"Castelo da Cinderela" alemão é declarado Patrimônio Mundial
12 de julho de 2025
Neuschwanstein, que inspirou filmes de Walt Disney, e outros três castelos construídos pelo rei Ludwig II da Baviera entraram para a lista de proteção da Unesco.
Situado em um rochedo alpino de 200 metros de altura, Neuschwanstein é o castelo mais visitado da AlemanhaFoto: Lilly/imageBROKER/picture alliance
Anúncio
O castelo de Neuschwanstein, na Baviera, conhecido por ter inspirado filmes de Walt Disney, foi declarado Patrimônio Mundial da Unesco, anunciou a agência da ONU neste sábado (12/07).
Três outros edifícios reais, também construídos no final do século 19 sob o comando do rei Ludwig 2º da Baviera, que era obcecado por artes, também foram adicionadas à lista: Herrenchiemsee, Linderhof e Schachen.
Neuschwanstein, situado em um rochedo alpino de 200 metros de altura, é o castelo mais visitado da Alemanha e recebeu mais de 1,7 milhão de turistas no ano passado, muitos do exterior.
"Um conto de fadas se tornou realidade para nossos castelos de contos de fadas: somos #PatrimônioMundial!", escreveu o governador da Baviera, Markus Soeder, no X após o anúncio.
Neuschwanstein combina um exterior medieval idealizado e técnicas arquitetônicas consideradas de ponta na época.
Seus salões principais são decorados com pinturas de lendas alemãs e nórdicas, as mesmas histórias que inspiraram o compositor Richard Wagner, para quem Ludwig foi um generoso patrono.
Peter Seibert, da Administração dos Castelos da Baviera (BSV), disse que a inclusão na lista da Unesco "é uma grande responsabilidade, mas também um reconhecimento (...) pelo trabalho que fizemos até agora em preservação".
Philippe, um visitante canadense de 52 anos, ficou surpreso que o castelo ainda não era um Patrimônio Mundial da Unesco. "Temos sorte de ainda poder vivenciar isso", disse ele, chamando a inclusão na lista de "uma ideia muito boa".
A história do famoso Castelo de Neuschwanstein
Sabe de onde vem o nome do castelo de conto de fadas? Que ele foi usado só por 172 dias e que tinha avançadas inovações técnicas para aquela época? Conheça números e fatos sobre a grande atração turística alemã.
Foto: picture-alliance/dpa
Origem do nome
Ele foi construído sobre as ruínas de dois burgos medievais documentados pela primeira vez em 1090, com o nome "Castrum Swangowe". Já "Schwanstein" era um castelo próximo dali, mas que foi demolido em meados do século 19, para construir o castelo de Hohenschwangau. Os castelos ficam perto do lago Schwansee, na região de Schwangau. Schwan significa cisne em alemão, Stein, pedra, e neu, novo.
Foto: picture-alliance/dpa
Castelo medieval e mitos alemães
O rei Ludwig 2º da Baviera mandou construir o castelo para transpassar, pela arquitetura, as óperas de Richard Wagner e os mitos alemães. O projeto foi feito pelo cenógrafo de teatro Christian Jank e executado pelos arquitetos Eduard Riedel e Georg von Dollmann. A obra, iniciada em 1869, tinha o ideal de castelo medieval.
Foto: Shahriar Sedighi
O projeto em 1869
O castelo de Wartburg, na Turíngia, serviu de modelo para o Neuschwanstein, que acabou recebendo muitos detalhes românticos. Alguns elementos, como uma das torres à esquerda no projeto, não foram realizados. Se concluído, o castelo teria 200 cômodos, incluindo as dependências para hóspedes e serviçais, mas apenas 15 dependências foram terminadas e decoradas.
Foto: picture alliance/akg-images
Arquitetura de superlativos
A área total de todos os pisos juntos soma 6 mil m2 e o comprimento do castelo, cerca de 150 metros. Trata-se de uma construção assimétrica, formada por vários prédios individuais. A torre mais alta mede 80 metros. As obras foram iniciadas em 1869 e até 1886 a maior parte das construções externas estava pronta.
Foto: Imago/Westend61
Trabalho noite e dia
Durante quase 20 anos, as obras do castelo mobilizaram não só pedreiros e outros profissionais de obra, mas também fornecedores, transportadores e agricultores. Trabalhava-se dia e noite no maior empregador da região. Em 1880, 209 pessoas trabalharam no castelo. Uma associação de trabalhadores da construção do castelo pagava até 15 dias de salário a quem sofresse acidente ou ficasse doente.
Foto: picture-alliance/dpa
Inovações técnicas
O castelo dispõe de inovações bastante avançadas para o final do século 19. Ele tinha um sistema de campainha a bateria para chamar serviçais e um tipo de linha telefônica. O forno da cozinha tinha um gril que gira com o calor produzido. O ar quente podia ser canalizado para a calefação. Havia também um sistema de água quente para as torneiras e banheiros com descarga automática.
Foto: Bayerische Schlösserverwaltung
Um mundo de extravagância
As luxuosas pinturas nas paredes celebram o mundo de Tannhäuser e Lohengrinn, das óperas de Wagner, com muitos cisnes e hunos, em cores vivas e muito ouro. Ludwig 2º amava a exuberância. Todos os salões são em estilos diferentes: um era românico; outro, bizantino; um terceiro, gótico, e o quarto, renascentista.
Foto: picture-alliance/dpa/K. J. Hildenbrand/Bayerische Schlösserverwaltung
O endividamento e a destituição
Dados de 1879/1880 documentam o material gasto naquele ano: 465 t de mármore, 1.550 t de arenito, 400 mil tijolos, 2.050 m3 de madeira, 3.600 m3 de areia e 600 t de cimento. Mas a megalomania do rei Ludwig 2º quase o levou à falência. Até 1886, havia sido gasto o dobro do dinheiro previsto. O governo da Baviera o acabou destituindo do trono e o declarou incapaz de continuar sendo rei.
Foto: picture-alliance/dpa
Ludwig só morou ali 172 dias
O rei morreu afogado, sob circunstâncias não esclarecidas, em 13/06/1886, poucos dias após a destituição. O castelo ainda não estava pronto. O rei morou ali um total de 172 dias, mas não intermitentemente. Inicialmente, o castelo foi chamado "Neue Burg Hohenschwangau" (Novo Burgo Hohenschwangau). O nome atual é de 1886. O castelo pertence hoje à Baviera. O nome "Neuschwanstein" é marca registrada.
Foto: picture-alliance/akg-images
Gruta da ópera de Wagner
Entre a sala e o escritório, e junto a um jardim de inverno, Ludwig mandou construir uma pequena gruta, originalmente com uma cascata artificial. A iluminação era feita com a projeção de luzes coloridas com a chamada "máquina de arco-íris". A ideia de Ludwig era representar a gruta do Monte de Vênus, da ópera Tannhäuser, de Richard Wagner.
Foto: Bayerische Schlösserverwaltung
Atração turística
O rei não queria visitas no Neuschwanstein, mas elas foram permitidas já seis semanas após sua morte, ao preço de 2 marcos por pessoa. Em oito semanas, vieram 18 mil visitantes. Hoje, são 1,5 milhão por ano. Neuschwanstein é o mais famoso dos vários castelos de Ludwig 2º e um dos principais pontos turísticos da Alemanha. Há guias de áudio em 18 idiomas, incluindo coreano e tailandês.
Foto: picture-alliance/dpa/K.-J.Hildenbrand
Inspiração para o castelo da Disney
O castelo foi modelo para vários prédios em todo o mundo, especialmente o da Bela Adormecida no parque da Disney na Califórnia (foto).Também o castelo da Bela Adormecida na Disneyland Paris foi inspirado no "castelo de conto de fadas" da Baviera. O mesmo vale para o Excalibur Hotel & Casino em Las Vegas. Inaugurado em 1990, o complexo de 290 milhões de dólares tem semelhanças com Neuschwanstein.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Nowottnick
12 fotos1 | 12
Miniatura de Versalhes e caverna artificial
Herrenchiemsee, por sua vez, evoca um Palácio de Versalhes em miniatura na ilha de um lago entre Munique e Salzburgo, uma homenagem ao monarca absolutista Luís 14 da França, que Ludwig admirava.
De fato, Ludwig apelidou Herrencheimsee de Meicost-Ettal, um anagrama do suposto aforismo de Luís 14 L'Etat, c'est moit (Eu sou o Estado).
A terceira residência real que entrou na lista da Unesco é o pequeno castelo de Linderhof, inaugurado em 1878, o único cuja construção foi concluída ainda durante a vida de Ludwig.
Ele mistura elementos da arquitetura barroca francesa do reinado de Luís 14 com toques do estilo rococó desenvolvido no sul da Alemanha.
Seu parque possui uma caverna artificial inspirada na ópera Tannhaeuser, de Wagner, com 90 metros de comprimento e até 14 metros de altura, que abriga uma gruta de Vênus e foi projetada como um refúgio pessoal para Ludwig.
O sistema de iluminação elétrica usado na caverna era de última geração na época, com discos de vidro usados para iluminar a gruta em diferentes cores.
O último dos quatro locais da lista é Schachen, uma casa real no estilo de um grande chalé suíço, onde Ludwig gostava de celebrar o dia do santo de seu homônimo, São Luís, em 25 de agosto. Ela está localizado a 1.800 metros acima do nível do mar, não muito longe de Neuschwanstein.
As residências reais foram planejadas para evocar o romantismo medieval e a fantasia, e refletiam a visão de Ludwig de uma arquitetura teatral e onírica.
A entrada na lista da Unesco não é acompanhada por verbas extras, mas impulsiona o reconhecimento internacional e o turismo. O país onde fica o Patrimônio Mundial também precisa preservar e proteger o local, além de enviar relatórios para a Unesco.
A ideia para o reconhecimento dos castelos de Ludwig 2º surgiu há mais de 25 anos. Porém, somente 2015, ele entrou oficialmente na lista alemã de possíveis candidatos, e o pedido para o reconhecimento dos castelos de Ludwig 2º foi feito à Unesco no ano passado.
Ludwig 2º: muito mais que o rei de contos de fadas
01:37
This browser does not support the video element.
Gasto com construção levou à queda do rei
Os quatro castelos se tornaram "parte da identidade bávara", diz Seibert, "icônicos e perfeitamente integrados a uma bela paisagem".
Ironicamente, embora o legado arquitetônico de Ludwig seja hoje motivo de orgulho na Baviera – sem mencionar a receita oriunda do turismo –, eles foram parte do motivo de sua queda.
Os altos custos da construção das residências luxuosas levaram o governo da Baviera a destituí-lo, declarando-o insano. Internado no Palácio Berg, ele morreu pouco depois em circunstâncias misteriosas no Lago Starnberg.
Anúncio
Lista da Unesco cresce
Neste ano, cerca de 30 atrações culturais e naturais podem ser incluídas na lista da Unesco, incluído a cidade jamaicana de Port Royal, destruída por um tsunami em 1692, e o centro modernista da cidade polonesa de Gdynia. Do Brasil, está em avaliação a candidatura do Parque Nacional das Cavernas do Peruaçu, em Minas Gerais.
Atualmente, o Brasil têm sete Patrimônios Mundiais: Parque Nacional do Iguaçu (PR), Costa do Descobrimento: Reservas da Mata Atlântica (BA/ES), Reservas da Mata Atlântica (PR/SP), Complexo de Conservação da Amazônia Central (AM), Complexo de Áreas Protegidas do Pantanal (MT/MS), Ilhas Atlânticas - Fernando de Noronha e Atol das Rocas (PE/RN) e Reservas do Cerrado: Parques Nacionais da Chapada dos Veadeiros e das Emas (GO)
bl (AFP, dpa, ots)
Castelos e palácios da Alemanha
No final da Idade Média, a nobreza deixou de erguer fortalezas e burgos e passou a construir castelos e palácios – para residir e, acima de tudo, demonstrar poder.
Foto: Sebastian Kahnert/dpa/picture-alliance
Neuschwanstein
O Neuschwanstein é o castelo mais famoso da Alemanha e o que mais atrai visitantes – cerca de 1,5 milhão por ano. O excêntrico rei Ludwig 2º da Baviera mandou construí-lo em 1869, próximo à cidade de Füssen, para realizar seu sonho de ter um castelo de cavaleiros medieval. A construção foi inspirada no Wartburg em Eisennach, o mais importante burgo do país.
Foto: picture-alliance/Bildagentur Huber
Albrechtsburg
Construído no século 15, o Albrechtsburg de Meissen, Saxônia, é o castelo mais antigo da Alemanha. Em 1710, Augusto 2º, o Forte, estabeleceu aqui a primeira fábrica de porcelana da Europa. A construção à margem Rio Elba, a 25 quilômetros de Dresden, é hoje um museu.
Foto: Fotolia/digi_dresden
Castelo de Heidelberg
O castelo de Heidelberg é o símbolo desta cidade universitária à beira do rio Neckar. Ele era a suntuosa residência dos príncipes eleitores do Palatinado. Porém em 1693, durante a Guerra dos Nove Anos, foi destruído pelos soldados do rei francês Luís 14. Hoje é a mais famosa ruína da Alemanha, recebendo cerca de 1 milhão de visitantes por ano.
Foto: picture-alliance/dpa
Glücksburg
O palácio aquático Glücksburg fica próximo ao fiorde de Flensburg, no estado de Schleswig-Holstein. Construído no século 16 no lugar de um mosteiro cisterciense, ele conta entre os mais importantes palácios renascentistas do norte alemão. Durante o século 19, era residência de verão do rei da Dinamarca.
Foto: picture-alliance/dpa
Sanssouci
Frederico 2º, rei da Prússia, construiu este palácio de verão para filosofar e fazer música sem preocupação (em francês: "sans souci"). Ele foi erguido em Potsdam entre 1745 e 1747, a partir de esboços do próprio monarca, que na parte sul também fez erguer um vinhedo em terraços. O palácio e o parque onde se localiza são Patrimônio Mundial da UNESCO desde 1990.
Foto: picture-alliance/dpa
Residência de Würzburg
A Residência de Würzburg compreende 365 quartos. Seu arquiteto, Baltasar Neumann, é especialmente admirado pela magnífica escadaria de entrada. Ela é adornada pelo maior afresco de teto do mundo, pintado pelo veneziano Giovanni Battista Tiepolo entre 1752 e 1753. Desde 1981, a residência é Patrimônio Mundial da Unesco.
Foto: Fotolia
Augustusburg
O palácio Augustusburg de Brühl, erguido no século 18, é considerado uma obra-prima do rococó. Residência do príncipe eleitor e do arcebispo de Colônia, serviu de modelo para várias outras construções do gênero. A partir de 1949, foi casa de hóspedes do governo alemão durante décadas. Ele é Patrimônio Mundial da Unesco desde 1984, juntamente com o vizinho palácio Falkenlust e os jardins de Brühl.
Foto: CC-BY-SA/Hans Weingartz
Castelo de Schwerin
Este castelo-palácio está localizado numa pequena ilha no Lago Schwerin, no centro da homônima capital de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental. Mil anos atrás já havia lá um castelo eslavo, os grão-duques de Mecklemburgo deram-lhe a forma atual em meados do século 19. Hoje o Palácio de Schwerin é a sede do parlamento estadual.
Foto: fotolia/LianeM
Marienburg
Em 1857 a rainha Maria de Hannover completou 39 anos. Como presente de aniversário, o rei George 5º lhe deu o monte Schulenburger e uma residência a ser construída em seu topo. Concluído dez anos mais tarde, o palácio Marienburg é hoje propriedade privada da Casa de Welf. Nele vive o príncipe-herdeiro Ernst August von Hannover.
Foto: picture-alliance/nordphoto
Moyland
O Palácio Moyland (em holandês: "moiland", "terra bonita") fica perto de Kleve, na Renânia do Norte-Vestfália. No século 17 foi convertido de castelo medieval em palácio barroco e, em meados do século 19, recebeu sua aparência atual, no estilo neogótico. Ele abriga hoje uma coleção de arte moderna, com numerosas obras do alemão Joseph Beuys.