"Charlie Hebdo" é criticado por charge de menino sírio
15 de setembro de 2015
Semanário satírico francês publica desenhos com referência ao menino curdo Aylan Kurdi e volta a gerar controvérsia. Um leva as frases "a prova de que a Europa é cristã" e "crianças muçulmanas afundam".
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Em sua publicação mais recente, o semanário satírico francês Charlie Hebdo voltou, nesta terça-feira (15/09), a atrair críticas por suas caricaturas. Um dos desenhos mostra uma criança morta na areia em frente a uma placa de publicidade, e no outro está escrito a frase "crianças muçulmanas afundam".
As duas caricaturas foram aparentemente publicadas sob o pretexto de escancarar as falhas europeias na crise migratória e denunciar a hipocrisia e o consumismo na Europa.
Um dos desenhos mostra uma criança vestindo bermuda e camiseta deitada na praia de face para baixo – lembrando a morte do menino curdo Aylan Kurdi – ao lado de um cartaz publicitário com a imagem de um palhaço anunciando uma promoção de dois cardápios infantis pelo preço de um. O slogan diz: "Tão perto de ter conseguido..."
O segundo desenho recebeu o título de "A prova de que a Europa é cristã" e tem um indivíduo usando um longo manto caminhando até uma criança afogada. Um balão de diálogo aponta para o indivíduo com a frase "cristãos andam sobre a água". Outra seta, apontando à criança, tem as palavras "crianças muçulmanas afundam".
A última edição do semanário francês atraiu a atenção de jornais de todo o mundo. "A morte de Aylan Kurdi ridicularizada por Charlie Hebdo" comentou o Toronto Sun, do Canadá. O The Times, da Índia, escreveu: "Charlie Hebdo criticado por caricaturas da criança síria morta."
Na França, a revista L'Obs publicou comentários chamando os desenhos de "insensíveis" e "repugnantes". O diário francês de direita L'Express mencionou a reação nas redes sociais e o significante número de comentários contra o Charlie Hebdo. Já os principais jornais do país, Le Monde, Le Figaro e Liberation, não incluíram o tema em suas coberturas.
Uma porta-voz do Charlie Hebdo, contatado pela agência de notícias Reuters, disse que o semanário satírico não possui conhecimento de quaisquer queixas apresentadas.
Em janeiro, dois extremistas mataram 12 pessoas na redação de Paris do Charlie Hebdo, incluindo o editor-chefe e os principais cartunistas.
PV/rtr/dpa
O jornal satírico "Charlie Hebdo"
Semanário é conhecido por suas caricaturas e matérias sobre política, economia e sociedade. Humor mordaz se volta principalmente contra políticos e o papa, além do profeta Maomé.
Jornalismo com humor
A capa da atual edição é dedicada ao mais recente romance de Michel Houellebecq, "Soumission" (Submissão). O livro retrata a França no futuro como um país islamizado, sob o governo de um presidente muçulmano.
Foto: B. Guay/AFP/Getty Images
Controversa "biografia de Maomé"
Em janeiro de 2013, o semanário provocou polêmica internacional e despertou a ira da comunidade islâmica com o lançamento de uma edição especial que contava a história do profeta islâmico em quadrinhos de forma satírica.
Foto: Miguel Medina/AFP/Getty Images
Críticas ácidas
Em novembro de 2012, o jornal fez uma caricatura em relação aos debates na França sobre o casamento entre homossexuais. Com um desenho em alusão ao arcebispo de Paris, André Vingt-Trois, o jornal titulou "Arcebispo Vingt-Trois tem três pais".
Foto: Francois Guillot/AFP/Getty Images
Direito à liberdade de expressão
"Não se trata de provocação", disse Gérard Biard, editor do "Charlie Hebdo", em entrevista à DW em setembro de 2012, sobre os desenhos de Maomé publicados pelo semanário. Segundo ele, a publicação exerce o direito da liberdade de expressão ao publicar caricaturas do profeta, não sendo responsável por eventuais reações violentas.
Foto: imago/PanoramiC
Wolinski está entre os mortos
Entre os mortos estão o diretor de redação da publicação, Stephane Charbonnier, conhecido como Charb, e o cartunista Georges Wolinski (foto), considerado o maior nome do quadrinho francês. Ele, que nasceu na Tunísia, foi para a França com 13 anos. Na década de 1960, começou sua carreira ao fazer desenhos para o jornal satírico "Hara-Kiri".
Foto: picture-alliance/dpa
Cabu fundou o jornal "Hara-Kiri"
O cartunista Jean Cabut, conhecido como Cabu, foi outra vítima do atentado na redação do semanário. Ele era bastante popular na França e também trabalhou na televisão. Na década de 1960, ele também foi um dos fundadores do jornal satírico "Hara-Kiri".
Foto: picture-alliance/dpa
Duras críticas após charges de Maomé
O diretor do jornal, Stephane Charbonnier, mais conhecido como Charb, defendeu a liberdade de expressão após as publicações polêmicas com as charges de Maomé. Ele ficou famoso por causa da repercussão do semanário Charlie Hebdo.
Foto: picture-alliance/dpa/EPA/Y. Valat
Críticas às religiões e figuras internacionais
O semanário é conhecido por criticar religiões, o presidente da França e figuras políticas internacionais. Na capa, o jornal estampa uma caricatura de Bin Laden com o título "Bin Laden ameaça a França" e um personagem falando "Mais um policial disfarçado".
Crítica ácida às religiões
Em suas edições semanais, o jornal critica não só a religião islâmica, mas também católicos e judeus. Várias capas da publicação já publicaram caricaturas sobre o pedofilismo na Igreja Católica. Nesta capa, que ficou famosa, um judeu ortodoxo empurra um muçulmano numa cadeira de rodas, numa alusão ao filme "Os intocáveis".