Certificadora alemã vê novo perigo em barragens da Vale
30 de março de 2019
TÜV Süd, especializada em inspeções e certificação de produtos, adverte empresa e governo brasileiro sobre estado "preocupante" de outras barragens de resíduos. Certificadora esteve envolvida em catástrofe de Brumadinho.
Tragédia de Brumadinho deixou rastro de destruição e apreensões ambientaisFoto: DW/N. Pontes
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Oito barragens da Vale em Minas Gerais estão em estado "preocupante" ou "especialmente preocupante", de acordo com um estudo da certificadora alemã TÜV Süd, ao qual o semanário Der Spiegel teve acesso.
No relatório de caráter provisório de 12 páginas, revelado pela revista alemã neste sábado (30/03), a auditora alerta a Vale e as autoridades brasileiras da possibilidade de ocorrerem novos desastres como o de janeiro em Brumadinho, no qual morreram mais de 200 pessoas.
Segundo os analistas alemães, uma barragem para resíduos de mineração da empresa estaria em estado "preocupante" e outras sete, "especialmente preocupante". Todas são classificadas como de alto risco, assim como Brumadinho.
A prestadora alemã TÜV oferece serviços de inspeção e certificação de produtos, sendo conceituada no campo. No entanto, sua sucursal TÜV Süd foi acusada de envolvimento na tragédia de Brumadinho: contratados pela Vale, seus técnicos atestaram a barragem como estável em setembro de 2018, embora tendo conhecimento dos riscos da estrutura.
Após o alerta o novo alerta da TÜV Süd, a Vale realocou os moradores em risco por cinco destas represas e suspendeu as operações em outras duas, noticiou a Spiegel.
No dia 25 de janeiro, uma barragem da Vale se rompeu em Brumadinho, e um rio de lama e resíduos minerais enterrou, em questão de segundos, as instalações da mina e as casas vizinhas, deixando um saldo de 209 mortos e 97 desaparecidos, além de danos ambientais incalculáveis.
Após a tragédia, as autoridades iniciaram uma sindicância para esclarecer a responsabilidade da Vale no desastre, o segundo protagonizado pela mineradora em pouco mais de três anos. Em 2015, a ruptura de vários diques da mineira Samarco, controlada pela Vale e BHP Billiton em Mariana, MG, causou 19 mortes e provocou a maior catástrofe ambiental da história do país.
Barragem de Brumadinho aprovada pela TÜV Süd não é a primeira polêmica envolvendo as certificadoras alemãs TÜV.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Carstensen
Avalanche de lama
O rompimento da barragem em Brumadinho liberou milhões de toneladas de lama e resíduos, que mataram dezenas de pessoas, soterraram casas, carros e estradas e destruíram o meio ambiente. A TÜV Süd comunicou que realizou uma inspeção da barragem em nome da Vale em setembro de 2018.
Foto: Reuters/Washington Alves
Símbolo de qualidade e segurança
Fundada em 1866, a primeira TÜV verificava caldeiras a vapor. Até hoje, consta nos estatutos das certificadoras TÜV que elas são "independentes e neutras" e que desenvolvem "segurança e qualidade de acordo com critérios definidos". Por muito tempo, as TÜVs só tinham autorização para inspecionar carros na Alemanha. Foi assim que a marca ganhou sua reputação e respeito.
Foto: TÜV Süd
Empresas voltadas para o lucro
Não existe mais apenas uma TÜV, mas várias empresas com esse nome, que concorrem entre si. As principais são a TÜV Süd, a TÜV Nord e a TÜV Rheinland. Sob a marca consolidada pelas antigas associações surgiram grandes corporações, atuantes no exterior e voltadas ao lucro. Desde então, há cada vez mais acusações de que a segurança não é levada mais tão a sério.
Foto: picture-alliance/dpa/O. Spata
Nas plantações de palma
O óleo de palma, ou azeite de dendê, tem uma grande demanda mundial, e sua produção é muito criticada devido ao impacto negativo no meio ambiente. Há vários anos é a TÜV Rheinland que inspeciona as plantações na Ásia para verificar se elas atendem os requisitos de sustentabilidade da Roundtable on Sustainable Palm Oil (RSPO). A empresa já foi acusada de maquiar relatórios para agradar a indústria.
Foto: TÜV Rheinland/Thomas Ernsting
Problema nos implantes de silicone
Entre 1997 e 2010, a TÜV Rheinland certificou a fabricação dos implantes mamários da empresa francesa PIP. Mas, durante anos, a PIP usou um gel de silicone proibido. Os implantes propensos a rasgarem foram usados por centenas de milhares de mulheres. Em 2018, um tribunal francês a condenou a uma indenização de 3 milhões de euros.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Bebert
App seguro contra hackers?
Desde setembro de 2018, o app Vivy é usado por médicos alemães para armazenar e compartilhar diagnósticos, resultados laboratoriais e de raios-X de pacientes. O aplicativo é disponibilizado a clientes de 16 seguradoras. Ele foi testado e certificado pela TÜV Rheinland, mas logo depois que começou a ser usado, funcionários da empresa Modzero descobriram várias falhas de segurança.
Questão de confiança
A confiança dos clientes na qualidade das certificações é o maior capital das TÜVs. Na Alemanha, a expressão "certificado pela TÜV" virou sinônimo de qualidade. No Brasil, a TÜV Süd, que usa o slogan "Mais valor. Mais confiança.", é agora investigada para saber como foi possível que uma barragem certificada pela empresa rompesse.