Edição alemã do semanário satírico recria polêmica capa da revista, mas, em vez de Trump e Estátua da Liberdade, usa Merkel e seu adversário na campanha eleitoral, Martin Schulz.
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Com uma capa inspirada em outra que causou alvoroço na Alemanha, a versão alemã do semanário satírico francês Charlie Hebdo publicou nesta quinta-feira (09/02) o que chamou de uma mensagem de solidariedade à revista alemã Der Spiegel, que sofreu críticas por uma polêmica ilustração de capa com o presidente dos EUA, Donald Trump.
A atual capa da Charlie Hebdo mostra um desenho da chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, segurando com uma mão uma faca ensanguentada e, com a outra, a cabeça de Martin Schulz, seu adversário do Partido Social-Democrata (SPD) na próxima eleição. Ao lado, a manchete "Leitores da Spiegel estão fora de controle".
De acordo com a editora-chefe da edição alemã, que por questões de segurança usa o pseudônimo Minka Schneider, apoiar-se na polêmica ilustração foi um ato de respeito aos profissionais da Spiegel. "O que mais nos chocou foi a recepção negativa. Achamos a capa muito boa", disse.
Em editorial, o Charlie Hebdo afirma saber muito bem o que é ser acusado de violar as regras do bom jornalismo. "Assim, estamos agora no mesmo barco, pois, no centro da polêmica, tanto no caso de vocês como no nosso, está o debate sobre liberdade de opinião e como ela é usada. Ou não", destacou o semanário.
No sábado passado, a Spiegel foi alvo de críticas depois de publicar uma ilustração de capa que retrata Trump decapitando a Estátua da Liberdade, ao lado do slogan America first (Os EUA em primeiro lugar).
O editor-chefe da revista, Klaus Brinkbäumer, defendeu a capa e se disse surpreso com o impacto da ilustração. "É sobre democracia, sobre liberdade, liberdade de imprensa, liberdade da Justiça. Tudo isso está gravemente ameaçado", afirmou. "Então estamos defendendo a democracia. Estes são tempos difíceis? Sim, são."
A versão alemã da Charlie Hebdo foi lançada em novembro e é a primeira edição em idioma estrangeiro do semanário satírico francês, cuja redação sofreu um atentado, em janeiro de 2015, que deixou 17 mortos.
CN/dpa/dw
"Spiegel": 70 anos de críticas e jornalismo
A revista acompanha a República Federal da Alemanha desde a criação do país. Seu jornalismo investigativo, apontando para escândalos e maracutaias na política e na sociedade, conquistou respeito também fora da Alemanha.
Foto: picture alliance/dpa/D.Kalker
A primeira edição
Ao ser lançada, em 4 de janeiro de 1947, a revista "Der Spiegel" custava 1 Reichsmark. Na capa, o austríaco Friedrich Kleinwächter, que negociava em Washington a soberania política e econômica da Áustria no pós-Guerra.
Foto: Der Spiegel
O editor
O fundador e editor da revista "Der Spiegel", Rudolf Augstein, foi o jornalista mais influente da Alemanha: derrubou políticos e impulsionou a liberdade da imprensa como ninguém. Aos 23 anos, fundou o semanário "Der Spiegel", do qual foi redator-chefe durante décadas e editor até a morte. Impôs à publicação desde o início um rumo definido ("somos um órgão liberal de esquerda").
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Lema: Não se intimidar
Em 1962, Augstein e sua publicação foram pivôs de uma grande crise na então ainda jovem República Federal da Alemanha. Depois de publicar um artigo crítico sobre a política de defesa do país e a Otan, ele sofreu pressão do então ministro alemão da Defesa, Franz-Josef Strauss. Mas a revista resistiu, e o ministro acabou caindo.
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Sob pressão
O escândalo durou semanas. Vários jornalistas, inclusive Augstein, foram presos sob a acusação de traição à pátria. A Promotoria Pública ocupou as redações por várias semanas. Augstein ficaria na prisão por mais de cem dias. Ao fim, a democracia saiu fortalecida no Estado que se constituíra 13 anos antes. E a Alemanha ganhou um novo conceito de liberdade de imprensa.
Foto: picture-alliance/dpa
Nos tempos da RAF
Em 1977, a Alemanha enfrentou uma de suas piores crises. Membros da organização terrorista Fração do Exército Vermelho (RAF, da sigla em alemão) sequestraram o então presidente da Confederação das Associações de Empregadores da Alemanha, Hans-Martin Schleyer, que é morto após algumas semanas. A revista mancheteia: "Guerra de assassinos contra o Estado".
Foto: Der Spiegel
A aura do poder
Do ponto de vista político, Augstein tinha uma orientação social-democrata. Ele manteve uma estreita relação com o futuro chanceler federal Willy Brandt (à direita), que conhecera em 1948. Em trocas regulares de correspondência, eles manifestavam seus pontos de vista. Na foto, um encontro em 1972.
Foto: Imago
Modernidade em laranja
Não só de redações vive uma revista. Legendária é a cantina, concebida pelo arquiteto dinamarquês Verner Panton em 1969. Sob o ponto de vista estético, ela foi algo revolucionário, pois representou a chegada da modernidade. Hoje, 80 metros quadrados da cantina decorada com elementos em cor laranja fazem parte de um museu em Hamburgo.
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Crescimento
Com o passar do tempo, a "Der Spiegel" se tornou a principal e mais vendida revista na Alemanha. O êxito se reflete na nova sede da revista, que após 40 anos se mudou para um prédio novo (centro) no bairro HafenCity de Hamburgo. Hoje em dia, assim como outros veículos de comunicação impressos, a "Der Spiegel" luta contra a perda de leitores para a internet.
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Manchetes e ilustrações da capa
As fotos de capa e reportagens de capa do semanário costumam se destacar por beleza, ousadia ou provocação. Como nesta capa, durante a guerra em Kosovo: "Guerra contra os assassinatos".
Foto: Der Spiegel
A raiva dos outros
Os repórteres investigativos da revista estão entre os melhores. O legado de Augstein, editor até morrer, em 2002, é o jornalismo mordaz. Isso se reflete também nos xingamentos e críticas à revista, como espelha a capa da edição de aniversário, com frases dos últimos cinco chefes de governo alemães. Em destaque, "Dieses Scheissblatt" (Este jornal de merda), de Willy Brandt.