Cerca de 245 mil sobreviventes do Holocausto seguem vivos
23 de janeiro de 2024
Quase 80 anos após o fim da Segunda Guerra, sobreviventes das atrocidades nazistas ainda vivem em 90 países pelo mundo, afirma estudo, o mais amplo até agora. Quase metade está em Israel, e cerca de 300 no Brasil.
Anúncio
Quase 80 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, cerca de 245 mil sobreviventes do Holocausto ainda seguem vivos em mais de 90 países, segundo revelou um estudo nesta terça-feira (23/01).
Cerca de metade deles (49%) vive em Israel, o que representa 119.300 pessoas, segundo a organização Claims Conference, que assina o relatório. Outros 18% vivem em países da Europa Ocidental, como França (21.900 sobreviventes) e Alemanha (14.200), e 16% moram nos Estados Unidos (38.400 pessoas). Na América do Sul e Caribe vivem cerca de 700 sobreviventes, sendo 300 deles no Brasil e 200 na Argentina.
Antes da publicação do estudo, que usou "uma base de dados mundial sem precedentes", havia apenas estimativas vagas sobre quantos sobreviventes do massacre de judeus e outras minorias, perpetrado pelo regime nazista, ainda estariam vivos.
O número, porém, diminui rapidamente, uma vez que a maioria dos sobreviventes são idosos, com idade média de 86 anos. Dos 245 mil, 20% têm mais de 90 anos. Em relação a gênero, há mais mulheres (61%) do que homens (39%) ainda vivos.
A grande maioria (96%), são "crianças sobreviventes" que nasceram depois de 1928, afirma o relatório.
"Quase toda a atual população de sobreviventes era criança na altura da perseguição nazista, tendo sobrevivido a campos, guetos, fugas e vidas na clandestinidade", diz o texto.
Ela sobreviveu ao Holocausto graças à música
04:04
Genocídio
Seis milhões de judeus e pessoas de outras minorias foram assassinadas pelo regime nazista durante o Holocausto. Não se sabe exatamente quantos judeus sobreviveram aos campos de concentração, aos guetos e escondidos ao redor da Europa ocupada pelos nazistas. Mas, ao fim da guerra, o tamanho da população judaica foi drasticamente reduzido.
Anúncio
Na Polônia, dos 3,3 milhões de judeus que viviam no país em 1939, apenas cerca de 300 mil sobreviveram. Já na Alemanha, viviam 560 mil judeus em 1933, ano em que o ditador Adolf Hitler tomou o poder. Quando a Segunda Guerra acabou, eram apenas 15 mil.
A comunidade judaica alemã voltou a crescer depois de 1990, quando mais de 215 mil imigrantes judeus e suas famílias vieram de países da antiga União Soviética, alguns deles também sobreviventes.
Atualmente, apenas 14.200 sobreviventes (5,8% do total) vivem na Alemanha. Apesar de menor do que em outros países, esse número é um "sinal da estabilidade da democracia alemã, que devemos defender e preservar", disse Rüdiger Mahlo, representante alemão da Claims Conference.
Como jovens alemães se sentem ao visitar Auschwitz?
02:54
This browser does not support the video element.
Indenização para sobreviventes
A organização com sede em Nova York foi fundada em 1951 para buscar indenização por danos aos sobreviventes do Holocausto. Ela foi signatária do chamado Tratado do Luxemburgo, sob o qual a Alemanha Ocidental assumiu a responsabilidade pelas atrocidades nazistas e pagou reparações.
A assinatura do acordo pelo país foi vista como seu primeiro grande passo de volta à comunidade das nações após a Segunda Guerra. Desde então, a Alemanha pagou mais de 90 bilhões de dólares como resultado das negociações com a Claims Conference, de acordo com o grupo.
Alguns sobreviventes – como os que foram presos em campos de concentração – continuam qualificados para pagamentos contínuos, enquanto outros – incluindo os que fugiram do regime nazista – receberam pagamentos únicos.
ek/le (DPA, AP, AFP)
Dez filmes sobre o Holocausto
A "cinematografia do Holocausto" é composta de uma vasta lista de filmes. Embora transpor o indescritível para imagens em movimento seja uma tarefa altamente complexa, são diversas as tentativas.
Foto: absolut Medien GmbH
Noite e neblina
Filme de 1955 que estreou no Festival de Cannes, "Noite e neblina", dirigido pelo francês Alain Resnais, foi um dos primeiros documentários a se debruçar sobre o Holocausto. Renais e Chris Marker, na época seu assistente, estavam entre os primeiros cineastas a terem um acesso mais amplo aos arquivos do Holocausto em França, Bélgica, Holanda, Polônia e Alemanha.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library/Ronald Grant Archive
Minha luta
Coprodução sueco-alemã de 1960, tem direção de Erwin Leiser (1923-1996), que emigrou aos 15 anos de idade, depois do Pogrom de 1938, para a Suécia, onde se tornaria mais tarde um cronista em imagens das atrocidades do regime nazista. No longa-metragem, o diretor reúne material de arquivo da época, como faria em outros filmes posteriores, em um minucioso trabalho de memória daquele período.
Foto: picture-alliance
Shoah
Obra mais importante sobre a memória do Holocausto, o filme de Claude Lanzmann, de 1985, com 9 horas e meia de duração, foi feito no decorrer de 11 anos. O diretor recusa-se a usar imagens de campos de concentração como fazem os documentários convencionais. O registro do horror acontece através do testemunho de sobreviventes – sejam eles vítimas, algozes ou meros espectadores das atrocidades.
Foto: absolut Medien GmbH
A lista de Schindler
Steven Spielberg contou neste filme de 1993 a história de um empresário que, embora conivente com o regime nazista, acabou salvando a vida de mais de mil judeus. A superprodução americana ganhou sete Oscars, incluindo os de melhor filme e direção, embora tenha sido apontada por parte da crítica como um melodrama que prima por transformar a dor em espetáculo.
Foto: picture alliance / United Archives/IFTN
Exílio em Xangai
O longa-metragem de 1997, de Ulrike Ottinger, é um filme sobre o Holocausto no sentido de documento da fuga e da migração dos judeus para Xangai durante o regime nazista. Com 4 horas e meia de duração, o documentário tem como ponto de partida as lembranças de seis judeus alemães, austríacos e russos, que fugiram para Xangai, um dos únicos lugares com fronteiras abertas até 1943.
Do Leste
Coprodução franco-belga de 1993, o documentário de Chantal Akerman é uma viagem realizada pela diretora passando pelo Leste alemão, Polônia, países bálticos e Rússia. O filme documenta não apenas o deslocamento geográfico da cineasta, mas sobretudo sua busca de um Leste que, embora lhe seja estranho, é a terra de origem de sua mãe judia, nascida na Polônia e sobrevivente de Auschwitz.
Balagan
Uma trupe tenta, na israelense Akko, tratar do Holocausto em um coletivo de teatro que envolve também um palestino. A partir daí, o diretor Andres Veiel busca, neste filme de 1994, descobrir as feridas abertas existentes quando se fala do assunto. O documentário não é um filme sobre sobreviventes, mas sim sobre seus filhos e sobre como eles conseguem lidar com essa herança histórico-familiar.
A vida é bela
Tragicomédia encenada pelo italiano Roberto Benigni em 1999, o filme recebeu o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes e atraiu um imenso público em muitos países. Por ser uma das raras tentativas de abordar o tema dos campos de concentração com humor, teve recepção ambivalente por parte de alguns sobreviventes do Holocausto, que viram aí um perigo de banalização das atrocidades nazistas.
Foto: picture-alliance/dpa
O Pianista
Vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes em 2002, o filme de Roman Polanski tem roteiro baseado nas memórias de Wladyslaw Szpilman, músico polonês que testemunha como Varsóvia é tomada pelos alemães na Segunda Guerra Mundial e cuja família é assassinada no campo de concentração de Treblinka. O próprio Polanski sobreviveu ao Gueto de Cracóvia e perdeu a mãe assassinada em Auschwitz.
Foto: imago stock&people
O filho de Saul
Filme de 2015 do húngaro László Nemes (ex-assistente de Béla Tarr), tem como protagonista um integrante do Sonderkommando (grupo de prisioneiros judeus encarregados de limpar câmaras de gás e remover cadáveres), cuja ideia fixa é enterrar um garoto. Filme claustrofóbico, cujo uso do primeiro plano, os closes exacerbados e a câmera em constante movimento, tira o espectador de sua zona de conforto.