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Catástrofe no RS: mais de 1,4 milhão de pessoas afetadas

Publicado 7 de maio de 2024Última atualização 7 de maio de 2024

Enchentes devido ao grande volume deixaram rastro de destruição sem precedentes no Rio Grande do Sul; não há previsão de quando as águas vão recuar para níveis seguros. Número de mortos chega a 90.

Brasilien | Hochwasser
Foto: Amanda Perobelli/REUTERS

Os temporais que atingiram o Rio Grande do Sul desde o fim de abril deixaram cidades inteiras ilhadas e pessoas isoladas, aguardando resgate por helicópteros, barcos, jetskis e caminhões do Exército, algumas de cima de telhados ou na beira de estradas. Ao todo, 397 dos 497 foram atingidos, afetando diretamente mais de 1,4 milhão de pessoas.

O número de mortos decorrentes dos alagamentos subiu para 90, em ao menos 38 municípios, segundo dados da Defesa Civil. Outros quatro óbitos estão em investigação para confirmar se tiveram relação com as enchentes. Há 131 pessoas desaparecidas e 362 feridas.

O governo do estado fez um alerta nesta segunda (06/05) para o risco de novas enchentes, sobretudo em municípios localizados ao redor da Lagoa dos Patos, no sul. Estima-se que a água represada na região de Porto Alegre deve descer para a lagoa nos próximos dias.

Além disso, a previsão meteorológica era de que os volumes de chuvas na terça excedessem os 100 milímetros em 24 horas, podendo superar os 150 mm até o início da quarta-feira. No entorno da região de Pelotas, Rio Grande, em direção à Campanha e oeste do estado, até a área de Alegrete e São Borja, também estavam previstos temporais, ventos com rajadas acima dos 70 km/h e queda de granizo.

Voluntários e membros de equipes de resgate relatam o drama de procurar sobreviventes em meio a uma tragédia sem trégua prevista.

"É um cenário muito triste, porque à noite é um breu. Eles [membros da equipe de resgate] escutam pessoas pedindo socorro, daí a pouco não ouvem mais, não sabem se a pessoa cansou, se a pessoa morreu", relata Andressa Batista, que teve a casa submersa em Porto Alegre e agora trabalha como voluntária.

"Saí só com o básico, levei meu cachorro, meu gato, vim para cá e o resto estava tudo lá. E agora a água está no teto. Aí perdi os livros da universidade, perdi toda a minha história, debaixo d'água. Vim aqui para ajudar na logística e tentar encontrar voluntários para me ajudar na logística" disse à DW.

Até segunda-feira, o trabalho integrado de militares e civis contava com 3.406 militares da Marinha, Exército e Aeronáutica. Estão sendo empregados 15 helicópteros, um avião de carga, 243 embarcações e 2,5 mil viaturas e equipamentos de engenharia (civis e militares). O Ministério da Defesa estima que as operações de resgate tenham salvo 46 mil vidas.

Foto: Diego Vara/REUTERS

A tragédia climática deixou pelo menos 336 municípios em estado de emergência, o equivalente a 67% das cidades gaúchas. O governo estadual classifica a situação como a maior catástrofe climática já vivida na região.

Entre as cidades em situação de calamidade, está a capital, Porto Alegre, e outras localidades populosas como Canoas e Caxias do Sul. Mais de 156 mil pessoas estão desalojadas no estado, e mais de 48 mil estão em abrigos. 

A situação dos desalojados e desabrigados no RS pode ficar mais crítica a partir de quinta-feira. De acordo com o  Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), as temperaturas mínimas em Porto Alegre podem ficar em torno dos 12°C.

Municípios estão com fornecimento prejudicado de água tratada, energia elétrica, sinal de telefone e internet. De acordo com boletim da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), divulgado às 17h de segunda-feira (6), 750 mil imóveis estão desabastecidos em 51 municípios de sua área de atendimento. Estima-se que 85% das pessoas em Porto Alegre esteja sem água potável.

Região metropolitana

A região metropolitana de Porto Alegre é a mais atingida pela falta de água potável, com 490 mil imóveis desabastecidos, em sete cidades. Alvorada, Canoas, Cachoeirinha, Esteio e Sapucaia do Sul estão totalmente sem fornecimento.

Em Porto Alegre, os sistemas de bombeamento de água estão em colapso, ou por inundação ou por falta de energia para prevenção de acidentes. Das 23 casas de bombas da capital, apenas quatro estão funcionando. As ruas estão alagadas e vários bairros, como Menino Deus e Cidade Baixa, estão sendo esvaziados.

O Aeroporto Salgado Filho não voltará a funcionar até pelo menos 30 de maio, conforme informou a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear).

Eldorado do Sul, a 12 quilômetros de Porto Alegre, está 95% submersa e isolada pelas águas do Guaíba e do rio Jacuí. Parte dos moradores ficou na estrada que dá acesso à cidade à espera de resgate, sem ter para onde ir nem para onde voltar. Resgates acontecem por meio de helicópteros e caminhões do Exército. 

Canoas, na região metropolitana de Porto Algre, é uma das cidades mais afetadasFoto: Amanda Perobelli/REUTERS

Estradas foram danificadas em todo o estado – rodovias federais apresentam 61 pontos com bloqueios totais ou parciais, conforme balanço de domingo. As estradas estaduais têm 102 interdições totais ou parciais.

Os municípios também estão com dificuldade de acesso a telefonia e dados móveis. De acordo com as operadoras, 46 cidades estão sem serviços da TIM, 45 sem os serviços da Vivo e 24 municípios não conseguem acesso pela Claro.

A recomendação para quem ainda está em áreas de risco é de não ficar no térreo das casas. A maior parte dos resgatados estão sendo levados a Porto Alegre e Canoas.

Lenta redução da água

O nível do Guaíba em Porto Alegre estava em 5,28 metros às 11h desta terça-feira (07/05), segundo o monitoramento em tempo real da Agência Nacional de Águas (ANA). Desde a semana passada, o Guaíba ultrapassou o pico da maior cheia registrada até então, o nível de 4,76 metros, em 1941, quando inundou parte do centro da capital gaúcha.

O limite para inundações do Guaíba é de 3 metros, uma referência que indica possíveis danos aos municípios.

De acordo com o Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IPH/UFRGS), a previsão é de lenta redução dos níveis da água, que devem ficar acima dos 3 metros ao longo da semana.

A água de alagamento oferece ainda o risco de doenças, como leptospirose e hepatite A, pois ela se junta ao esgoto.

sf/le