla, até uma germanista especializada em literatura de migração (e mantida anônima) ter divulgado na imprensa uma lista com inúmeras semelhanças entre o livro de Zaimoglu e o primeiro romance da escritora turco-alemã Emine Sevgi Özdamar, Das Leben ist eine Karawanserei hat zwei Türen aus einer kam ich rein aus der anderen ging ich raus (A vida é um caravançarai tem duas portas entrei por uma e saí por outra, 1992).

Os indícios de plágio não se limitariam a "circunstâncias básicas" e "detalhes estilísticos", mas se estenderiam a "elementos construtivos essenciais", "analogias cênicas" e "neologismos semelhantes".

Feridun Zaimoglu se defendeu com indignação das suspeitas de plágio – "a pior das acusações" –, colocando à disposição da imprensa as fitas cassete que gravou com a voz de sua mãe contando episódios de sua biografia na pequena cidade anatólia de Malatya. Zaimoglu afirmou, além disso, jamais ter lido um livro de Özdamar.

A vida imita a arte?

'Leyla', 2006 (capa)

Em entrevista ao jornal Die Zeit, o romancista se admirou, de fato, das semelhanças: "Por exemplo: as famílias de ambas as meninas provêm do Cáucaso. A narradora de Özdamar tem uma avó armênia – na nossa família, corre o boato de que a minha avó era armênia. Em Özdamar, o avô casa com ela por piedade – na minha família também! Já começa por aí. [...] Fulya, fazendo chamados obscenos da janela, é uma das minhas tias, que até hoje ainda ri disso. E a tentativa de suicídio de uma outra tia minha, a agulha que quebra no seu dedo – tudo isso aparece no livro de Özdamar!".

As primeiras justificativas em defesa de Zaimoglu recorriam ao fato de que a romancista Özdamar e a mãe do escritor provêm da mesma cidade anatólia. E ao fato de ambos os livros tratarem de uma trajetória de migração. Mas agora, Zaimoglu divulgou uma informação que pode inverter a história.

Sua mãe e uma de suas tias, em cuja biografia Zaimoglu baseou a protagonista e uma outra personagem de seu romance, viveram na década de 60 em um albergue feminino da Siemens para imigrantes turcas em Berlim. Em recente conversa com sua tia, que foi diretora do albergue, ele levantou a hipótese de que Özdamar tivesse ouvido as histórias de sua família naquela época.

"O que fazem mulheres turcas quando se encontram? Contam histórias!", explica Zaimoglu, citando sua tia: "Lembro-me exatamente de quatro mulheres porque elas se comportavam diferente das outras: duas irmãs lésbicas, não muito discretas, e Emine Sevgi Özdamar, além de sua melhor amiga".

Além de essas coincidências oferecerem material para um terceiro romance, elas também dão o que pensar por um outro motivo. Será que, diante da crescente facilidade de simular outras realidades, o fato biográfico tende a se tornar a fonte mais concorrida da literatura – e isso, sem qualquer filtro?

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