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Cem anos depois, o que restou da Bauhaus?

Gaby Reucher ca
5 de abril de 2019

Edifícios em Weimar e Dessau são monumentos, mas não são relíquias de uma época passada. Neles, hoje ainda perduram o ensino e a pesquisa no espírito de seus pioneiros, mas com novas ideias.

Prédio da Bauhaus em Weimar
Prédio da Bauhaus em Weimar é ícone do modernismoFoto: picture alliance/imagebroker

Na Weimar dos anos 1920, quando as crianças não obedeciam, dizia-se: "Se você não se comportar vai para a Bauhaus". Lá, na escola de artes e ofícios fundada em 1919, viviam os "loucos", que dançavam ruidosamente pelas ruas em coloridos trajes de teatro e pintavam quadros com triângulos, círculos e quadrados.

Hoje, estudantes de todo o mundo vão estudar na instituição que a sucedeu, a Universidade Bauhaus, em Weimar. Com cerca de 4.080 estudantes de 70 países, ela é uma das universidades mais internacionais da Alemanha. Desde 1996, os prédios da Bauhaus em Weimar e Dessau são Patrimônio Mundial da Humanidade e atraem tanto turistas quanto estudantes.

Oficinas de pintura, marcenaria, tecelagem ou metalurgia não existem mais nos prédios históricos e nos novos edifícios da Universidade Bauhaus. O diretor fundador, o arquiteto Walter Gropius, queria que artistas e artesãos trabalhassem juntos e aprendessem uns com os outros. Hoje, a universidade oferece faculdades de Arquitetura e Urbanismo, Arte e Design, Engenharia Civil e Mídia.

O conceito de que os alunos possam aprender em várias faculdades, através de módulos e projetos específicos, continua viva, principalmente no ano do centésimo aniversário, diz Nathalie Singer, professora de rádio experimental e vice-presidente da Universidade Bauhaus.

"No meu grupo existe, por exemplo, um passeio guiado com áudio em que pessoas da área de áudio e mídia trabalham com outras da preservação do patrimônio arquitetônico. Estas geram o conteúdo sobre os cem anos da Bauhaus, que é então implementado pelo pessoal de mídia num audiowalk", explica Singer.

Universidade Bauhaus ocupa antiga sede da Bauhaus em WeimarFoto: Bauhaus-Universität Weimar, Foto: Nathalie Mohadjer

No início dos anos 20, a Bauhaus trabalhou ao lado da indústria na elaboração de produtos de design. Estudantes e professores projetaram objetos de formas simples e fácil manuseio. Gropius queria que arte e tecnologia formassem uma nova unidade.

Hoje a Universidade Bauhaus não desenvolve mais objetos para a indústria, mas investiga o que as novas tecnologias significam para a sociedade. Para o aniversário de centenário, a universidade em Weimar lançou um Semestre da Bauhaus a partir de outubro de 2018.

"Numa série de palestras e colóquios, por exemplo, analisamos quais ideias daqueles dias podem ser transferidas para a era digital ou para questões atuais sobre a relação entre ser humano, natureza e tecnologia", explica Singer. "Por exemplo, nos deparamos com a grande questão do que a digitalização está fazendo com o design, mas também com a sociedade e seu comportamento social."

A sustentabilidade desempenha um papel importante entre engenheiros civis e arquitetos. Após a Primeira Guerra Mundial, para a Bauhaus, o mais importante era construir de forma prática e de baixo preço, a fim de facilitar a mobilidade e o trabalho das pessoas.

Naquela época, não se falava em sustentabilidade e eficiência energética. "Estes são temas que têm maior importância hoje", comenta Singer. "Através dos pesquisadores, os resultados chegam à sociedade. Já registramos patentes que foram então implementadas."

Em 1925, devido à tensa situação política, os "loucos" da Bauhaus tiveram que se mudar de Weimar para Dessau, onde Gropius projetou para a famosa escola um edifício que impressiona com sua fachada contínua de vidro. Esse patrimônio mundial é hoje um ícone do modernismo.

A estudante turca Eci Isbilen, que faz doutorado em arquitetura, veio especialmente da Universidade Politécnica da Virgínia, nos EUA, para participar de um workshop (Bauhaus Lab) na Academia Bauhaus em Dessau.

Segundo Isbilen, o edifício da Bauhaus em Dessau é hoje um destino popular para os peregrinos da arquitetura, mesmo que o prédio não atenda mais às normas construtivas atuais. "É preciso vivenciar este lugar por mais tempo, então se começa a conhecer as suas qualidades", explica a doutoranda. "Os janelões combinam com o local. Você pode abri-los em ambos os lados. É gostoso trabalhar quando lá fora faz calor. Portanto, o edifício é eficiente em outro sentido."

A Academia, que faz parte da Fundação Bauhaus Dessau, não só oferece workshops, mas também programas de pós-graduação de um ano em cooperação com a Universidade de Ciências Aplicadas de Anhalt e a Universidade Humboldt, de Berlim. Já nos tempos da antiga Alemanha Oriental, a Bauhaus em Dessau havia sido reaberta como uma mescla de instituição cultural e de pesquisa. Criada em 1994, a fundação dá prosseguimento a essa abordagem.

Durante muito tempo, a Bauhaus de Dessau ofereceu oficinas, envolveu-se em projetos sociais, como também em projetos urbanísticos até os anos 2000 na região. Recentemente, esse foco mudou para o trabalho de curadoria local, diz Regina Bittner, diretora da Academia.

"Com os prédios da Bauhaus e o novo museu, que será inaugurado no ano de aniversário, tentamos a partir do legado da Bauhaus criar ligações com o presente e incorporar objetos de nossa própria coleção à ciência do design", explica Bittner.

Para isso pega-se um item específico, que tenha um histórico de mudanças, como a mesa de escritório ou a cadeira projetada por um designer da Bauhaus. Esses objetos são então examinados no contexto de desenvolvimentos paralelos.

"No ano de aniversário, queremos lançar um olhar diferente sobre a Bauhaus na atual globalização. Não se trata mais de avaliar a história da Bauhaus e suas influências sobre o mundo", diz Bittner. Hoje, a Bauhaus é explorada antes no contexto de uma modernidade cultural em que há um intercâmbio frutífero entre as regiões do mundo.

Bittner conta que se lembra de uma estudante colombiana que estudou os tecidos desenhados por Anni Albers, artista têxtil da Bauhaus. "Ela aliou isso à questão de que até que ponto o novo interesse pela tradição artesanal dos Andes entre os jovens designers colombianos está ligado ao diálogo que Anni Albers desenvolveu nos anos 1940 e 1950. Ou seja, o que se pode aprender das tradições artesanais andinas no cotidiano de hoje?"

Eci Isbilen especializou-se em sistemas construtivos padronizados e produção em massa. Ela escreveu sua tese de doutorado sobre o arquiteto Konrad Ludwig Wachsmann, que ao lado de Gropius impulsionou a industrialização da construção nas décadas de 1940 e 1950 nos EUA.

Wachsmann desenvolveu um sistema construtivo universal com componentes pré-fabricados industrialmente. Sua obra foi tema dos Bauhaus Labs 2018 em Dessau. "Vale a pena estar aqui neste entorno, pois não se pode considerar Wachsmann apenas como um fenômeno americano", diz Isbilen. "É uma das histórias que começaram aqui, cruzaram o Atlântico e depois voltaram para cá. Trocar de lugar ajuda a mudar de perspectiva."

Para Bittner, o fato de ideias e produtos da Bauhaus estarem em alta não se deve apenas ao centenário, mas também à percepção de que, num mundo globalizado, é necessário lidar de forma diferente com os recursos naturais e não se pode mais produzir e consumir como se fez até agora.

"Tal experiência de crise já houve na década de 1920. Naquela época, a Bauhaus foi à procura de soluções sobre como viver num cotidiano modificado pela industrialização, humanizando-o", explica Bittner.

O otimismo com que os pioneiros da Bauhaus tentaram humanizar o seu cotidiano é um exemplo até hoje. É por isso, diz Bittner, que atualmente se observa a Bauhaus com um novo frescor no olhar.

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