Chance ainda mal aproveitada
26 de dezembro de 2002O Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD) registrou no ano passado 70 mil requerimentos de jovens chineses interessados em fazer um curso superior na Alemanha, um recorde absoluto. No semestre de inverno de 2001/2002, estudavam em escolas superiores alemãs 13.500 chineses — 50% a mais do que um ano antes —, compondo o mais numeroso grupo de universitários estrangeiros no país. Acrescentem-se a eles sete mil que vêm para aprender o idioma alemão e três a quatro mil cientistas que realizam projetos de pesquisa em instituições alemãs.
Conseqüência do 11 de setembro —
Ainda alguns anos atrás, números como esses seriam inimagináveis. O filósofo alemão Jürgen Habermas, convidado a dar palestras em Pequim no ano 2000, falou na ocasião da "marcha triunfal de estudantes chineses pelas universidades americanas", referindo-se ao grande número de universitários provenientes da China que estudam nos EUA. Agora a busca de uma vaga em universidades alemãs está crescendo evidentemente.A verdade é que os EUA continuam sendo a meta predileta dos jovens chineses. E as universidades norte-americanas também têm grande interesse neles, mesmo porque as estatísticas mostram que dois terços dos chineses que vão estudar no exterior não voltam mais para a China, estabelecendo-se no país em que se formaram. São, portanto, uma ótima fonte de mão-de-obra altamente qualificada.
O maior problema é que as autoridades de imigração dos EUA se tornaram muito mais rigorosas depois dos atentados de 11 de setembro de 2001. O número de vistos concedidos a estudantes chineses caiu de 19.122 em 2001 para 17.570 neste ano. A diferença é mais grave do que parece, considerando-se que o número de interessados não pára de crescer.
Almejar uma boa formação tem tradição na China. Muitas famílias gastam tudo o que têm para garantir os estudos dos filhos. Quem pode vai estudar em outro país: as autoridades de Pequim calculam que meio milhão de chineses estudam no exterior. Uma pesquisa realizada pelo Departamento Nacional de Estatística do país revela que fazer um curso superior no exterior é o sonho de 89,5% de todos os jovens chineses.
Chance para universidades alemãs —
Foram, portanto, as circunstâncias que contribuíram para aumentar o interesse dos chineses pelos estudos na Alemanha, considerados até então por eles como prolongados demais e muito voltados para a teoria, com pouca ligação com a prática.As universidades alemãs reconhecem a chance, já que estudantes da China poderiam contribuir para preencher lacunas em setores como a Física, a Química ou a Engenharia. No entanto, enquanto universidades inglesas e australianas organizam eventos de informação na China, buscando despertar o interesse de candidatos a um estudo naqueles países, a Alemanha ainda tem feito pouco.
"As universidades alemãs não pensam nem mesmo numa apresentação decente em língua chinesa na internet", queixa-se um diplomata alemão em Pequim, citado pelo semanário Die Zeit, que dedicou um longo artigo a esse tema. A primeira tentativa concreta nesse sentido foi feita há poucos meses pelo DAAD, que realizou um seminário informativo em Pequim e outras três cidades chinesas. A questão agora é malhar o ferro enquanto está quente e aproveitar o interesse manifestado pela Alemanha.