Cautela com o ETA
23 de março de 2006Após o grupo separatista basco ETA ter anunciado um cessar-fogo permanente, o clima de desconfiança continua na imprensa alemã. O anúncio foi uma "boa notícia", mas os analistas políticos ainda não acreditam que o grupo realmente abandone os seus ideais terroristas. Não foi a primeira vez que o grupo anunciou se distanciar das armas.
O jornal General Anzeiger de Bonn comentou que esta não foi a primeira trégua 'tática' do ETA para "ganhar novas forças e voltar fortalecido à luta armada". Por duas outras vezes, em 1989 e 1998, a organização tentou se aproximar da mesa de negociações sem sucesso. Após a trégua de 1998, o ETA matou 23 pessoas, em um único ano, com os seus atentados.
Apesar de querer evitar o conflito armado, o ETA insiste na "independência do País Basco" na região da fronteira entre a Espanha e a França. Para os analistas do jornal de Bonn, primeiramente é necessário que "o ETA retire a sua exigência máxima do caminho para que se consiga uma solução política para o conflito e se possa dar uma chance à paz", pois o governo espanhol não "quer e não pode concordar com as exigências do grupo".
O Frankfurter Neue Presse considera que o ETA teria agido mais coerentemente se tivesse declarado um fim do uso da violência incondicional. Os integrantes do ETA "acabam ameaçando novamente com o terror, caso o caminho democrático não possa ser seguido".
O Süddeutsche Zeitung destacou em seu comentário que "nunca se esteve tão próximo do fim da tragédia basca, embora a calma definitiva exija um grande fôlego, como na Irlanda do Norte". O jornal ressaltou também o perigo do grupo: "As negociações com o ETA escondem materiais políticos inflamáveis que são tão inofensivos quanto um carro-bomba".
Segundo o jornal Kölner Stadt-Anzeiger, o cessar-fogo anuncia novos tempos. Os dirigentes do ETA "tiveram de perceber que com a sua estratégia de violência eles não vão conseguir muita coisa". O jornal destacou o importante papel do governo espanhol no processo de mudança de postura do grupo.
Na Espanha, muita esperança
O primeiro-ministro espanhol, José Luiz Rodriguez Zapatero, espera que, após "um longo e difícil processo", a "esperança reúna novamente os espanhóis, e não o medo".
O ministro do Interior, José Alonso Suarez, falou em "uma boa notícia para a democracia". Já o líder da oposição, Mariano Rajoy, do Partido Popular (PP) denominou o cessar-fogo como "uma mera pausa" e não acredita que seja realmente o fim dos ataques violentos do grupo.
"Zapatero terá a chance histórica de selar o fim do ETA", declarou Javier Ortiz , observador político na região do País Basco. Ortiz acredita que, "de maneira geral, os bascos e os integrantes do ETA chegaram à conclusão de que eles podem alcançar mais por meios políticos pacíficos do que explodindo bombas".
Fechando o cerco contra o ETA
Nos últimos anos, mais de 200 integrantes do grupo foram presos, entre eles alguns líderes. José Luis Zubizarreta, ex-membro do governo regional basco, aponta "um enfraquecimento do ETA através de inúmeras ações policiais". Ortiz, porém, contradiz esta afirmação, dizendo que "o ETA ainda possui uma grande quantidade de dinheiro à sua disposição. Além disso, ainda tem acesso ao mercado internacional de armas e conta com mais de 50 integrantes ativos no comando".
Arnaldo Otegi, líder do partido Batasuna, ainda continua foragido. Ele está sendo procurado por incitação ao terrorismo.
Espanha dividida
A Conferência dos Bispos Espanhóis ficou satisfeita com a notícia, mas declarou que o ideal seria a dissolução do ETA.
Os empresários da região autônoma do País Basco anunciaram em uma nota à imprensa que o cessar-fogo é bem-vindo. Contudo, eles estão decepcionados porque o ETA não mencionou o fim das extorsões financeiras no seu comunicado oficial.
A Associação das Vítimas do Terrorismo, fundada por familiares de mortos em atentados organizados pelo ETA, pediu "muita cautela" ao governo espanhol.