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Chanceler alemão sonda parceiro difícil no Brasil

30 de abril de 2019

Ministro Heiko Maas visita o país num momento em que a crise na Venezuela ofusca diferenças entre Alemanha e Brasil. Permanece a questão de como lidar com o governo Bolsonaro.

Chanceler alemão Heiko Maas
Depois do Brasil, chanceler alemão Heiko Maas segue para Colômbia e MéxicoFoto: picture-alliance/dpa/F. Sommer

A coletiva de imprensa do ministro alemão do Exterior, Heiko Maas, com seu homólogo brasileiro, Ernesto Araújo, assumiu uma dimensão unilateral na manhã desta terça-feira (30/04). Não se escutou quase nenhuma pergunta sobre as relações teuto-brasileiras, em vez disso, apresentou-se uma posição comum diante dos distúrbios no país vizinho Venezuela.

Alemanha e Brasil reconhecem o autoproclamado presidente interino, Juan Guaidó. Esse é, atualmente, um dos poucos campos políticos em que os dois países concordam. "O tema das relações bilaterais passou para segundo plano", disse o cientista político teuto-brasileiro Oliver Stuenkel à Deutsche Welle.

"Mas isso não foi tão ruim, porque a relação entre a Alemanha e o Brasil não está fácil no momento. Mas quanto à Venezuela, os dois concordam, e então se pôde projetar coesão para fora. Maas provavelmente ficou muito contente com isso."

Não se sabe o que foi discutido no encontro de Heiko Maas com Araújo e o presidente Jair Bolsonaro. O ministro alemão certamente encontrou palavras claras, acredita Stuenkel. Por outro lado, a Alemanha precisa urgentemente do Brasil na questão da proteção climática. Pois, sem o gigante sul-americano, um acordo global não terá sucesso.

No entanto, Bolsonaro quer desmatar e explorar economicamente a Floresta Amazônica, em vez de protegê-la. E Araújo considera mesmo a mudança climática uma mentira marxista, propagada por organismos multilaterais como as Nações Unidas.

Para trás ficaram os tempos em que ambos os países impulsionavam conjuntamente a proteção global do clima. "É uma parceria tradicional em que um parceiro está passando por uma mudança radical", apontou Stuenkel. Agora é preciso sondar como lidar com a situação.

Não se sabe o que discutiram presidente Bolsonaro e ministro Heiko MaasFoto: picture-alliance/dpa/F.Sommer

Direitos humanos e multilateralismo

Uma tarefa difícil. Bolsonaro é abertamente contrário aos valores que Maas representou em sua turnê latino-americana: "direitos humanos e multilateralismo".

Sob esse slogan o ministro alemão visitará em seguida a Colômbia e o México, onde procura parceiros para contrabalançar o isolamento da administração americana e de governos autoritários como a China e a Rússia. A iniciativa está programada para terminar no fim de maio em Berlim, numa reunião de ministros das Relações Exteriores.

No Brasil Maas também confrontou Bolsonaro. Na segunda-feira, ele se encontrou em Salvador com o governador da Bahia, Rui Costa, do PT.

Além disso, Maas deu ali a largada para uma rede pelos direitos das mulheres. O fato quase soou como uma bofetada simbólica no rosto de Bolsonaro, que no passado muitas vezes ignorou de forma desdenhosa mulheres e minorias.

"Isso faz sentido", afirmou Stuenkel. "Não se pode confrontar Bolsonaro sem críticas simbólicas. E a Alemanha é muito influente no Brasil, e não pode simplesmente fazer business as usual. Então o aspecto simbólico é importante."

Segundo o cientista político, o governo alemão deve mostrar que apoia a sociedade civil brasileira, mesmo que os direitos dela estejam agora sendo limitados por Bolsonaro.

Porém nem todos estão de acordo com essa a diplomacia simbólica em doses homeopáticas. Maas deveria ter pronunciado palavras duras, afirmou à DW Ulrich Delius, diretor da Sociedade para Povos Ameaçados.

"Ir até Bolsonaro para ganhar seu apoio ao multilateralismo é como perguntar a Putin se ele quer se aliar a uma rede em prol do Estado de direito. O que quer a política externa da Alemanha, o que ela pensa alcançar com essa posição no Brasil?", questionou.

Bolsonaro é o homem errado para tais iniciativas, apontou Delius, pois dá cada vez menos espaço à sociedade civil brasileira. "Na verdade existe uma agenda difícil, que precisa ser tratada, ou seja, que os padrões de Estado de direito estão sendo cada vez mais debilitados por esse governo. Lá é o lugar errado para uma agenda sobre os direitos das mulheres."

Coletiva de imprensa com Maas (esq.) e Araújo foi dominada por questão da VenezuelaFoto: picture-alliance/dpa/F. Sommer

Delius também exigiu mais comprometimento das firmas da Alemanha no Brasil. Com cerca de mil empresas do país, a cidade de São Paulo é o maior polo econômico alemão em todo o mundo. "Estamos à espera de opiniões claras, as empresas devem defender os nossos valores europeus, não só em casa, mas também no exterior".

Segundo Delius, além disso, a Alemanha também gastou dinheiro dos contribuintes na proteção da Floresta Amazônica nos últimos anos, e "seria importante que Berlim assumisse uma posição clara agora".

Stuenkel, por sua vez, acredita que atualmente a diplomacia simbólica é mais eficaz do que a crítica aberta: "A visita foi um bom meio-termo. E agora é preciso decidir se isso vai resultar numa visita oficial de escalão mais alto."

Afinal de contas, contemporizou o cientista político, a chefe de governo alemã, Angela Merkel, precisa se entender com todo, portanto, "dentro do possível, no geral a visita foi bem-sucedida".

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