Cessar-fogo em Aleppo termina sem evacuação de civis
22 de outubro de 2016
Rússia decide não estender trégua unilateral na cidade síria. Segundo organizações, falta de garantias de segurança impediu que civis deixassem a zona leste, dominada pelos rebeldes. Mais de 2 mil morreram desde abril.
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Chegou ao fim neste sábado (22/10) a trégua unilateral na cidade síria de Aleppo, sem que fosse possível fazer a evacuação de civis da localidade devastada. Ao fim do cessar-fogo, a cidade voltou a ser palco de confrontos intensos entre as forças do governo e rebeldes, afirmaram organizações.
Ingy Sedky, porta-voz do Comitê Internacional da Cruz Vermelha na Síria, afirmou que a evacuação prometida não pôde ser realizada por falta de segurança na região. Segundo ela, sua equipe não conseguiu chegar à zona leste de Aleppo, que está sob comando dos rebeldes.
A ONU, que esperava poder evacuar os gravemente feridos, assim como entregar ajuda humanitária à cidade, também disse não ter recebido as garantias de segurança necessárias para prestar o socorro.
Os militares russos iniciaram um cessar-fogo unilateral de 11 horas na última quinta-feira, a fim de permitir que os civis e os combatentes rebeldes deixassem a área, prometendo-os uma saída segura. Em seguida, a trégua foi estendida por mais dois dias, mas os rebeldes se recusaram a sair.
Segundo agências de notícias internacionais, o exército sírio chegou a abrir oito corredores para que as evacuações pudessem ser feitas, mas poucas pessoas foram vistas saindo da cidade por apenas uma das passagens, enquanto as outras permaneceram desertas durante a trégua.
A imprensa estatal síria e as autoridades russas acusaram os rebeldes no leste de Aleppo de terem impedido os civis de deixarem a área, além de usá-los como "escudos humanos".
"Os terroristas estão usando o cessar-fogo em prol de seus interesses", acusou o general russo Serguei Rudskoi, quem anunciou a trégua à imprensa local no início desta semana. "Eles estão se juntando em torno de Aleppo e se preparando para mais um avanço contra bairros no oeste da cidade."
As Nações Unidas pediram que a Rússia estendesse o cessar-fogo até a noite de segunda-feira, mas Moscou não se manifestou sobre o assunto até o fim da trégua, às 19h deste sábado (horário sírio).
Aleppo não recebe ajuda humanitária desde 7 de julho, e o estoque de alimentos deve chegar ao fim ainda no final de outubro, afirmou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, na última quinta-feira.
Mais de 2 mil mortos
A parte leste da cidade síria, conquistada pelos rebeldes em 2012, está cercada pelo Exército desde meados de julho e tem enfrentado bombardeios devastadores pelo governo e por sua aliada Rússia desde o lançamento da ofensiva para retomar a cidade, em 22 de setembro.
O Observatório Sírio de Direitos Humanos informou neste sábado que pelo menos 2.114 civis morreram e cerca de 11 mil ficaram feridos nos últimos seis meses em Aleppo, período em que se intensificaram os bombardeios na cidade. Entre os mortos, 479 eram crianças, e 262, mulheres.
A maior parte das mortes ocorreu nos bairros do leste da cidade, dominado pelos rebeldes, somando um total de 1.282 pessoas. Outros 667 civis morreram nas zonas dominadas pelo regime sírio, no oeste de Aleppo, sendo que 176 eram menores de idade, e 131, mulheres.
EK/afp/dpa/efe/lusa
Amor em tempos de guerra na Síria
Apesar dos contínuos bombardeios sobre sua cidade natal, um casal de Homs recusou-se a abandonar a esperança, usando as ruínas como cenário para seu álbum de casamento. A agência AFP deu projeção mundial às imagens.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Vida e amor entre ruínas
Nada Merhi, de 18 anos, e o soldado Hassan Youssef, de 27, escolheram um pano de fundo inusitado para suas fotos de casamento: as ruínas de sua cidade natal, Homs, na Síria, destroçada por bombardeios. A ideia foi do fotógrafo Jafar Meray, com a intenção de mostrar que "a vida é mais forte do que a morte".
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
"O amor reconstrói a Síria"
Um mês depois de o casal sírio posar na cidade bombardeada, a agência de notícias francesa AFP divulgou uma série feita por um de seus fotojornalistas, documentando a iniciativa. O fotógrafo Meray postou o inusitado álbum de casamento no Facebook, sob o título "O amor reconstrói a Síria".
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Cidade dilacerada
A guerra civil na Síria já fez mais de 250 mil vítimas, a maior parte delas civis. Terceira maior cidade síria, Homs tem sofrido tremendamente com as ofensivas das forças leais ao presidente Bashar al-Assad. Ela foi uma das primeiras cidades a se opor ao governo em 2012, embora em vão. Desde então, o governo conseguiu expulsar de Homs a maioria dos combatentes rebeldes.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Destroços cinzentos, vestido branco
Em meio à antes próspera metrópole, o branco do vestido de noiva de Nada realça a destruição que circunda o jovem casal. Buracos de bala, prédios abandonados, ruínas incendiadas e estradas desertas são um lembrete constante das vidas que Homs abrigava antes da guerra civil.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Ataques continuam
Homs continua sendo alvo frequente de ataques armados. Em 26 de janeiro de 2016, 22 pessoas foram mortas e mais de cem feridas num atentado suicida a bomba no bairro de Al-Zahra. A maioria da população local é de alauítas, a seita islâmica minoritária a que também pertencem o presidente Assad e sua família. A milícia jihadista do "Estado Islâmico" (EI) reivindicou o ato terrorista.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Homs não é única vítima
Desde 30 de setembro de 2015, aviões de combate russos têm realizado ofensivas aéreas em apoio às forças de Assad. Homs não é a única cidade síria atingida: em 15 de fevereiro, um hospital perto de Murat al-Numan, a cerca de 280 quilômetros de Damasco, foi atingido por bombardeios. Ao menos nove pessoas morreram.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Pressão internacional
Numa entrevista à agência de notícias AFP, Assad afirmou que continuaria a lutar, apesar da pressão internacional crescente no sentido de um cessar-fogo. O ministro saudita do Exterior, Adel al-Jubeir, rebateu, falando a um jornal alemão: "Não vai mais haver um Bashar al-Assad no futuro. Ele não vai mais arcar com a responsabilidade pela Síria."
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Destaque na Conferência de Munique
O sofrimento contínuo dos habitantes nas áreas sitiadas da Síria foi um dos pontos centrais de debate na Conferência de Segurança de Munique, realizada de 12 a 14 de fevereiro de 2016 e dedicada à segurança. O secretário de Estado americano, John Kerry, declarou: "Em nossa opinião, a grande maioria dos ataques da Rússia foi contra grupos oposicionistas legítimos."
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Repercussão na rede social
Alguns usuários do Facebook comentaram as imagens de Jafar Meray de forma emocional. "Sinto-me como o noivo na foto", escreveu um deles. Outro desejou: "Que Deus esteja com vocês e com todos os sírios. Obrigado por todas estas fotos e por partilhá-las com o mundo." Um terceiro propôs um título alternativo: "Amor em tempos de guerra".
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Prova de que a vida continua
As fotografias de Meray se tornaram um sucesso tão grande que, além de comentá-las, seus seguidores no Facebook criaram sequências de slides com a série e a transformaram em vídeos para o YouTube. Para um usuário, o trabalho de Meray é "prova de que a vida continua, mesmo em Homs, a cidade mais devastada da Síria".