Cerveja pré-histórica era produzida por caçadores-coletores
14 de setembro de 2018
Recipientes de pedra encontrados em sítio arqueológico em Israel eram usados para triturar e fermentar trigo ou cevada há cerca de 13 mil anos. Bebida da época era semelhante a um mingau.
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Arqueólogos encontraram evidências de que cervejas feitas a partir de cereais já eram produzidas antes da origem da agricultura e usadas em rituais, segundo um estudo da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e da Universidade de Haifa, em Israel, publicado nesta quarta-feira (12/09).
Os pesquisadores descobriram que três recipientes de pedra conhecidos como morteiros, encontrados em um sítio arqueológico de 13 mil anos, foram usados para triturar e fermentar trigo ou cevada, assim como para guardar alimentos. Os artefatos foram descobertos na caverna de Raqefet, em Israel.
A partir disso, concluíram que a fabricação de cervejas a partir de cereais já ocorria no leste do Mediterrâneo mais de cinco milênios antes do que se pensava.
A caverna de Raqefet era frequentada pelos natufianos, um grupo de caçadores-coletores semissedentários que viveram no leste do Mediterrâneo entre os períodos Paleotítico e Neolítico, após o fim da última Era do Gelo.
Os natufianos que visitavam a caverna coletavam plantas locais, armazenavam sementes maltadas e faziam cerveja como parte de rituais para honrar seus mortos, que eram enterrados em canteiros de flores perto da caverna.
"A produção de álcool e o armazenamento de alimentos estão entre as maiores inovações tecnológicas que acabaram levando ao surgimento de civilizações ao redor do mundo", disse a pesquisadora Li Liu, da Universidade de Stanford.
Cientistas especulam que a fabricação de cervejas tenha sido um dos motivos que levaram ao cultivo de cereais na região sul do Levante.
Na visão de Liu, os resultados indicam que a fabricação de álcool não era necessariamente resultado do excesso de produção agrícola, mas foi desenvolvida com propósitos ritualísticos e espirituais, em certa medida anteriores à agricultura.
O amido de trigo ou cevada provavelmente era germinado em água, drenado, amassado, aquecido e, finalmente, fermentado com levedura selvagem.
Para chegar a essas conclusões, a equipe de pesquisadores recriou na prática o processo de fabricação de cerveja dos natufianos. O resultado foi menos semelhante à cerveja de hoje em dia e mais parecido com mingau. A bebida também continha menos álcool do que as cervejas modernas.
O estudo também indica que os natufianos exploravam ao menos sete tipos de plantas associadas aos morteiros. Além de trigo ou cevada, aveia, legumes e fibras vegetais estavam em sua dieta.
Os autores acrescentaram que os restos de pão mais antigos do mundo foram recentemente descobertos em uma escavação natufiana no leste da Jordânia. Os vestígios de pão têm entre 11.600 e 14.600 anos, enquanto os de cerveja têm idade estimada entre 11.700 e 13.700 anos.
O estudo foi publicado no Journal of Archaeological Science: Reports.
Em 1516, o ducado da Baviera estabeleceu a chamada lei da pureza, que determinou que a cerveja só pode conter três ingredientes: malte de cevada, lúpulo e água. Veja como funciona a fabricação.
Foto: Bernd Weissbrod/dpa/picture alliance
Malte de cevada
O malte se forma a partir da germinação artificial do grão. Para germinar, a cevada é imersa em água por quatro a sete dias. Ao germinar, são liberadas enzimas que ajudarão a formar a maltose (açúcar de malte) no processo de maceração. Depois disso o malte é submetido à secagem. Para a cerveja de trigo, é produzido ainda o malte de trigo.
Foto: picture-alliance/dpa
Lúpulo
O lúpulo é da família das canabáceas, à qual também pertence a canabis. Ele foi adicionado à cerveja devido ao seu efeito bactericida. Assim ela se conserva por mais tempo. O lúpulo é responsável pelo amargor da cerveja. O mestre cervejeiro pode controlar o sabor por meio do tipo de lúpulo que usa e o momento em que acrescenta este ingrediente ao produto.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Woitas
Água
A qualidade da água não pode ser subestimada quando se faz cerveja. Ela é muito importante para a fermentação. Na foto, o mestre cervejeiro usa um aparelho de osmose inversa. Ao colocar água "dura" de um lado, sai tanto água "macia" quanto "superdura" do outro. Somente a água macia é apropriada para a fabricação de cerveja.
Foto: DW/F. Schmidt
Temperatura e tempo
São necessárias cerca de cinco horas até que o mosto de malte, lúpulo e água esteja pronto. Hoje em dia, todos os processos na cervejaria são controlados por computador.
Foto: DW/F. Schmidt
Microorganismos
O capital biológico mais importante de qualquer cervejaria são os microorganismos da levedura. Eles têm de ser bem cuidados e mantidos limpos e saudáveis. O levedo de cerveja é um fermento que resulta do processo de fermentação da cevada durante a produção de cerveja. Esta levedura é regularmente controlada em laboratório.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Bernhart
Três semanas
Estes tanques de fermentação têm mais de cinco metros de altura. Aqui a levedura transforma a maltose em dióxido de carbono e álcool etílico. Após esse processo, que dura quatro dias, a cerveja é resfriada por dois dias e descansa por mais duas semanas.
Foto: DW/F. Schmidt
Quase pronta
Assim é a cerveja logo após a fermentação. Nesta fase ela já tem seu sabor característico. Algumas marcas alemãs até vendem esta cerveja turva, chamada "naturtrüb".
Foto: DW/F. Schmidt
Filtragem
Primeiro acontece uma filtragem grosseira: este filtro contém minúsculos esqueletos fossilizados de algas pré-históricas, chamadas diatomáceas. Pequenas partículas são isoladas ali. Na filtragem fina, é retirado o resto de levedura na cerveja.
Foto: DW/F. Schmidt
Vários tipos
Entre os muitos tipos de cerveja alemã está a kölsch, típica de Colônia. Ela tem de ser clara. Isso está prescrito na definição de origem geográfica.
Foto: DW/F. Schmidt
Espuma é fundamental
Antes de ser engarrafada, a cerveja recebe dióxido de carbono, que havia sido previamente removido dos tanques de fermentação e liquefeito. Cervejas vendidas em garrafas recebem mais gás carbônico ( 5,2 gramas por litro) do que as em barril ( 4,6 gramas por litro) para que estas não espumem tanto na hora de servir.
Foto: DW/F. Schmidt
E a cerveja sem álcool?
A cerveja sem álcool é aquecida a 42 ºC num vácuo de um sexto da pressão ambiente. Esta temperatura não prejudica a cerveja, e a redução da pressão reduz também o ponto de ebulição do álcool, que evapora. É um fenômeno semelhante ao que acontece quando se cozinha água em grandes altitudes. Na cordilheira do Himalaia, por exemplo, a água já ferve bem abaixo dos 100 ºC.
Foto: DW/F. Schmidt
Vale a pena guardar?
As adegas das cervejarias geralmente guardam exemplares de cada produção. Isso serve para o controle de qualidade. A qualquer momento uma garrafa pode ser controlada em laboratório. A cerveja para beber deve ser armazenada em local frio e escuro e deve ser consumida em seis meses.