Centenas de crianças venezuelanas sozinhas no Brasil
5 de dezembro de 2019
Human Rights Watch afirma que muitos dos menores que cruzam a fronteira desacompanhados acabam nas ruas expostos à violência. Grupo acusa autoridades brasileiras de falharem na proteção dessas crianças.
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Centenas de crianças venezuelanas têm fugido para o Brasil sozinhas, correndo o risco de se tornarem vítimas de violência ou de serem recrutadas pelo crime organizado, alertou nesta quinta-feira (05/12) a ONG Human Rights Watch (HRW). Segundo a organização, as autoridades brasileiras estão falhando na proteção dessas crianças.
"A emergência humanitária está levando crianças e adolescentes a partirem sozinhos da Venezuela", frisou, em comunicado, o pesquisador da HRW no Brasil César Muñoz. Muitos deles fogem da fome, buscam tratamento para algum problema de saúde grave ou estão atrás de emprego.
Segundo a entidade de direitos humanos, citando dados da Defensoria Pública da União, 529 crianças e adolescentes venezuelanos atravessaram a fronteira em Roraima desde maio. A HRW disse que quase 90% delas têm entre 13 e 17 anos e viajaram sozinhas ou com um adulto que não é seu parente ou responsável legal.
"O número total é provavelmente maior, pois algumas crianças e adolescentes podem não passar pelo posto de fronteira onde os defensores públicos da União conduzem as entrevistas", disse a ONG.
A Human Rights Watch denunciou ainda que "não existe um sistema para monitorizar e ajudar as crianças e adolescentes desacompanhados após a entrevista de entrada" no Brasil.
Muñoz ressaltou que, embora haja um esforço para acolher os venezuelanos, as autoridades não estão dando a proteção de que essas crianças precisam, e muita delas acabam nas ruas, "onde ficam particularmente vulneráveis a abusos ou ao recrutamento por facções criminosas".
Em outubro, um venezuelano de 16 anos foi encontrado morto com um saco de lixo na cabeça em Boa Vista.
Estima-se que 4,6 milhões de venezuelanos fugiram do país que enfrenta uma grave crise econômica e política. Se a situação na Venezuela não mudar, a ONU acredita que esse número pode chegar a 6,5 milhões no final de 2020, tornando-se uma das maiores migrações em massa do mundo atual.
Mais de 224 mil venezuelanos fugiram para o Brasil, onde muitos permanecem em Roraima devido ao isolamento da região em relação ao resto do país.
Entre 400 e 600 imigrantes chegam diariamente a Pacaraima, na fronteira da Venezuela com o Brasil. Sobrecarregada, pequena cidade é palco de xenofobia. Quem pode pagar segue logo viagem para Boa Vista.
Foto: DW/Y. Boechat
Chegada ao centro de acolhimento
Venezuelanos recém-chegados ao Brasil recebem café e biscoitos no centro de acolhimento de refugiados na fronteira com a Venezuela, em estrutura montada pelo governo federal na cidade de Pacaraima. Diariamente, entre 400 e 600 venezuelanos chegam a este posto para pedir refúgio ou residência no Brasil. Aqui são vacinados e examinados, antes de poderem seguir para Boa Vista.
Foto: DW/Y. Boechat
Vacinação necessária
Isabeli Ortega, de apenas um ano, aguarda para ser vacinada no posto de acolhimento do governo federal na fronteira entre o Brasil e a Venezuela. Muitos dos imigrantes venezuelanos que chegam ao Brasil não foram imunizados contra doenças que estavam praticamente erradicadas da região, como o sarampo.
Foto: DW/Y. Boechat
Convivência difícil em Pacaraima
Brasileiros e venezuelanos discutem na área central da pequena Pacaraima. Sem estrutura para abrigar tantos imigrantes, a cidade entrou em colapso, e moradores passaram a atacar imigrantes. Desde o dia 18 de agosto, quando 1,2 mil venezuelanos foram expulsos da cidade por brasileiros armados com paus e pedras, o clima em Pacaraima é de tensão.
Foto: DW/Y. Boechat
Próximo passo
Imigrantes venezuelanos em Pacaraima se preparam para embarcar em ônibus que os levarão a Boa Vista. Ao preço de R$ 20, a viagem de mais de 200 km ainda é um luxo para boa parte dos imigrantes que chegam ao Brasil. Muitos não têm dinheiro para bancar o trajeto e, como não há a opção de transporte gratuito, ficam na pequena cidade fronteiriça tentando conseguir recursos para viajar.
Foto: DW/Y. Boechat
Destino: Boa Vista
Imigrantes venezuelanos aguardam a chance de ir para Boa Vista em um dos pontos de táxi da cidade. A corrida até a capital custa, em média, R$ 50 por pessoa. Os venezuelanos que cruzam a fronteira com algum recurso financeiro costumam optar pela viagem de táxi. O êxodo em direção ao Brasil aqueceu o mercado de transporte local.
Foto: DW/Y. Boechat
Abrigos sobrecarregados
Roupas secam ao sol no abrigo Rondon 1, em Boa Vista. Pouco mais de 4 mil imigrantes venezuelanos vivem em refúgios como este na capital de Roraima. Construídos pelo governo federal com o apoio da ONU, os abrigos são insuficientes para a grande quantidade de imigrantes que chegam à cidade.
Foto: DW/Y. Boechat
Interiorização aos poucos
Esta família venezuelana aguarda a chance de deixar Roraima e seguir em direção a outros estados brasileiros. Em seis meses, o programa de interiorização do governo federal conseguiu transferir apenas mil dos 30 mil venezuelanos que estão instalados em Roraima. Até o fim do ano, promete o Planalto, outros 2,3 mil venezuelanos seguirão para diferentes estados do país.