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Golo Mann

27 de março de 2009

Um dos filhos mais conhecidos de Thomas Mann, o historiador e escritor Golo Mann é homenageado por ocasião de seu centenário. Museu Gay de Berlim dedica ao autor uma mostra especial.

O escritor em 1986Foto: dpa

Quando Golo Mann nasceu em Munique, no dia 27 de março de 1909, seu pai já era um escritor conhecido, graças ao sucesso de Os Buddenbrooks. Mesmo após ter se tornado uma figura pública na Alemanha do pós-guerra e recebido respeitáveis prêmios no país, o escritor, terceiro dos seis filhos de Thomas Mann, acabou vivendo à sombra do pai.

Um contexto não isento de transtornos, que vem à tona no desejo explícito de Golo de não ser enterrado no jazigo da família, embora tenha querido, sim, ser enterrado no mesmo cemitério. Além de viver à sombra do pai, Golo viveu, segundo suas próprias declarações, na rebarba do sucesso precoce de seus dois irmãos Klaus e Erika.

Homossexualismo não assumido

Família Mann em 1927: Golo é o terceiro da esquerda para a direitaFoto: Monacensia, Literaturarchiv und Bibliothek, München

Descrito pela família como "nem tão brilhante" quanto os outros, Golo era visto como melancólico e excêntrico. Seus primeiros anos na escola foram difíceis. Em 1923, foi transferido para um internato na região de fronteira entre a Alemanha e Suíça.

Três anos depois, o diretor do internato o enviaria a Zurique, para ser tratado por um especialista em "enfermidades dos nervos e dos ânimos", que por sua vez "diagnosticou" em Golo "uma neurose sexual acentuada" e um "homossexualismo sado-masoquista", ressaltando, porém, que o jovem "não colocava, de forma alguma, seus colegas em perigo". Estes foram alguns dos primeiros indícios do homossexualismo de Golo, não assumido publicamente até sua morte.

Emigração e tempos felizes

Após concluir em 1932 sua tese de doutorado sobre Friedrich Hegel, sob orientação do filósofo Karl Jaspers, Golo deixou a Alemanha, bem como toda sua família, após a tomada do poder pelos nazistas em 1933. Depois de ter permanecido por algum tempo na França, onde, entre outros, escreveu para a publicação Die Sammlung (A Coleção), Golo seguiu em 1939 para os EUA.

De volta à Europa, mais exatamente a Zurique, a fim de assumir a redação de outra publicação – Mass und Wert (Medida e Valor) – acabou tendo que fugir em 1940 com seu tio Heinrich Mann pelo sul da França, tendo cruzado os Pirineus rumo à Espanha, para seguir dali até Portugal e de Lisboa pegar um navio para Nova York.

Após o fim da guerra, Golo permaneceu por vários anos nos EUA – "os tempos mais felizes de minha vida", ele diria – até se decidir pelo regresso à Europa, bem depois de seus pais.

Sua despedida da Califórnia, onde trabalhou como professor de história, se deu somente em 1958, quando seu nome já era conhecido do grande público alemão através de livros como Vom Geist Amerikas (Do espírito americano) ou do sucesso de público Deutsche Geschichte des 19. und 20. Jahrhunderts (História alemã dos séculos 19 e 20).

O "não" de Adorno e Horkheimer

Klaus Mann, o irmão que acabou se suicidandoFoto: dpa

O mundo acadêmico alemão, no entanto, nuca levou Golo Mann realmente a sério como historiador. Após um difícil debate a respeito da possibilidade de que ele ocupasse uma cadeira de professor na Universidade de Frankfurt, a decisão foi a de não convidá-lo: uma resolução apoiada pelos respeitáveis Max Horkheimer e Theodor W. Adorno. Mais tarde, Golo chamaria os dois de "escória", o que desencadeou uma polêmica no país.

Longe das universidades, Golo foi se tornando uma figura cada vez mais popular na Alemanha do pós-guerra. Muito antes dos gestos de aproximação entre as duas Alemanhas, ele já defendia abertamente uma política mais suave em relação ao Leste Europeu. Em 1971, publicou Wallenstein, uma biografia que se tornaria um sucesso de público, além de ter sido bem recebida pela crítica.

Guinada para a direita

Do ponto de vista político, Golo foi se deslocando cada vez mais rumo à direita. Em 1980, apoiou a escolha do conservador Franz-Josef Strauss, da União Democrata Cristã (CSU), para o governo federal. Nos anos 80, defendeu a libertação de Rudolf Hess, braço direito de Hitler, de uma prisão berlinense.

Sofrendo de demência e enfraquecido pela idade avançada, Golo Mann morreu na cidade de Leverkusen, no oeste alemão, em 1994.

Lendo nas entrelinhas

Thomas Mann em Los Angeles, 1942Foto: AP

Uma das homenagens feitas ao historiador por ocasião do centenário de seu nascimento é prestada pelo Museu Gay de Berlim, que dedica a Golo Mann uma mostra especial, composta de documentos, fotos de família, livros e principalmente textos extraídos de diários dele próprio e de seu pai (os diários de Golo não foram até hoje publicados). Até junho próximo, deverá ser lançada no país uma biografia do autor.

"Golo Mann foi considerado até agora um homem que não praticava sua homossexualidade", consta do texto da exposição. Nas suas obras, porém, "é preciso ler as entrelinhas", diz o curador da mostra, Wolfgang Thies, que descreve Golo como "um dos mais interessantes membros da família Mann". Um escritor que, apesar de toda a melancolia, foi possivelmente "o mais feliz" entre os membros do complexo clã dos Mann.

SV/AV/dpa/epd

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