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Chávez se empenha por aliança com outsiders

Steffen Leidel (sm)28 de julho de 2006

Primeiro o presidente da Venezuela tentou se aproximar do ditador de Belarus, depois foi à Rússia comprar armas. Agora se encontra no Irã. O especialista em América Latina Wolfgang Muno analisa o que está por trás disso.

Hugo Chávez desembarca em MoscouFoto: AP

DW-WORLD: O presidente venezuelano, Hugo Chávez, se encontrou na quinta-feira (27/07) com o presidente russo, Vladimir Putin. Ambos conversaram sobre uma cooperação mais intensa no setor de armamento e petróleo. Chávez pretende comprar da Rússia 30 jatos de combate do tipo Su-30, além de 30 helicópteros; o valor do negócio é de quase 1 bilhão de dólares. Quais são os planos militares de Chávez?

Wolfgang Muno: Chávez não tem planos militares ofensivos. Este negócio faz parte da retórica antiamericana que ele vem cultivando nos últimos anos. Ele já acusou diversas vezes os EUA de estarem planejando algum ataque contra a Venezuela. Na minha visão, isso é absurdo; jamais vai acontecer uma invasão. Mas para propagar entre a população o medo de uma invasão, ele agora está comprando armas da Rússia. Há ainda um efeito secundário. Os militares são um de seus principais grupos de apoio.

Qual o poderio militar da Venezuela?

O Exército venezuelano é pequeno, mas – em comparação com outros países latino-americanos – sempre foi um dos mais bem equipados. Jamais esteve envolvido numa guerra nos últimos cem anos. Geralmente foi mobilizado dentro do próprio país, no combate à guerrilha, por exemplo. A idéia sempre foi equipar bem o Exército a fim de neutralizá-lo como agente político. Os militares sempre se deram por satisfeitos com isso e se mantiveram à parte.

Chávez já comprou kalachnicovs da Rússia e pretende adquirir a licença para construir uma fábrica desta arma russa na Venezuela. O que ele pretende fazer com tanto armamento?

Aí só dá para especular. Há anos ele está falando em formar uma espécie de milícia civil. Ele quer armar o círculo "bolivariano", que surgiu em nível local e lhe dá respaldo, a fim de poder reprimir um eventual segundo golpe [após a tentativa fracassada de 2002]. Isso com certeza não seria aprovado pelos militares. Resta esperar o que ele realmente vai fazer.

Voltando à visita a Moscou... Será que a Venezuela e a Rússia são uma aliança de futuro?

Não. Acho que o futuro da Rússia está no Ocidente, onde se encontra o mercado para suas matérias-primas. A Venezuela não passa de uma compradora, ainda que bastante solvente. Com o alto preço do petróleo, Chávez está nadando em dinheiro. E está usando isso na política externa. Há pouco tempo, a Venezuela se tornou membro do Mercosul. O país praticamente comprou seu ingresso, investindo na Argentina, no Uruguai e na Bolívia.

Há alguns dias, Chávez visitou Belarus e planejou uma "aliança estratégica" com o ditador Lukachenko. Agora se encontra no Irã. Originariamente, também pretendia visitar a Coréia do Norte. Tudo isso é só para provocar os EUA?

Chávez está tramando uma espécie de aliança mundial dos países outsiders contra os EUA. Quando Saddam Hussein ainda estava no poder, ele mantinha boas relações com o Iraque. Agora está procurando se aproximar de pessoas como Lukachenko, a fim de cultivar sua imagem antiamericana. Ele precisa desta imagem para continuar sendo considerado o estandarte de esquerda na América Latina. Chávez está tentando se tornar o que Fidel Castro foi nos anos 60.

Por trás dessa aliança dos outsiders, também haveria interesse em obter um peso maior no cenário internacional, ou seja, na ONU?

Acho que tudo isso não passa de provocação. Talvez ele também tenha a pretensão de encontrar outros aliados. A Argentina, a Bolívia e Cuba já são bons parceiros. Talvez ele esteja procurando outros no mundo. Mas obter mais peso dentro da ONU, disso ele está bem longe. Para tal, ele anda isolado demais. O que lhe permite se projetar é apenas o que ele fatura com petróleo. É com isso que ele compra seus amigos. Comprou Cuba, barateando o petróleo; em contrapartida, Cuba envia professores e médicos à Venezuela. Quando o preço do petróleo baixar, ele vai perder seus amigos.

Chávez divide as opiniões. Conta com a simpatia dos esquerdistas, mas por outros é execrado como populista de esquerda com traços ditatoriais. Onde o senhor o enquadraria?

Sem dúvida, ele é um populista de esquerda, inclusive com traços ditatoriais. Porém, é preciso avaliá-lo no contexto do desenvolvimento venezuelano, num país em que a população foi explorada e enganada pela elite durante décadas.

Será que isso vai acabar com Chávez? Pode-se dizer que ele está tendo êxitos reais no país?

Encarando apenas os fatos, não mudou muita coisa. A população continua pobre, o faturamento com o petróleo está sendo gasto com alguns projetos de prestígio, como o programa de alfabetização. Isso pode vir a surtir efeito para determinados grupos, mas não se fundamenta em nenhuma estratégia de desenvolvimento deliberada. Ele está usando os recursos do petróleo para manter alta sua popularidade e gozar do prestígio de certos projetos.

Wolfgang Muno é docente e pesquisador do Instituto de Ciências Políticas da Universidade de Mainz.
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